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Aldeia requalificada, cartaz completo: Cem Soldos está pronta para o regresso do Bons Sons

Este artigo tem mais de 6 meses

The Legendary Tigerman, Valete, Hélio Morais, Cara de Espelho, Gisela João ou Ana Lua Caiano são algumas das novas confirmações. Falámos com o diretor artístico do festival sobre as novidades.

É o esperado regresso depois das obras de requalificação na aldeia que serve de recinto e organização do evento. O largo que acolhe os maiores palcos, e que está no centro de Cem Soldos, está agora mais amplo e já não serve de estacionamento ao longo do ano
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É o esperado regresso depois das obras de requalificação na aldeia que serve de recinto e organização do evento. O largo que acolhe os maiores palcos, e que está no centro de Cem Soldos, está agora mais amplo e já não serve de estacionamento ao longo do ano

É o esperado regresso depois das obras de requalificação na aldeia que serve de recinto e organização do evento. O largo que acolhe os maiores palcos, e que está no centro de Cem Soldos, está agora mais amplo e já não serve de estacionamento ao longo do ano

Dois anos depois, a música está de volta à aldeia de Cem Soldos. O festival Bons Sons anunciou esta terça-feira, 26 de março, o cartaz completo da 12.ª edição, que se realiza entre 8 e 11 de agosto, sendo que a festa no campismo arranca logo no dia 7. É o esperado regresso depois das obras de requalificação na aldeia que serve de recinto e organização do evento. O largo que acolhe os maiores palcos, e que está no centro de Cem Soldos, está agora mais amplo e já não serve de estacionamento ao longo do ano. Miguel Atalaia, da direção artística do festival, descreve a mudança como um “sonho antigo”. É, nas suas palavras, “o novo largo de sempre”.

The Legendary Tigerman, Valete, Hélio Morais, Cláudia Pascoal, Cara de Espelho, Gisela João, Expresso Transatlântico, Adiafa, Luísa Amaro e Edmundo Inácio juntam-se aos já anunciados Ana Lua Caiano, Teresa Salgueiro, Silk Nobre, Club Makumba, Ganso, Joana Guerra, Conferência Inferno, Femme Falafel e Unsafe Space Garden.

O cartaz inclui ainda nomes como Vaiapraia, The Twist Connection, Rocky Marsiano, Estilhaços, Hause Plants, emmy Curl, Máquina, Zarco, Velhote do Carmo, Surma (em modo DJ set), Plasticine, Maria Callapez, Sheri Vari, Solar Corona Elektrische Maschine, Manuel Dordio, Hermanas Sisters, Fala Povo Fala, Mão na Anca, Diana Combo, Ambria Ardena ou, entre outros, A Azenha, um projeto de Cláudia Guerreiro e Filho da Mãe. Ao todo, são quase 50 concertos distribuídos por nove palcos.

"Quase todas as pessoas sentem o festival como delas. Cria um sentimento de pertença e um sentido de comunidade que é muito relevante”

Verónica Paulo

Um dos principais momentos, e que serve para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, será o espetáculo Quis Saber Quem Sou, de Pedro Penim, produzido pelo Teatro Nacional D. Maria II. Trata-se de um concerto teatral que irá revisitar as canções da revolução e as suas palavras de ordem. Além disso, haverá uma exposição de fotografia dedicada ao 25 de Abril para conhecer na Casa Sem Tecto Amália. Outra atividade paralela é a Bicicleta Manifesta, que estará a circular pela aldeia a falar sobre liberdade. Vai convidar as famílias a criarem o seu próprio manifesto através de uma oficina de serigrafia itinerante.

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Novidades por Cem Soldos

O novo largo de Cem Soldos foi inaugurado no passado fim de semana, de 23 e 24 de março. Permite uma zona mais aberta para os concertos do Bons Sons, mas também uma vivência comunitária reforçada durante todo o ano. Aliás, foi também dado início ao Projeto ao Largo, através do qual foram plantadas mais de 50 árvores, três latadas e um canteiro de grandes dimensões. A ideia é que a iniciativa continue a ter vida, com novos canteiros a serem construídos pela população local em oficinas comunitárias. Foram também inaugurados uma série de percursos pedestres.

Outra das obras de requalificação efetuadas foi em frente da Igreja de São Sebastião. É ali, sobre o novo pavimento da rua, que se vai realizar a programação do Palco ao Adro, onde acontecerão as arruadas da Fanfarra Káustica, do Coro das Mulheres da Fábrica e das performances de dança com curadoria da Materiais Diversos. Krump Session, de Dougie Knight, é uma enérgica atuação coletiva que evoca a subcultura urbana ligada ao hip hop; KdeiraZ é o resultado de uma residência artística em Minde, realizada com crianças e promovida pela artista brasileira radicada em Portugal Natália Mendonça.

