Alguns aliados do ex-Presidente norte-americano Donald Trump estão a recolher e formular propostas que podem limitar a independência do Departamento de Justiça e retirar poderes à polícia federal norte-americana (FBI) no caso do seu eventual regresso à Casa Branca. A notícia é avançada pela agência Reuters, que cita nove fontes envolvidas neste esforço.

Trump, que enfrenta um total de 88 acusações em quatro casos criminais, dois trazidos pelo Departamento de Justiça, já prometeu reformar este organismo e usá-lo para perseguir os seus oponentes, incluindo o Presidente Joe Biden. Segundo a Reuters, esse caminho já está a ser preparado e passa por um plano com duas fases.

A primeira fase passa por inundar o Departamento de Justiça com conservadores improváveis de contrariar as ordens da Casa Branca. A segunda por reestruturar o departamento de modo a que as decisões chave estejam concentradas nas mãos de pessoas leais a uma eventual administração de Trump.

“Trump considera que o DoJ [sigla para Departamento da Justiça] tem problemas institucionais. Não é apenas pessoal: é preciso purgar o DoJ, mas também é preciso reformá-lo”, disse à Reuters Steve Bannon, um aliado de Trump que foi declarado culpado por desobediência ao Congresso dos EUA num caso que partiu do Departamento de Justiça.

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Já os planos para o FBI consistem, segundo as fontes ouvidas pela Reuters, em implementar novas restrições à sua atividade, com a transferência de muitas das suas responsabilidades para outras agências de segurança nacionais.

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Sobre este tema, dois aliados de Trump disseram, sob condição de anonimato, que apoiam a decisão de eliminar o conselho especial. Este organismo, que investigou a interferência russa nas eleições que deram a vitória a Donald Trump, é responsável por dar aconselhamento jurídico ao FBI sobre as investigações em curso. Na sua ausência a polícia federal norte-americana teria de procurar orientação jurídica de pessoas mais próximas do procurador-geral de Trump e as sua capacidade para conduzir investigações sem supervisão política seria limitada.

Segundo a Reuters, a maior parte dos aliados de Trump que estão a vocalizar estas propostas são afiliados a um consórcio de think tanks conservadores conhecido como “Projeto 2025” (“Project 2025”, em inglês). Este grupo estará a fazer planos detalhados para um segundo mandato de Trump na Casa Branca. Questionado pela agência de notícias, recusaram prestar qualquer esclarecimento.

A agência de notícias também contactou a campanha de Donald Trump, que não se pronunciou sobre a questão. “A não ser que a mensagem venha diretamente do Presidente Trump ou de um membro da sua campanha autorizado a falar, nenhum aspeto da futura equipa presidencial ou anúncios políticos devem ser considerados oficiais”, sublinhou.