Presidentes dos principais bancos portugueses defenderam esta quinta-feira que é importante a banca financiar as empresas de setores mais poluentes na transição energética, num momento em que a nível global o setor é criticado por contribuir para a crise climática.

No Fórum Banca, organizado em Lisboa pelo Jornal Económico, houve esta quinta-feira um debate com presidentes dos principais bancos sobre financiamento bancário sustentável, que promova uma economia menos destrutiva para o ambiente.

Segundo o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, cumprir esse objetivo não significa financiar empresas “verdes” (menos poluentes) e não financiar empresas “castanhas” (mais poluentes), pois estas precisam de financiamento precisamente para fazerem a transição energética.

“Não quer dizer que não se vai financiar empresas “castanhas”, é necessário haver investimento e financiamento forte dos planos de transição dessas empresas”, disse Paulo Macedo, acrescentando que essas empresas precisam de empréstimos quer para investimentos mais simples, como renovação da frota automóvel ou painéis solares, quer para grandes investimentos de descarbonização da sua atividade.

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O ex-ministro da Saúde (2011-2015, no governo PSD/CDS-PP) disse que há setores que os bancos não estão tão dispostos a financiar, como indústria do tabaco, mas que em geral a banca deve participar no financiamento mesmo a empresas poluentes para reduzir o seu impacto ambiental, exemplificando que há cimenteiras que “têm planos muito ambiciosos de redução da pegada de carbono”.

Segundo o gestor, a sustentabilidade ambiental das empresas é inexorável por questões regulatórias e por exigências da comunidade, mas também por questões de negócio, pois “têm de ser mais sustentáveis para crescerem”.

Bancos defendem alterações fiscais às empresas para incentivar a transição climática

Para o presidente do BCP, Miguel Maya, a transição energética é uma boa oportunidade para a “banca mostrar que cria valor para economia e a sociedade”, depois de anos de perda de reputação, e que há subsetores que ficam de fora e empresas que só serão financiadas se comprovarem que cumprem os objetivos de redução do impacto ambiental.

Ainda assim, Maya defendeu que as regras feitas pelos reguladores e supervisores devem ser cuidadosas e adaptadas a cada contexto ou há risco de esse financiamento passar para o “shadowbanking” (sistema bancário “sombra”, paralelo à banca tradicional, como fundos de investimento), muito mais difícil de regular.

No âmbito do combate às alterações climáticas tem sido muito falada a necessidade de o setor bancário deixar de financiar projetos que contribuem para a crise climática, caso de projetos de extração de combustíveis fósseis, mas também de indústria pesada e desflorestação.

Segundo o relatório “Banking on Climate Chaos”, elaborado por várias organizações ambientalistas mundiais, desde o Acordo de Paris de 2016 até 2023, os 60 maiores bancos do mundo já financiaram com 5,0 biliões de euros a indústria de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), sendo os principais financiadores os bancos norte-americanos (o primeiro é o JP Morgan Chase).

Há duas semanas, a organização ambientalista neerlandesa “Milieudefensie” anunciou que vai processar o principal banco do país, o ING, por apoiar empresas poluidoras. A associação já ganhou em 2021 um processo que considerou histórico contra a multinacional petrolífera Shell.

No final de 2022, o banco britânico HSBC anunciou que iria deixar de financiar novos projetos de petróleo e gás e em janeiro de 2023 também o dinamarquês Danske Bank (o maior banco da Dinamarca) anunciou o mesmo.

Mais recentemente, no fim de 2023, foi a vez de o francês Crédit Agricole se comprometer a não financiar novos projetos de extração de combustíveis fósseis e a triplicar o financiamento a energias renováveis em França até 2030.

Uma investigação do jornal Le Monde sobre “bombas de carbono”, ou locais de extração de petróleo, gás e carvão que são super emissores de CO2, classificou o Crédit Agricole em sétimo lugar entre os bancos que dão apoio indireto significativo a este tipo de projetos. O jornal noticiou que muito raramente financiam diretamente projetos de extração de combustíveis fósseis, preferindo, em vez disso, “conceder empréstimos às empresas de extração”