Pelo menos 8.565 pessoas morreram em 2023 a percorrer as rotas migratórias mundiais, tornando o ano passado no mais mortal já registado, avançou esta quarta-feira o Projeto Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O número de mortos em 2023 representa um aumento de 20% em relação a 2022, adianta a organização, sublinhando, em comunicado divulgado esta quarta-feira, a “necessidade urgente de medidas para evitar mais perdas de vidas”.
O total do ano passado ultrapassa o recorde de mortos e desaparecidos a nível mundial que tinha sido registado em 2016, quando 8.084 pessoas morreram durante a migração.
A travessia do Mediterrâneo continua a ser a rota mais mortal para migrantes, com pelo menos 3.129 mortes e desaparecidos, o que constitui o número de vítimas mortais mais elevado da região desde 2017.
Mas a OIM também registou, em 2023, números sem precedentes de mortes de migrantes em África (1.866) e na Ásia (2.138).
Em África, a maioria destas mortes aconteceu no deserto do Saara e na rota marítima para as Ilhas Canárias, enquanto na Ásia, a situação pior foi vivida pelos refugiados afegãos e ‘rohingyas’, grupo étnico proveniente sobretudo de Myanmar.
O projeto da OIM, que assinala este ano 10 anos de existência, soma mais de 63.000 migrantes mortos em todo o mundo na última década, sendo que quase metade se deveu a afogamentos.
De facto, a travessia do mar Mediterrâneo contabilizou pelo menos 22.953 mortos em 10 anos, só naquela que é considerada a pior rota, a do Mediterrâneo Central, que sai da Líbia, Argélia e Tunísia em direção à Europa, nomeadamente Itália e Malta.
“Ao assinalarmos os 10 anos do Projeto Migrantes Desaparecidos, começamos por recordar todas as vidas perdidas. Cada uma é uma terrível tragédia humana que se repercutirá nas famílias e nas comunidades durante os próximos anos”, disse o vice-diretor geral da OIM, Ugochi Daniels, citado no relatório da organização.
Mas “estes números horríveis recolhidos pelo Projeto Migrantes Desaparecidos são também um lembrete de que devemos voltar a comprometer-nos com uma ação maior que possa garantir uma migração segura para todos, para que daqui a 10 anos as pessoas não tenham de continuar a arriscar as suas vidas em busca de uma vida melhor”, defendeu.
O Projeto Migrantes Desaparecidos foi criado em 2014, após dois naufrágios devastadores ao largo da costa de Lampedusa, Itália, e é reconhecido como o único indicador que mede o nível de “segurança” da migração nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e no Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular.
Dez anos depois, é hoje a única base de dados de acesso aberto sobre mortes e desaparecimentos de migrantes, mas assume que o número de casos reais em todo o mundo deverá ser muito mais elevado do que os 63 mil documentados.
Os restos mortais de mais de 26 mil pessoas que perderam a vida durante a migração não foram recuperados, refere o documento, explicando que a recolha de dados enfrenta muitos desafios, especialmente em locais remotos, como o Parque Nacional de Darién, Panamá, e as rotas marítimas, onde a OIM denuncia regularmente “naufrágios invisíveis”, em que barcos cheios de migrantes desaparecem sem deixar rasto.