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Com os irmãos e os pais no Reino Unido, um jovem palestiniano de 18 anos viu-se completamente sozinho, em Gaza, desde o dia do ataque do Hamas a Israel a 7 de outubro. Já foi obrigado a mudar várias vezes de cidade, já viveu como sem-abrigo e agora vive numa casa que pode ser bombardeada a qualquer momento. Só quer ir para perto dos pais e irmãos que, por seu turno, vivem angustiados no Reino Unido porque ele corre risco de vida, face aos ataques contínuos de Israel ao território palestiniano, em retaliação à ação do Hamas que há quatro meses mantém mais de uma centena de israelitas reféns. “Cada dia que passa aumenta a probabilidade de o matarem”, diz um dos irmãos ao The Guardian.

Mas o jovem não conseguiu, até à data, autorização para entrar no Reino Unido, onde tem dois irmãos e os pais que tinham ido visitar os filhos —  um com uma bolsa de estudo que recentemente conseguiu um visto de trabalho e um outro que é astrofísico de nacionalidade britânica — quando a guerra estalou entre Israel e o Hamas. O jovem só não viajou com os pais porque ia começar as aulas na universidade de Gaza e desde 7 de outubro que tenta, em vão, ir ter com a família.

Agora, a advogada do adolescente apresentou um recurso contra o Ministério da Administração Interna britânico e o Foreign, Commonwealth and Development Office (FCDO, o congénere do extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras português), após o governo se ter recusado a autorizá-lo a viajar para o Reino Unido.

O jovem, segundo o The Guardian, encontra-se atualmente em Gaza, a viver com familiares, numa “casa sujeita a fortes bombardeamentos”. Em dezembro, o jovem fez um pedido urgente ao Ministério da Administração Interna e FCDO, para viajar para junto dos pais, com base no artigo 8.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, assente no direito à vida familiar.

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O Ministério, contudo, indeferiu o pedido, alegando que o palestiniano não tinha apresentado os “dados biométricos num centro de pedido de vistos (VAC) em Gaza, nem atravessado a fronteira para chegar a um VAC no Egito”. Ora, todos esses centros estavam e continuam fechados na Faixa de Gaza e não é possível atravessar a fronteira com o Egito.

“A situação é extremamente grave”, disse o irmão mais velho ao jornal britânico. “É uma bomba-relógio. Ele pode ser morto a qualquer momento.

O custo para os meus pais é indescritível”, acrescentou o irmão, dizendo que a mãe tem Parkinson. “Os tremores pioraram e estão a alastrar a outras partes do corpo. A ansiedade está literalmente a matar a minha mãe, enquanto o meu irmão está sozinho, desesperado e abandonado.”

O irmão do jovem contactou o FCDO para o incluir na lista britânica de cidadãos autorizados a sair de Gaza, mas este pedido também foi recusado, com o argumento de que ele não preenchia os critérios,”uma vez que não tem um visto do Reino Unido com duração de seis meses ou mais, nem um cônjuge ou filho menor de 18 anos a viver no Reino Unido”.

“Porque é que as burocracias – porque é que estes pormenores técnicos – estão a ser utilizadas como desculpa para não ajudar pessoas vulneráveis como o meu irmão, que tem pais vulneráveis no Reino Unido?”, questionou o irmão.

“Quando este governo quer gerir uma situação, tem formas de usar o seu poder discricionário de uma forma corajosa. Em vez disso, estão apenas a colocar paus na roda para que não possamos avançar“, criticou ainda.

Esta quarta-feira, a advogada do jovem no Reino Unido, Roopa Tanna, vai, de acordo com o mesmo jornal, defender que “ele já tinha apresentado pedidos de autorização de entrada para visitar os irmãos no Reino Unido”, tendo fornecido os mesmos dados agora requeridos em agosto de 2022.

O Ministério tem então o poder de considerar o pedido do jovem sem os dados. Se isso acontecer, o requerente pode fornecer os dados num centro no Egito, antes de viajar para o Reino Unido. Outra opção é o FCDO dar os seus detalhes às autoridades israelitas e egípcias, para que ele seja incluindo na lista britânica de cidadãos autorizados a sair de Gaza.

“A sua vida do meu cliente está em risco e os seus pais receiam perder o filho para sempre se este assunto não for rapidamente resolvido”, diz a advogada. “Ele tem um caso muito forte para obter autorização de entrada de acordo com o direito à vida familiar e com as regras de imigração”, sustenta Roopa Tanna, que faz parte de uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas sem meios para pagar a um advogado.