A ex-atriz pornográfica Steffany Clifford, conhecida profissionalmente como Stormy Daniels, descreveu esta terça-feira, durante o seu depoimento como testemunha no julgamento em Nova Iorque do ex-Presidente norte-americano Donald Trump por falsificação de documentos, o alegado encontro sexual entre ambos.

A antiga atriz afirmou em tribunal que, no suposto encontro, o magnata norte-americano não a agrediu verbal ou fisicamente, embora tenha assinalado um “desequilíbrio de poder” entre os dois e soubesse que o guarda-costas se encontrava no exterior.b”Contei a muito poucas pessoas que tínhamos tido uma relação sexual porque tinha vergonha de não a ter interrompido [a tempo]”, explicou, acrescentando que, após o encontro, saiu “o mais rapidamente que pôde”.

Stormy Daniels detalhou que Trump, que ela disse ter visto como um homem da idade do seu pai, na altura com 60 anos, não lhe deu dinheiro ou o seu número telefone “ou qualquer coisa assim”, nem lhe pediu que mantivesse o encontro confidencial ou expressasse preocupação por causa da sua mulher esposa, Melania Trump.

A agência Associated Press descreve que os jurados pareciam fascinados enquanto a antiga atriz, apesar das repetidas objeções dos advogados de defesa e das advertências ocasionais do juiz, oferecia um relato detalhado e às vezes gráfico de uma relação que Trump nega.

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O político republicano e recandidato à Casa Branca, acusado de esconder um suborno a Daniels nas contas de campanha, olhou para a frente quando ela entrava no tribunal, e depois balançou a cabeça e sussurrava para seus advogados enquanto ouvia o testemunho.

Trump vai mesmo ser julgado em processo de fraude no caso Stormy Daniels

O depoimento é uma peça central para o caso porque nas semanas finais da campanha presidencial republicana de Trump em 2016, o advogado de Trump, Michael Cohen, terá pago a Stormy Daniels 130 mil dólares (120 mil euros) para manter o silêncio sobre o que ela diz ter sido um encontro sexual estranho e inesperado no seguimento de um passeio de golfe de celebridades em Lake Tahoe em julho de 2006.

Interrogada pelo procurador, Daniels contou como um encontro inicial num torneio de golfe, onde discutiram a indústria de filmes adultos, evoluiu para um breve encontro sexual que, segundo afirmou, Trump teve a iniciativa depois de a convidar para jantar e seguir para a sua suíte no hotel.

Após terem estado juntos, relatou: “Foi muito difícil encontrar os meus sapatos porque as minhas mãos tremiam muito”. Trump terá dito que esperava voltar a encontrar a ex-atriz, mas ela “apenas queria ir embora.”

Desde que o encontro foi revelado, Daniels emergiu como uma antagonista da versão de Trump, partilhando a sua história num livro e na televisão e criticando e o ex-Presidente com tiradas pejorativas.

Depois de várias discussões com o juiz e os advogados de Trump, a procuradora Susan Hoffinger conduziu o interrogatório com cautela, instruindo a testemunha a manter suas respostas breves e livres de detalhes extras. O juiz Juan M. Merchan rejeitou repetidamente as tentativas de Daniels de descrever o encontro de forma mais vivida, retirando várias das suas respostas dos registos oficiais do julgamento.

Juiz rejeita pedido de Trump para anulação do julgamento

Merchan recusou também um pedido de anulação do julgamento, submetido pela defesa logo após a ex-atriz pornográfica Stormy Daniels ter testemunhado em tribunal. Os advogados de Donald Trump pediram a anulação do julgamento, alegando que o depoimento de Daniels violou as regras estabelecidas para que se sentasse no banco das testemunhas.

O advogado Todd Blanche disse que o testemunho sobre o suposto relacionamento sexual com Trump e seu relato detalhado de uma conversa anterior e de outros encontros com Trump “não teve nada a ver com este caso e é extremamente prejudicial”.

Blanche argumentou que “o tribunal estabeleceu barreiras para este depoimento”, mas foi “simplesmente ignorado”, acrescentando que “este é o tipo de testemunho que torna impossível voltar-se atrás”, o que também seria injusto porque Trump teria de sair em campanha ainda hoje. Na sua conta na rede Truth Social, Trump escreveu: “A acusação não tem um caso, foi longe demais. Anulação!”

No entanto, o juiz Juan M. Merchan recusou o pedido da defesa, alegando que se tenha chegado a um ponto em que a anulação do julgamento seja justificada. O juiz disse concordar que a ex-atriz às vezes falou mais do que deveria e que “foi um pouco difícil de controlar”, mas culpou a defesa por não se opor com mais vigor quando ela estava a testemunhar.

A acusação por sua vez defendeu o depoimento de Daniels após o pedido de anulação do julgamento, argumentando que se referia às razões de Trump para silenciá-la.

O Ministério Público acusa Trump de 34 crimes por suposta falsificação de documentos, numa trama com a qual teria tentado esconder o pagamento em plena campanha eleitoral em 2016 a Stormy Daniels para comprar o seu silêncio e não falar sobre a relação extraconjugal ocorrida dez anos mais cedo.

As acusações que Trump enfrenta remontam a uma investigação lançada pelo gabinete do procurador distrital de Manhattan na sequência de um suposto plano do magnata para esconder vários escândalos sexuais na comunicação social.

Michael Cohen, que também era vice-presidente da Trump Organization, providenciou o pagamento, fornecendo o referido valor do seu próprio bolso e o ex-Presidente é acusado de devolver a verba escondendo-a em diversas despesas legais nos registos da empresa. Cohen foi condenado em dezembro de 2018 a três anos de prisão.