"Estamos a par de outras aldeias que estão à míngua, com poucas pessoas, muito envelhecidas. Nós lutamos contra esse paradigma. É um combate a um ciclo de empobrecimento do interior"

Carlos Manuel Martins / Bons Sons

De resto, o Bons Sons volta a ter um palco programado pelo projeto A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, num sítio ainda por desvendar; e, como este ano as performances de dança se mudaram para a rua, o Auditório Agostinho da Silva irá acolher algumas das atuações em que a imagem projetada assume alguma preponderância, bem como exibições de filmes, incluindo documentários sobre música e curtas-metragens com o selo do Curtas em Flagrante. Haverá ainda conversas sobre diversidade com o cunho da plataforma Gerador.

[Já saiu o quinto episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui e o quarto episódio aqui]

Este ano, quem passar pelo Bons Sons vai também ficar a conhecer o Quintal das Histórias, um espaço dedicado precisamente a histórias e oficinas, a pensar em crianças e em famílias, que fica num “pátio histórico e privado”, de acesso pela lateral do Palco António Variações.

O festival estabeleceu também uma parceria com a associação Acesso Cultura, que trabalha há vários anos para garantir mais acessibilidades no setor cultural, e em breve serão anunciadas algumas medidas que irão proporcionar a todos uma melhor experiência durante o evento.

O passe geral, que inclui o acesso ao campismo, está à venda nesta fase por 55€. O valor sobe, posteriormente, para os 65€. Esta terça-feira foram colocados à venda os bilhetes diários, por 25€. Mais tarde, o preço irá subir para os 30€. São esperadas cerca de 35 mil entradas ao longo dos quatro dias.

Um festival que se confunde com uma aldeia

Cem Soldos não é apenas a aldeia que recebe o festival Bons Sons. “Não existe uma distinção entre a organização e a aldeia. A organização é a aldeia”, diz Miguel Atalaia, natural de Cem Soldos e dirigente da associação SCOCS (Sport Club Operário Cem Soldos), que formalmente organiza o evento.

“Fazemos estudos de público na comunidade e a percentagem de aceitação ronda os 98% ou 99%. Portanto, é muito grande. Quase todas as pessoas sentem o festival como delas. Cria um sentimento de pertença e um sentido de comunidade que é muito relevante.”

Para si, o aparecimento do Bons Sons em 2006 não foi o resultado de uma iniciativa completamente inesperada, no sentido em que “a dinâmica comunitária em Cem Soldos é muito anterior ao festival”.

O passe geral, que inclui o acesso ao campismo, está à venda nesta fase por 55€. O valor sobe, posteriormente, para os 65€

Carlos Manuel Martins / Bons Sons

“O SCOCS nasceu em 1981, mas antes disso, já nos anos 60, falava-se de um protótipo. É uma aldeia que tem determinadas características que criam esta dinâmica comunitária. É muito concêntrica, o largo é equidistante de todas as zonas da aldeia, é um ponto de encontro, é onde as pessoas se relacionam e trocam ideias. Depois há um conjunto de três ou quatro famílias muitíssimo numerosas, de dez filhos cada uma, que de repente têm dezenas e dezenas de netos. E criam essas relações de comunidade, essas ligações familiares. Ao longo da nossa história foram acontecendo alguns eventos que criaram e fomentaram ainda mais este sentimento de pertença. O festival é a consequência disto, e há 18 anos que é também a causa de uma série de outras coisas que foram acontecendo.”

O facto de o Bons Sons ser um evento de escala nacional que conseguiu colocar no mapa uma aldeia de 700 pessoas no interior faz com que o festival tenha contribuído para também transformar o sítio onde nasceu. “Hoje temos mais crianças na escola, temos muitas casas a serem reconstruídas, casais jovens a quererem vir para Cem Soldos. Isso vem do Bons Sons e também tem um impacto direto no Bons Sons.”

O desafio, conta, é assegurar a exigente sustentabilidade financeira e conseguir manter uma equipa estável que também tenha condições para integrar novas pessoas que vão aparecendo. E o objetivo continua a ser servir de exemplo para tantas outras aldeias e comunidades no interior do país.

“Estamos a par de outras aldeias que estão à míngua, com poucas pessoas, muito envelhecidas. Nós lutamos contra esse paradigma. É um combate a um ciclo de empobrecimento do interior. Felizmente, Cem Soldos, por via do Bons Sons e de outras ações e eventos que a nossa associação cria, consegue contrariar essa tendência.”

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