Zoraya ter Beek tem 29 anos e espera ser eutanasiada ainda no mês de maio por problemas de saúde mental. A jovem neerlandesa está desde dezembro de 2020 à espera para recorrer à morte medicamente assistida e, por fim, na passada semana recebeu a aprovação.

De acordo com a legislação dos Países Baixos, para poder recorrer à eutanásia, uma pessoa deve estar a passar por um “sofrimento insuportável sem perspetivas de melhoria”, estar plenamente informada e ser competente para tomar essa decisão. No caso de Zoraya ter Beek, que sofre de depressão crónica, ansiedade, trauma, transtorno de personalidade borderline e está no espectro do autismo, a jovem tomou a decisão depois de o seu psiquiatra lhe ter dito que nunca iria melhorar e que “não havia mais nada a fazer”.

“Sempre fui muito clara: se não melhorar, não posso continuar a fazer isto”, contou ao The Free Press. Essa melhoria não aconteceu durante um período de uma década. Iniciou tratamentos intensivos, incluindo terapias da fala, medicação e mais de 30 sessões de terapia electroconvulsiva (ECT), mas, passados 10 anos, não havia “mais nada” em termos de tratamento que pudesse fazer: “Na terapia, aprendi muito sobre mim própria e sobre mecanismos para lidar com a situação, mas isso não resolveu os problemas principais. No início do tratamento, começa-se com esperança. Pensei que ia melhorar. Mas quanto mais o tratamento se prolonga, começa-se a perder a esperança”, explicou ao The Guardian, acrescentando: “Eu sabia que não conseguia lidar com a forma como vivo agora.”

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“Eu terminei o ECT em agosto de 2020 e depois de um período de aceitação de que não havia mais tratamento, candidatei-me à morte assistida em dezembro desse ano. É um processo longo e complicado. Não é como se se pedisse a morte assistida na segunda-feira e se esteja morto na sexta-feira.”

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“Durante os três anos e meio que durou este processo, nunca hesitei na minha decisão. Senti-me culpada — tenho um companheiro, família, amigos e não sou cega ao seu sofrimento. E senti medo. Mas estou absolutamente determinada a ir para a frente com isto”, continuou.

“Todos os médicos, em todas as fases, diziam-me: ‘Tem a certeza? Pode parar em qualquer altura’. O meu companheiro tem estado na sala durante a maior parte das conversas para me apoiar, mas várias vezes foi-lhe pedido que saísse para os médicos terem a certeza de que eu estava a falar livremente.”

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A jovem de 29 anos mora com o parceiro, de 40, e será o próprio quem estará ao seu lado no dia em que a equipa médica for a sua casa para lhe administrar o sedativo, seguido de um medicamento que lhe irá parar o coração. “Sinto-me aliviada. Tem sido uma luta muito longa e agora chegou o momento, estamos preparados para isto e estamos a encontrar uma certa paz. Eu também me sinto culpada. Mas, às vezes, quando amamos alguém, temos de o deixar ir”, acrescentou.

Os Países Baixos são um dos sete países onde a eutanásia é permitida — desde 2002 — e são também um dos quatro onde pode acontecer por doença psiquiátrica. Em Portugal, a lei da eutanásia foi aprovada em 2023 mas, uma vez que não está regulamentada, ainda não pode ser aplicada.

Apesar de a morte medicamente assistida ser mais pedida por pessoas com doenças terminais, nos Países Baixos o número de casos de pessoas que recorrem por problemas de saúde mental tem vindo a aumentar. De acordo com o The Guardian, em 2010, registaram-se dois casos e, em 2023, 138, o equivalente a 1,5% das 9.068 mortes por eutanásia nesse ano no país.

O caso de Zoraya ter Beek veio a público em abril, através de meios de comunicação internacionais, e levou a que uma onda de discussão se levantasse e levasse a que a jovem apagasse as suas contas nas redes sociais: “Não conseguia aguentar com toda a negatividade.”

“As pessoas pensam que, quando se é doente mental, não se consegue pensar corretamente, o que é insultuoso”, disse, acrescentando: “Compreendo os receios que algumas pessoas com deficiência têm em relação à morte assistida e as preocupações com o facto de as pessoas serem pressionadas a morrer. Mas nos Países Baixos, temos esta lei há mais de 20 anos. Há regras muito rigorosas e é muito seguro”.