O corpo do apresentador da BBC Michael Mosley foi encontrado, este domingo, na ilha grega de Symi, durante uma busca de barco efetuada pelo presidente da câmara da ilha e por uma equipa de filmagem da estação estatal de televisão da Grécia (ERT).
O apresentador de 67 anos desapareceu na quarta-feira, depois de ter saído para um passeio na praia de Agios Nikolaos. O corpo foi encontrado no fundo de um declive acentuado e rochoso, junto a uma vedação, a poucos metros do mar e apenas acessível a pé ou por barco.
Mosley estava a passar férias na ilha grega de Symi, com a mulher e outro casal amigo, quando decidiram ir à a praia de Aghios Nikolaos, na aldeia de Pedi. Por volta das 13h30 (12h30 em Lisboa) disse ao grupo que estava cansado e decidiu voltar sozinho a pé para o quarto. Para lá chegar, atravessaria um caminho costeiro rochoso com cerca de um quilómetro de comprimento, para depois se deslocar de autocarro até ao alojamento, adiantou o jornal Tovima. Duas horas e meia depois, a mulher e o outro casal regressaram aos quartos e aperceberam-se imediatamente do desaparecimento do apresentador da BBC. Começaram a procurá-lo e acabaram por avisar a polícia local.
Logo nesse dia, iniciou-se uma operação de busca e salvamento que envolveu a guarda costeira, a polícia, os bombeiros, cães de busca, helicópteros e drones para localizar o médico. Não levou consigo o telemóvel, o que dificultou a tentativa de localização por parte autoridades.
Em imagens de câmaras de videovigilância a que a BBC teve acesso no sábado, tinha sido possível ver um homem, que se acredita ser o apresentador, a caminhar de guarda chuva junto à marina, em Pedi.
O corpo foi encontrado cinco dias depois do desaparecimento, quando o presidente da câmara da ilha, Eleftherios Papakalodoukas, e uma equipa da televisão estatal ERT estavam a filmar a zona de Agia Marina, a propósito das buscas que estavam a ser feitas.
Um operador de câmara detetou algo invulgar ao rever imagens que tinha captado anteriormente, avançou o jornal grego Ekathimerini. “Olhando para o material que tinha obtido, [o operador de câmara] viu algo estranho perto de uma vedação, a cerca de 50 metros do mar, e depois pudemos ver, quando fizemos zoom, que era um homem porque o relógio estava a brilhar [com sol]”, disse Aristides Miaoulis, jornalista da ERT, ao The Guardian. A equipa de reportagem e o presidente dirigiram-se ao local exato, de barco, onde encontraram e identificaram o cadáver. A guarda costeira foi imediatamente chamada à zona.
O presidente da câmara da ilha disse que cerca de 200 pessoas já tinham procurado no local sem que, no entanto, o corpo tivesse sido encontrado.
Ilias Tsavaris, gerente de um bar situado a poucos metros do local onde o corpo foi encontrado, na praia de Agia Marina, disse ao Telegraph não entender como é que as equipas de busca não encontraram o corpo antes, uma vez que tinham “vasculhado” a área a pé e de helicóptero durante todo o dia de sábado. Um dos repórteres de imagem que esteve no local também se mostrou incrédulo: “Esta zona já foi revistada sabe-se lá quantas vezes. Umas 20 vezes. Havia drones, havia tudo. Acho que é azar”, referiu Antonios.
No dia em que o apresentador desapareceu, a temperatura registada atingiu os 40ºC, valores pouco usuais nesta ilha durante o mês de junho. O presidente da ilha referiu que a área que Mosley terá percorrido é “difícil de passar” e é “apenas rochas”.
O corpo apresentava sinais de decomposição, o que indica que estaria morto há alguns dias e já foi examinado por um médico legista. A porta-voz da polícia, Konstantia Dimoglidou, disse à BBC que as autoridades ainda terão de excluir qualquer possibilidade de a morte ter sido resultado de um ato criminoso. “Precisamos de ter uma primeira visão das causas da morte e de saber se esta precedeu a queda da pessoa no chão”, destacou.
A mulher do apresentador, Clare Bailey confirmou a notícia “devastadora” em comunicado.
É devastador ter perdido o Michael, o meu maravilhoso, divertido, amável e brilhante marido. Tivemos uma vida incrivelmente feliz juntos. Amávamo-nos muito e éramos muito felizes juntos”, refere o comunicado, divulgado este domingo.
Bailey, que conheceu Mosley na faculdade de medicina, disse estar “incrivelmente orgulhosa” dos quatro filhos do casal, que entretanto voaram para a ilha, e da sua capacidade de resistência e apoio.
Mosley terá tentando procurar um refúgio na praia de Agia Marina, e foi encontrado a 10-15 metros desse destino, entre uma vedação e um caminho.
“Ele fez uma percurso incrível, optou pelo caminho errado e caiu num local onde não podia ser visto facilmente pela extensa equipa de busca”. Relembrou ainda o companheiro como um homem aventureiro, o que “o tornava tão especial”, acrescentou.
Michael Mosley estudou medicina em Londres, mas decidiu abandonar a profissão e aventurar-se por outras áreas tendo, nas últimas duas décadas, trabalhado como apresentador, documentarista, jornalista e autor. Ficou conhecido por levar o seu corpo ao extremo para testar dietas e teorias. Injetou veneno de cobra no próprio sangue e viveu com ténias no sistema digestivo durante seis semanas para um documentário da BBC.
Apresentou vários programas de televisão, incluindo Trust Me, I’m a Doctor, e o podcast Just One Thing da BBC Radio 4. Era presença regular no The One Show da BBC One e no This Morning da ITV, tendo sido também colunista do Daily Mail. À BBC, Saleyha Ahsan, que co-apresentava o programa “Trust Me, I’m A Doctor” com Mosley, destacou a “paixão por explicar a ciência a um público mais vasto” do apresentador e recordou um homem “extremamente talentoso” e um “tesouro nacional”.
Popularizou também as dietas 5:2 e Fast 800 que preconizam o jejum intermitente e refeições com baixo teor de hidratos de carbono. Dietas que atraíram muita atenção, em especial no livro “The Fast Diet” (“A Dieta Rápida”, em tradução livre para português) tanto pelos métodos propostos como pela exatidão científica.