Há muitos especialistas em baterias recarregáveis a investir rios de dinheiro em soluções sólidas, potencialmente mais eficientes e com maior densidade energética, além de mais seguras e mais baratas, com a vantagem de recarregar mais rapidamente, por aceitarem potências superiores. Espera-se que este tipo de acumuladores consiga ultrapassar os incêndios resultantes da fuga de electrólito, uma vez que trocam o estado desde elemento de líquido por sólido, e daí a denominação.

Um dos fabricantes mais respeitados e empenhado nas baterias sólidas é a QuantumScape, cujo peso no mercado tem a ver com o facto de os seus argumentos terem conseguido atrair investidores como Bill Gates, Volkswagen AG, BlackRock, Capricorn e Vanguard, com estas três últimas empresas de investimentos a serem referências no mercado. Ao contrário de outras empresas deste sector, que já anunciaram ter conseguido fabricar baterias sólidas, apesar destas nunca terem avançado para a produção em série, esta companhia – que nasceu em 2010, a partir da Universidade de Stanford – torna público o estado da sua investigação e do desenvolvimento da tecnologia em que trabalha, revelando os objectivos atingidos.

Com o anúncio dos resultados do 3.º trimestre de 2023, obrigatórios para empresas cotadas em bolsa, a QuantumScape revelou igualmente as primeiras imagens de um protótipo da célula QSE-5, a sua unidade mais recente, afirmando que os testes realizados com a colaboração de um construtor de automóveis (que não identificou, mas que tudo indica que será a Volkswagen, que é simultaneamente um dos seus maiores investidores) confirmaram “um desempenho acima das expectativas”. Sendo que esta empresa trabalhou nos últimos 10 anos no desenvolvimento de células escaláveis, muito densas energeticamente, graças à tecnologia sólida e, para já, em paridade de preços com as melhores células de iões de lítio que estão no mercado.

O primeiro grande salto qualitativo da QuantumScape teve lugar em 2020 com a introdução de separadores cerâmicos, o que conduziu à primeira célula de apenas uma camada, que depois evoluiu para 10 camadas e, posteriormente, 16 camadas. Dois anos mais tarde, no 2.º trimestre de 2022, a empresa voltou a expandir o número de camadas para 24, incrementando a capacidade e aproximando-se das características de que necessita para uma célula tecnologicamente viável.

No final de 2022, as primeiras células protótipos com 24 camadas foram produzidas em pequena série e instaladas em packs de baterias entregues para testes independentes ao construtor de automóveis com quem trabalha nesta fase de desenvolvimento. No segundo trimestre de 2023, foram enviadas para o fabricante de automóveis com quem colabora as novas QSE-5, com células de 5 Ah (e daí o QSE-5). E foram os resultados destes ensaios em condições reais de utilização que permitiram à QuantumScape (e ao construtor) concluir que as QSE-5 já estão acima das expectativas, presumivelmente no que interessa, ou seja, na densidade energética (mais autonomia), na rapidez de carga e nos custos.

A QuantumScape compara as suas QSE-5, capazes de fornecer cerca de 5 Ah, com as 2170 que muitos concorrentes utilizam, como a Tesla, apesar desta última agora ter passado a ter disponíveis as novas 4680, de maiores dimensões e com ligações distintas, o que lhes permite recarregar com potências superiores, sem provocar aquecimentos que comprometam a segurança ou a viabilidade dos acumuladores. De acordo com a QuantumScape, após 1000 ciclos (de carga/descarga, o que deverá permitir percorrer entre 400.000 e 600.000 km), a capacidade continuava nos 95%. Mas a QuantumScape continua a afirmar que a célula de testes com uma só camada já atinge 1500 a 2000 ciclos, o que eleva a longevidade da bateria para o dobro, sem grandes perdas.

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