A CDU terminou a campanha oficial para as eleições europeias com uma demonstração de força na tradicional descida do Chiado, com várias centenas de militantes e simpatizantes a juntarem-se à caravana comunista na tentativa de contrariar as teorias de desaparecimento progressivo, face aos resultados desanimadores nas três eleições deste ano (nas legislativas, Açores e Madeira). Nesse sentido, a mensagem de João Oliveira foi clara: quem decide as eleições é o povo, não as sondagens ou os comentadores.
Em Coimbra, São Pedro já tinha deixado um aviso a quem achava que a campanha se ia fazer de manga curta. Durante o comício na Praça da Inquisição, primeiro vieram os relâmpagos, seguidos depois de uma chuva tímida. O mau tempo vinha mesmo para ficar, e tal como já tinha acontecido nas arruadas em Lisboa de alguns partidos nas últimas legislativas, também o último desfile foi feito debaixo da chuva. Mas a meteorologia não foi suficiente para demover ninguém de participar.
O relógio ainda não tinha chegado às 18 horas — hora marcada para o início do desfile da CDU — e já a longa coluna humana de apoiantes comunistas tinha arrancado na descida do Chiado. Liderado por João Oliveira e Paulo Raimundo, o desfile contou ainda na fila da frente com Carlos Carvalhas, antigo líder do PCP, e a eurodeputada Sandra Pereira — nº 2 nas lista da CDU que foi figura central numa polémica que marcou o final da campanha comunista, tendo sido destacada no segundo lugar de uma lista de “melhores amigos” da Rússia no Parlamento Europeu, divulgada pelo jornal Politico.
Apesar da grande afluência, os comunistas não demoraram a chegar ao ponto final do trajeto, no final da rua do Carmo, junto ao Rossio. Pelo caminho, o cabeça-de-lista e o secretário-geral foram abordados várias vezes por pessoas na rua, que deixaram mensagens de ânimo para a candidatura, elogiando a firmeza e a dinâmica da campanha, numa altura complexa para a Europa, em que de acordo com este cidadãos, apenas a CDU esteve à altura das necessidades e soube lutar pela paz.
Na reta final de uma campanha que teve altos e baixos, restava à CDU repetir as mensagens em que foi insistido ao longo dos últimos dias. Em declarações aos jornalistas ainda durante o desfile, João Oliveira reiterou que não são os comentadores nem as sondagens a decidir os 21 deputados portugueses no Parlamento Europeu, mas sim o povo. O candidato aproveitou para interpelar uma última vez os eleitores que costumam preferir o voto noutros partidos. “É útil pensar de que serviram os votos noutras forças políticas”, referiu, antes de concluir que “valem mais dois deputados da CDU do que seis ou sete dos outros”.
De resto, João Oliveira mostrou-se de consciência tranquila. Numa outra ação do partido neste 12º dia de campanha, em visita à sede dos Artistas Unidos em Lisboa, o candidato já tinha feito um balanço positivo da campanha, frisando que especialmente na reta final foi verificando um “crescendo de apoio” de norte a sul do país, prova de que os eleitores reconheceram e valorizaram o foco da CDU nos verdadeiros problemas do país — da necessidade de melhores salários à importância do investimento nos setores da habitação, saúde ou cultura”. Para que essas questões sejam abordadas no Parlamento Europeu, lembrou João Oliveira, é preciso dar força à voz da CDU em Estrasburgo. De outra maneira, e se os eleitores preferirem ficar em casa no dia 9, o comunista avisa que o dia 10 pode começar com um verdadeiro “amargo de boca”.
Depois dos discursos junto ao Rossio, e do secretário-geral ter voltado a atacar os comentadores “que votam, mas votam noutros”, a chuva obrigou a CDU a fechar a campanha com um arraial improvisado no pavilhão de um restaurante na aldeia de Paio Pires, no Seixal. Com duas semanas de campanha nas costas, a noite foi de festa, e até Paulo Raimundo e João Oliveira se juntaram para dançar o “Apita o Comboio“.
Agora, esperam os comunistas, o comboio segue para a Europa. Apesar de ter dado a entender que a meta se fixava nos dois eurodeputados, a eleição de João Oliveira no domingo seria já uma boa notícia, tendo em conta as sondagens pouco animadoras para os comunistas — a maioria aponta para resultados à volta dos 4%, deixando a dúvida se será sequer possível manter representação parlamentar em Estrasburgo.