Pedro Passos Coelho entrou na campanha da Aliança Democrática… e do Chega. Foi enquanto se dirigia para um comício em Sever do Vouga, numa estrada cheia de curvas e contra-curvas, que André Ventura assistiu à aparição do ex-primeiro-ministro num comício da AD. E foi exatamente em Aveiro — o distrito de onde são naturais Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro — que aproveitou para um novo ataque conjunto aos adversários de PS e PSD, mas principalmente para privilegiar os elogios ao “amigo Passos Coelho”.

“Queria agradecer daqui, deste comício, ao meu amigo Pedro Passos Coelho por ter conseguido em poucos minutos explicado a Luís Montenegro tudo o que eu ainda não consegui explicar em dois anos de liderança”, disse perante os mais de 300 apoiantes que se reuniram numa sala de eventos em Sever do Vouga. Aos olhos do líder do Chega, o que Passos fez foi um “bom serviço à democracia”, que resumiu em poucas palavras: “Acho que Pedro Passos Coelho fez bem em ter vindo para dizer à direita e aqueles que se dizem de direita que o caminho não é por aqui. Basicamente o que Pedro Passos Coelho disse foi ‘ponham os olhos no Chega’.”

Pouco antes, aos jornalistas, tinha sublinhado que “em 20 minutos Passos Coelho explicou a Montenegro como é que há dois anos devia fazer no PSD”, nomeadamente ao levar para o debate temas como a imigração, a ideologia de género e até a estabilidade governativa. “O que Passos Coelho disse é o óbvio, que à direita cabe dar estabilidade e Montenegro parece não perceber isso. Se calhar Passos Coelho ainda tem de ir no último dia”, reiterou, ainda a tempo de deixar um desafio ao líder da AD: “Luís Montenegro, se me estiveres a ouvir chama Passos Coelho mais vezes para ele te explicar como é que deves fazer.”

Apesar dos rasgados elogios, André Ventura recusou dizer que Passos Coelho é o seu ídolo político, deixando claro que o único ídolo que tem é Deus e recusando também dizer que esteja a aguardar por um regresso do ex-líder do PSD caso Montenegro fique em segundo e não governe, tal como já prometeu. Antes do fim do tema Passos, Ventura ainda sonhou: “Desconfio que até ao fim desta campanha, deste ano ou da legislatura acho que Pedro Passos Coelho ainda se muda para o Chega.”

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Também no comício da noite, o segundo do dia, André Ventura voltou a repetir que PS e PSD são “iguais” e que, no distrito de Aveiro, de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, está a prova de que “tudo falhou”. Falou do número de desempregados e do aumento dos pedidos de ajuda para quem não conseguiu pagar casa para concluir: “Se nunca conseguiram resolver os problemas do distrito como é que vão resolver os problemas do país?”

PS e PSD são a mesma coisa, o mesmo insucesso, as mesmas políticas, a mesma corrupção, os mesmos lugares, as mesmas soluções”, sublinhou, antes de partir para alguns dos temas que tem levado aos apoiantes que se reúnem em comícios: emigração, imigração forças de segurança ou justiça.

Realçou que Portugal é um país que “trata melhor os refugiados do que os seus polícias” e atirou que “neste país compensa ser-se bandido”. “Vi aí uma montagem de um outdoor que estava mais acertado [do que o do PS: Pedro Nuno Santos] diz ‘Portugal Inteiro’ e alguém acrescentou ‘vou gamar Portugal Inteiro‘”, disse, frisando que “devia ser esse o lema do PS.

Ventura regressou mais uma vez ao tema da subsidiodependência para realçar que não se preocupa com eleições, mas com as “futuras gerações”, argumentando que o país “além de sustentar o sistema político, as organizações e organismos que não servem para nada, ainda está a sustentar quem não quer fazer nada”. Como tal, assegura que só o Chega é uma “marreta para destruir o vício” de PS e PSD e alertou para que “não se passe de um cartão rosa para um cartão laranja: “Não esqueçam esta mensagem importantíssima: PS e PSD são exatamente a mesma coisa.”

