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A Eurovisão está a dividir a cidade sueca de Malmo. Esta noite, enquanto os agora 25 concorrentes subirem ao palco na 68.º edição da competição, estará a decorrer um festival paralelo, apelidado de “Falastinvision”, e que se descreve como um concurso “livre do genocídio”. É apenas mais um exemplo de que como a Eurovisão, que a organização apelida de competição apolítica, está a ser influenciada pelo conflito na Faixa de Gaza, que se prolonga há mais de oito meses.

O Falastinvision está a ser preparado desde o início de fevereiro com o objetivo de boicotar a Eurovisão. “As regras e o direito internacional não se aplicam a Israel. Este desastre com a participação de Israel é um grande exemplo do constante ato de vitimização de Israel”, denunciavam os organizadores numa página criada para promover o festival alternativo.

Esse foi também o argumento usado por vários grupos que durante esta semana organizaram manifestações em Malmo contra a participação da concorrente israelita, Eden Golan. Só na quinta-feira, mais de 10.000 manifestantes juntaram-se no centro da cidade para apelar ao boicote a Israel. Entre eles a ativista climática Greta Thunberg, que ficou conhecida pelas greves estudantis para apelar aos governos a tomar ações para proteger o planeta.

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“Ontem [quinta-feira] éramos dezenas de milhares de pessoas a inundar as ruas de Malmo. Não vamos aceitar que um país que está a cometer um genocídio possa ter uma plataforma para se lavar”, sublinhava a jovem numa publicação na rede social X (antigo Twitter) em que partilhava uma imagem dos protestos. Nesse mesmo dia, um grupo mais pequeno, que incluía membros da comunidade judaica de Malmo, também organizou uma manifestação na cidade para defender o direito de Israel participar no concurso.

Este sábado, os manifestantes voltaram a sair às ruas, com cânticos de “Libertem a Palestina” e “Chega de ocupação”. Criticam o que descrevem como um duplo critério da Eurovisão, por impedir a participação russa na sequência da invasão russa, mas permitir a entrada de Israel enquanto prosseguem as operações militares em Gaza.

Receando uma escalada nos protestos, as autoridades suecas aumentaram as medidas de segurança para a noite da final. Esse foi mesmo um tema lançado durante uma conferência de imprensa com os concorrentes da Eurovisão, com um jornalista a questionar a representante israelita sobre se considerava que a sua presença colocava em risco os outros participantes.

A pergunta levou o moderador do evento a afirmar que Eden Golan não tinha de responder, o que provocou uma reação de outro concorrente. “Porque não?”, questionou em voz alta Klein — concorrente dos Países Baixos que entretanto foi expulso da competição devido a um “incidente” alegadamente com uma funcionária da organização –, mostrando-se irritado com a presença da representante israelita. O momento ficou viral nas redes sociais, à semelhança de vídeos em que a candidata grega, Marina Satti, aparentou fingir que estava a dormir enquanto os jornalistas dirigiam perguntas a Golan.

Este não foi o único episódio em que os participantes do concurso fizeram saber o que pensam sobre o conflito na Faixa de Gaza. Na primeira semifinal da Eurovisão, que determinou a passagem da canção de Portugal — interpretada por Iolanda —, o cantor sueco Eric Saade, de pai palestiniano, subiu ao palco com um keyffiyeh (lenço que é símbolo da resistência palestiniana) no pulso esquerdo.

O conflito em Gaza também parece estar a ter influência em algumas intenções de voto. “Eu nunca votei na Eurovisão. Mas vou votar em Eden Golan”, revelou este sábado o filósofo francês Bernard-Henri Lévy. “Porque ela é talentosa. Porque ela é corajosa. E porque, neste mundo enlouquecido, face ao aumento do ódio contra judeus sem precedentes em 80 anos, face à estupidez, a sua vitória será um marco”, sublinhou numa publicação no X.

Os organizadores da Eurovisão deixaram claro que consideram o festival “apolítico” e recusaram afastar a concorrente israelita. Exigiram, no entanto, que a artista alterasse parte da letra original, retirando o que disseram ser referências aos ataques do Hamas em território israelita a 7 de outubro e que precipitaram o conflito em Gaza.

Alguns países já se mostraram contra a participação do país na competição. Foi o caso de Espanha, tendo a vice-presidente do governo espanhol e ministra do Trabalho, Yolanda Diáz, afirmado que o festival “não é uma montra para branquear o genocídio do povo palestiniano por Israel”. Israel “é incompatível com os valores promovidos pelo concurso e não deveria participar”, escreveu também num post no X.

Governo espanhol contra a participação de Israel na final da Eurovisão

Por outro lado, os governos alemão e francês consideraram “inaceitáveis” os protestos de apelo à proibição da participação israelita. A ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, considerou “aterrorizante” o reforço anunciado das medidas de segurança na Suécia, para proteger os cidadãos israelitas e os judeus em geral. “O antissemitismo, o ódio e a violência não têm lugar num evento musical tão importante”, afirmou. Do mesmo modo, o ministro francês dos Assuntos Europeus, Jean-Nöel Barrot, criticou a “pressão sobre os artistas” nos apelos a um boicote a Israel.

França e Alemanha consideram “inaceitáveis” protestos de apelo ao boicote de Israel na Eurovisão