O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) criticou, esta quinta-feira, a falta de investimento em recursos humanos na Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve, sublinhando que os seus profissionais traçaram um retrato “muito pessimista” da atual situação.

“Aquilo que a OM constata, infelizmente, é que não tem existido o investimento adequado, não só em instalações, não só em equipamentos, mas sobretudo em recursos humanos. Não foram criadas, ao longo dos anos, medidas específicas para a região do Algarve fazer face à dificuldade de recursos humanos”, disse Carlos Cortes.

O dirigente falava aos jornalistas no hospital de Faro, após reuniões com o conselho de administração da ULS do Algarve e com médicos e uma passagem por vários serviços, no âmbito do primeiro de dois dias de visita àquela unidade local de saúde.

“O retrato que foi traçado [pelos médicos] é muito pessimista, é um retrato de grande preocupação”, indicou o bastonário sobre a “enorme dificuldade de captação de médicos” para a unidade em “especialidades fundamentais da resposta hospitalar”, nomeadamente, Medicina Interna, Cirurgia, Ginecologia Obstetrícia, Pediatria e Cardiologia.

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Apesar de esse retrato não ter sido “muito diferente” do que já era conhecido no Algarve, os médicos “expressaram a sua preocupação” por não poderem dar a resposta “eficiente, adequada e eficaz” de que a população, “a mais de 300 quilómetros dos grandes centros de referência”, necessita.

“Para isso, o Ministério da Saúde tem de deixar de ignorar os problemas do Algarve, tem de olhar muito bem para aquilo que está a acontecer no Algarve”, declarou Carlos Cortes.

O Algarve não é a única região do país com falta de médicos, ressalvou, mas tem “especificidades, tanto na área hospitalar como na área dos cuidados de saúde primários”, que, refere, “mereciam ter uma resposta positiva e adequada da tutela”.

Para fixá-los na região “é preciso, em primeiro lugar, dar condições de trabalho aos médicos”, observou o bastonário da Ordem dos Médicos, depois de ter ouvido queixas de profissionais de que “nem sequer equipas mínimas tinham para desenvolver a sua atividade”.

“Aquilo que nós queremos do Serviço Nacional de Saúde [SNS], não é que seja um serviço de segunda, a obrigar os profissionais de saúde a manterem-se em condições que não são condições adequadas. Aquilo que eu quero para o SNS — eu defendo o SNS —, é que tenha capacidade de atração, que tenha condições para captar mais médicos. Aí reside a solução”, frisou.

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A OM está a iniciar no Algarve um conjunto de visitas às novas ULS, criadas em 1 de janeiro, integrando hospitais e centros de saúde de Portugal continental sob uma única gestão.

Na sexta-feira, o bastonário da Ordem dos Médicos visita os hospitais de Portimão e de Lagos, onde se reunirá com os respetivos médicos.

Após a visita, a OM vai elaborar “um relatório detalhado”, que será remetido ao conselho de administração da ULS do Algarve, ao Ministério da Saúde e à direção executiva da SNS.

“Aquilo que a OM está a fazer aqui é ajudar, é pressionar quem tem um papel de responsabilidade nesta matéria. E quem tem responsabilidade, obviamente que é o Ministério da Saúde”, concluiu Carlos Cortes.