Os 500 anos do nascimento de Luís de Camões vão celebrar-se com teatro, cinema, exposições e publicações, mas as principais atividades da programação só acontecem em 2025, já que “não existe orçamento previsto para as comemorações no ano em curso”.
Quem o diz é a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, que garante que a falta de verba foi um dos motivos que levou o Governo de Luís Montenegro a estender para dois anos as comemorações dos 500 anos de nascimento do poeta português, que passam a ter lugar de 10 de junho de 2024, próxima segunda-feira, até 10 de junho de 2026.
“Foi justamente para recuperarmos o tempo perdido, para que no orçamento do próximo ano esteja prevista uma dotação”, explicou ao Observador esta quarta-feira, à margem da cerimónia de apresentação das “linhas de programação” das comemorações, que decorreu no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa (equipamento do qual Rodrigues era diretora antes de chegar à tutela).
Não se sabe, assim, quanto vai custar a programação, apenas que as atividades desenvolvidas até ao final do ano têm “uma dotação orçamental mínima, residual”, assente em “verbas que possamos canalizar de uns projetos para outros, mas sem que se comprometa a abrangência e qualidade do programa”, adiantou Dalila Rodrigues, lembrando que apesar de ser o Ministério da Cultura (MC) a tutelar o ciclo comemorativo, o mesmo conta com a colaboração do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e do Ministério da Educação, Ciência e Inovação, ambos com “orçamento próprio”. “Todas as ações a desenvolver pelo Instituto Camões e pelo MNE têm certamente garantida a cobertura orçamental”, atira.
A ministra da Cultura confirma ainda o reforço orçamental em 2025 para uma das instituições mais requisitadas, a Biblioteca Nacional, que desempenhará um papel central nas comemorações, nomeadamente no lançamento de uma Camoniana digital (organizada por Isabel Almeida), na organização de uma grande exposição destinada a revisitar Luís de Camões (com curadoria de João Alves Dias), e na promoção de um ciclo de seminários, conferências e publicações (dirigido por Isabel Almeida, José Augusto Cardoso Bernardes, Maria de Lurdes Correia Fernandes e Vanda Anastácio). “Certamente a Biblioteca Nacional vai ter essa possibilidade”, contesta sobre o incremento na verba do próximo ano.
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Nos últimos dois meses, o Governo criou uma estrutura de missão responsável pelas comemorações, que passou não apenas a ter uma comissária-geral (a professora catedrática Rita Marnoto, da Universidade de Coimbra), mas dois comissários gerais adjuntos (Diogo Ramada Curto, diretor-geral da Biblioteca Nacional de Portugal, e Joaquim José Coelho Ramos, vogal do conselho diretivo do Camões Instituto), bem como uma comissão curatorial “formada por camonianos” e um diretor executivo (o editor Vasco Silva, nome associado sobretudo à publicação de poesia portuguesa e de Fernando Pessoa, em particular).
Sobre a renovação praticamente total da equipa, Rodrigues evoca a “circunstância” de ser historiadora de formação e por isso “ter o entendimento de que sem uma comissão curatorial com especialistas na figura e na obra de Luis de Camões não seria possível levar a cabo uma programação com a qualidade que temos de garantir e com a abrangência de áreas de expressão e cobertura territorial”. “A comissão anterior era formada por representantes de organismos do Ministério da Cultura, com a colaboração do MNE”, comenta.
As celebrações camonianas que arrancam na próxima segunda-feira e que culminam a 10 de junho de 2026 vão desenrolar-se em três eixos: “cívico-cultural”, “crítico-científico” e educativo. “São dezenas as entidades envolvidas na programação”, de acordo com o documento disponibilizado à comunicação social antes da apresentação oficial, que contou com a presença, entre outras personalidades, do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e dos ministros de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e da Presidência, António Leitão Amaro.
Em duas páginas apenas se resume um programa que inclui representações teatrais, exposições, programas de televisão, ações de formação e publicações — o plano de edições inclui a reedição de livros e a publicação de inéditos, pela BNP, em parceria com a IN-CM. No campo do cinema, está prevista a “elaboração de um breve filme de animação (2 ou 3 minutos) sobre a vida de Camões para os primeiros ciclos do ensino básico”, além de debates na Cinemateca Portuguesa.
“Temos um vasto universo de atividades a desenvolver que vamos antecipar até ao final do ano em curso”, garante a ministra sobre o programa que arranca a meio-gás, já que “as principais atividades, ou aquelas que são mais onerosas, não vão ser já apresentadas publicamente este ano”, adianta, apontando os grandes destaques para “2025 e 2026”. Por agora, o desejo é: “Manter qualidade e abrangência, sem a dotação orçamental que seria necessária”.
Os 500 anos do nascimento de Luís de Camões assinalam-se em 2024. Em dezembro, soube-se que o programa das comemorações, que esperava-se ter sido proposto ao Governo de António Costa até ao final de 2022, estava por fazer.