Luís Montenegro e André Ventura tiveram o debate mais longo, mas recusaram-se a responder diretamente sobre o que fariam em casos de governos minoritários de PS ou PSD com maioria de direita. O líder do PSD recusou-se a dizer se viabiliza um governo de minoria do PS sem maioria de esquerda (o que em coerência com o que diz seria o mais lógico) e o líder do Chega recusou-se a dizer se viabiliza um Governo minoritário do PSD sem negociações com o Chega (o que também seria coerente com o que diz). Ao longo dos 40 minutos, na RTP, Montenegro chegou a pedir maioria absoluta e Ventura acusou-o de arrogância.

Sobre os cenários pós-eleitorais, o líder da AD fugiu por diversas vezes à resposta direta sobre o que faria caso o PS vencesse com maioria de direita. Montenegro diz que não trabalha nesse cenário e até que a AD “está a trabalhar para ter maioria absoluta“, acusando o líder do Chega de recusar esta ideia porque “vive de sondagens”. Porém, de forma intecional, o líder da AD só respondeu indiretamente à questão: garantiu que só governa “se vencer eleições” e que não fará “qualquer acordo com o Chega”. Ou seja: se não vencer vai para casa, se vencer sem maioria absoluta governa com “maioria relativa”. É a solução “lince”, a de Bolieiro nos Açores.

O que Luís Montenegro não quer é mesmo nada com o Chega. O líder do PSD dá até três razões para recusar André Ventura: ser um partido com “opiniões racistas e populistas“; ter uma “linguagem, como chamar prostituta ao PSD, que é o grau zero da política”; e a “irresponsabilidade do Chega, com um programa eleitoral que custa 25,5 mil milhões de euros”. Ventura gritou de imediato que “não é verdade”.

Já Ventura diz que esta opção significa o PSD “saltar para o colo do PS”, chamando a Luís Montenegro “o idiota útil da esquerda”. O líder do Chega avisou ainda Montenegro que a “arrogância em política (….) normalmente corre mal” . Mas também se recusou a dizer se vota ao lado do PS para não permitir um governo de Montenegro de governar e ficou-se pela convicção de que o líder do PSD acabará por ter de conversar com ele. E dá uma garantia: “O Chega está como sempre esteve: disponível para conversar.”

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Um fala de irresponsabilidade, outro de traição

Quando o debate evoluiu para os protestos nas polícias, o líder do PSD foi confrontado com o facto de ter dito que espera que não haja forças extremistas a instigar as forças de segurança. E assumiu que estava a falar do partido de Ventura: “Há uma instrumentalização das forças de segurança no discurso do Chega.” A partir daqui tentou provar a tese da irresponsabilidade de Ventura que é financeira e política.

Quanto à “irresponsabilidade financeira”, Montenegro repetiu que o programa do Chega “custa 25.525 milhões de euros” e disse que “conhece melhor as contas de André Ventura do que André Ventura” . Mais à frente, acabariam por discutir o valor das pensões, com Luís Montenegro a acusar a proposta do Chega de ser “irrealista” por custar 9 mil milhões — ao que Ventura respondeu que pelo menos a dele não ficaria no papel.

Montenegro acusaria ainda o líder do Chega de “irresponsabilidade programática de conteúdo político”, quando “Ventura propõe que as forças de segurança tenham filiação partidária e direito à greve”. Estas medidas, acusa, é querer “colocar os partidos nas esquadras” e “no caso da greve, coloca em causa a autoridade das forças de segurança, que ainda piora”. E conclui: “É inaceitável”

André Ventura responderia que as forças de “sabem da traição que o PSD lhes fez quando disse que não se comprometia” a equiparar o subsídio da PJ às restantes forças de segurança”. “Espezinhou estes homens”, acusou Ventura.  Confrontado pelo moderador com os problemas que implicariam uma greve nas forças de segurança, o líder do Chega explicou que no caso de as forças poderem fazer greve esta “tem de estar regulamentada e há serviços mínimos”

O André do PSD e o Luís do centrão

Quando Ventura acusava os governos do PSD de ter espezinhado as forças de segurança, Luís Montenegro lembrou o passado do líder do Chega para o colar aos sociais-democratas. “Os nossos governos”, atirou o líder da AD. Que acrescentou: “Era quando o André Ventura andava de bandeirinha a defender-nos [PSD]”. Ventura respondeu que não era, como Montenegro, o líder parlamentar. O atual líder do PSD aproveitou a deixa para contra-atacar: “Eu era líder parlamentar e André Ventura achava que devia ser líder do partido.” O líder do Chega contestou:  “Não, não me lembro disso. Se alguma vez achasse isso estaria meio confundido.”

Já André Ventura esforçou-se para colar Montenegro ao PS. O líder do Chega diz que o PS é o “principal adversário”, mas acrescenta que os “adversários do sistema são os dois partidos que há 50 anos representam o mesmo sistema que nos tem inundado de corrupção, de tachos, de bandidos à solta, de descida de pensões e salários.” E, para que ficasse claro, repetiu o nome do líder do PSD juntando-o ao líder do PS: “Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos são o rosto de um sistema que temos de combater”.

Montenegro reiterou que “o maior adversário do PSD e único destas eleições é o PS”. E levou resposta de Ventura, que retorquiu novamente: “A arrogância não lhe fica bem”. Mas o líder do PSD insistiu para dizer que “o PSD é que é o adversário do Chega”. E fez mesmo um apelo “olhos nos olhos” aos portugueses para que ponderem — incluindo “quem já votou ou está a pensar votar no Chega” — para não “dispersarem o voto”. É o apelo ao voto útil e um piscar de olho aos indecisos.

O diálogo mais revelador

André Ventura — “Os seus governos e os governos do PS espezinharam estes homens, humilharam-nos…

Luís Montenegro — “Os nossos também? Era quando o André Ventura andava de bandeirinha a defender-nos.”

André Ventura — Mas o Luís Montenegro é que era líder parlamentar, não era eu e foi responsável por muitos dos direitos tirados às forças de segurança.

Luís Montenegro — “Eu era líder parlamentar e André Ventura achava que devia ser líder do partido. Lembra-se?”

André Ventura — “Não, não me lembro disso. Se alguma vez achasse isso estaria meio confundido.”

Luís Montenegro — “Lembra-se, lembra-se.”