Ventura combate “país de esquizofrénicos e com Alzheimer”

Foi para estar com poucas dezenas de militantes numa sala de um hotel em Aveiro que André Ventura faltou ao debate das rádios, o último com todos os partidos antes das eleições legislativas. Focado no ataque ao PS e PSD, o líder do Chega reconheceu que os partidos em causa estão “melhor posicionados” para vencer as eleições, mas não deixou de garantir que só o partido que lidera pode governar para as “pessoas comuns”.

Mais uma vez apostou em alinhar o discurso para uma narrativa que tem vindo a construir ao longo dos últimos dias: é possível travar a bipartidarização. Para tal, continuou a disparar para tudo e todos e acusou os adversários de quererem alimentar a ideia de que o Chega é uma “ameaça artificial” para poderem continuar a “perpetuar-se no poder”. E usou o exemplo dos Açores para comprovar que, quando é preciso, socialistas e sociais-democratas se juntam para “tachos e distribuição de negócios” porque são “a mesma massa e foram feitos na mesma escola”.

“Fica claro que Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro são a mesma coisa”, atirou, frisando que PS e PSD andam a discutir com base no “eu fiz menos mal do que tu” quando a discussão devia ser “quem tem melhor propostas” e “quem é o menos miserável e o menos incompetente”. André Ventura acusou ainda os adversários de viverem numa “esquizofrenia e hipocrisia” e de serem os responsáveis pelo estado em que está o país, recordando que Pedro Nuno Santos foi ministro e Luís Montenegro líder parlamentar do PSD no último governo do PSD/CDS. E antecipou que se o Chega for governo “tudo será diferente” porque passará a haver uma governação para as “pessoas normais” e não “um país à volta de elites”.

“Este é o primeiro-ministro que quero ser. Não quero governar para banca, para as empresas de seguro, para agências internacionais, para a ONU ou para a UE, quero governar para os portugueses comuns”, prometeu André Ventura, antes de mais críticas à esquerda e a Pedro Nuno Santos, que diz ser o “homem que menos acerta na história” e recordando “trapalhadas” na TAP e no caso do aeroporto.

“Quando vejo 4% no Bloco, 3% no PCP ou 25% no PS pergunto-me se seremos um país de esquizofrénicos em que permanentemente nos estão a bater e não vemos a realidade ou seremos mesmo um país de Alzheimer que se esquece com facilidade do que aconteceu e que país se degradou?”, questionou, culpando o PS e o PSD por serem os responsáveis por jovens que emigraram, por professores que não recuperaram tempo de serviço, por “pensionistas a perder poder de compra, cidades mais inseguras ou imigração descontrolada”.

Após as críticas a Pedro Nuno Santos, a Luís Montenegro, ao Bloco de Esquerda e ao PCP, houve ainda tempo para André Ventura reagir à notícia, avançada pela SIC, de que António Costa voltou a estudar. No comício em Aveiro, onde optou por não falar aos jornalistas, aproveitou para comparar o primeiro-ministro a José Sócrates. “Ouvi dizer que António Costa ia estudar”, começou por dizer, referindo que se lembra de “um outro primeiro-ministro que quando saiu [do cargo] foi estudar”, numa clara referência a José Sócrates que ficou ainda mais clara quando o líder do Chega disse que Costa “ficará num sítio mais moderno e não vai para Paris”.

“Os socialistas têm essa coisa de quando saem do Governo irem estudar e isto levanta-me sempre a suspeita de que não estudaram muito antes de serem primeiros-ministros”, atirou, concluindo que “percebe melhor porque levaram o país à bancarrota e quase à destruição”. “Espero que António Costa vá estudar, que aprenda os erros que cometeu e que um dia consiga olhar-nos a todos nos olhos e pedir desculpa por tantos maus anos de governação”, concluiu o líder do Chega.