O relatório europeu sobre drogas nesta terça-feira divulgado alerta para que a cocaína e os seus derivados são dos consumos mais preocupantes a nível da saúde pública na Europa.

“Há sinais de que a elevada disponibilidade de cocaína na Europa está a ter um impacto cada vez mais negativo na saúde pública“, afirma o Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês) no “Relatório Europeu Sobre Drogas 2024 — Tendências e Desenvolvimentos”.

A cocaína é a segunda droga ilícita comunicada tanto por quem recorre pela primeira vez aos serviços de tratamento da toxicodependência (29.000 em 2022), como por quem se apresenta nas urgências hospitalares (mencionado em 28% das apresentações de toxicidade aguda).

Os dados disponíveis sugerem que a droga também esteve presente em cerca de um quinto das mortes por overdose comunicadas em 2022, muitas vezes detetadas juntamente com outras substâncias.

Particularmente preocupante para o Observatório é o facto de o consumo de cocaína parecer estar a tornar-se cada vez mais comum em grupos mais vulneráveis ou marginalizados em alguns países, tanto da forma injetada como o consumo de “crack” de rua (chamado cocaína dos pobres).

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Estimulantes como a cocaína têm também estado envolvidos em surtos localizados de VIH entre consumidores de drogas injetáveis, em diversas cidades europeias ao longo da última década.

Nos últimos seis anos foram apreendidas quantidades recorde na UE, com 323 toneladas em 2022. As apreensões europeias excedem agora as realizadas nos Estados Unidos, historicamente considerado o maior mercado mundial de cocaína.

O tráfico de grandes volumes de cocaína em contentores marítimos através dos portos da Europa continua a ser um fator significativo na elevada disponibilidade da droga na região.

À medida que as polícias têm fortalecido o combate, os grupos de criminalidade organizada também têm como alvo os portos mais pequenos, tanto nos países da UE como nos que fazem fronteira e que podem ser mais vulneráveis ao tráfico.

Os grupos de criminalidade organizada também abastecem os consumidores europeus através do processamento de produtos ilícitos de cocaína em vários países da UE, tendo sido desmantelados 39 laboratórios de cocaína em 2022 (34 em 2021).

Também o panorama da canábis, a droga mais consumida em toda a UE em pessoas entre os 15 e os 64 anos, “está a mudar e a criar novos desafios para as políticas” dos Estados-membros.

O teor médio de THC (grau de potência) da resina de canábis duplicou nos últimos 10 anos e continua a aumentar (22,8% em 2022), enquanto o da canábis herbácea (erva) tem permanecido geralmente estável, adianta o relatório.

Os produtos de canábis são agora cada vez mais diversificados, incluindo extratos e produtos comestíveis de alta potência, havendo relatos de que alguns destes vendidos no mercado ilícito como canábis podem estar adulterados com canabinóides sintéticos potentes.

Em 2023, o Sistema de Alerta Rápido da UE recebeu relatórios sobre nove novos canabinóides, quatro dos quais eram semissintéticos.

A canábis foi também a substância mais frequentemente comunicada pela rede hospitalar Euro-DEN Plus em 2022, estando envolvida em 29% das apresentações de toxicidade aguda de drogas (25% em 2021).

O EMCDDA alerta que o consumo de canábis pode causar ou agravar uma série de problemas de saúde física e mental, incluindo sintomas respiratórios crónicos, dependência e sintomas psicóticos.

Segundo o relatório, dada a complexidade do mercado e a variedade de produtos disponíveis, torna necessária uma maior investigação sobre os desafios específicos enfrentados pelas pessoas que a consomem, a fim de identificar as opções de tratamento mais eficazes.