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A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, criticou esta quarta-feira a “posição hostil” de Portugal contra Moscovo por causa da invasão da Ucrânia, estimando que “lamentavelmente, as relações luso-russas vivem a crise mais profunda de toda a sua história”.
“A guerra híbrida desencadeada pelo Ocidente global contra a Rússia influenciou destrutivamente todo o complexo de relações da Rússia com Portugal. E por quê? Pela posição hostil assumida por Portugal desde o início da operação especial militar. Lisboa enquadrou-se desde logo na política e retórica anti-russa. Como consequência, as relações luso-russas vivem a crise mais profunda de toda a sua história”, afirmou a representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, em resposta a uma questão da agência Lusa colocada por videoconferência.
A diretora do Departamento de Imprensa do ministério tutelado por Serguei Lavrov indicou que “foi a parte portuguesa que congelou todos os contactos políticos e reduziu as relações económicas a trocas comerciais muito limitadas”.
“Por decisão da Assembleia da República de Portugal, foi dissolvido o grupo parlamentar de amizade luso-russo. Foi também posto termo à colaboração inter-regional. Em 20 de janeiro deste ano, a Assembleia Municipal de Lisboa votou o fim do protocolo sobre amizade e colaboração com Moscovo, que vigorava desde 1997″, apontou ainda.
Acrescentou que em Portugal está “em curso uma campanha anti-russa alimentada a nível oficial”, com as autoridades portuguesas a reduzirem “ao mínimo os contactos com a Embaixada da Rússia em Lisboa”.
“Ao nosso embaixador, foi-lhe praticamente imposto, tanto pelas autoridades portuguesas como pelas suas congéneres estrangeiras, um regime de isolamento“, criticou.
“Não se percebe muito bem para que serve isto, já que existem questões que podem e devem ser resolvidas em conjunto, o que é dificultado por posições ilegítimas e russofóbicas, não sei se de Lisboa ou impostas de fora, por exemplo, pela NATO, a União Europeia (UE), Estados Unidos ou pelo próprio lobby anti-russo que opera em Portugal”, acusou a porta-voz.
Nas mesmas declarações, Maria Zakharova salientou que o “desmoronamento das relações” diplomáticas entre Lisboa e Moscovo não é escolha da Rússia e que “não corresponde, de maneira alguma, aos interesses do povo português”, fazendo votos para que “mais cedo ou mais tarde, Portugal recupere a análise racional dos factos que ocorrem no mundo moderno”.
A Rússia continua “aberta à construção de boas relações com os parceiros estrangeiros”, incluindo os que chama de “regimes não-amigáveis”, declarou Maria Zakharova.
Questionada pela Lusa sobre as relações russas com os países do continente africano, Maria Zakharova afirmou que Moscovo trabalha para reforçar os laços “nas áreas da política externa e da ajuda humanitária”.
“Trabalhamos, tanto no continente africano como nos outros, não para o aprofundamento da nossa influência, mas para o aprofundamento da cooperação”, salientou, lembrando que “são muitos os acordos alcançados tanto nas cimeiras russo-africanas, como no âmbito dos permanentes contactos de trabalho”.
Zakharova lembrou a recente visita a Moscovo do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, por altura das comemorações do Dia da Vitória, na semana passada, e indicou que está agendado para novembro um encontro ministerial em Sotchi, no qual espera que participem países africanos de língua portuguesa.
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“As cimeiras russo-africanas não constituem uma resposta às sanções decretadas pelo Ocidente contra o nosso país. Simplesmente, temos propostas para os países africanos. Foi assim que nasceu o formato das cimeiras russo-africanas. A Rússia propõe uma parceria honesta e igual em direitos, sem politização nem pressão, sem ingerências nos assuntos internos dos outros países. Ajudámos muitos países africanos a libertarem-se do jugo colonial. São factos conhecidos e é neste quadro que impulsionamos as nossas relações”, argumentou.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).