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O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou esta terça-feira à abertura de todas as vias “possíveis” de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, onde “o horror” deve parar imediatamente e os trabalhadores da organização devem ser protegidos.

Guterres falou assim na sua intervenção inaugural na Conferência Internacional sobre uma Resposta de Emergência para Gaza, a decorrer na região do mar Morto, no sudoeste da Jordânia, e na qual se procura definir um plano de emergência para a resposta humanitária ao território palestiniano há mais de oito meses sob ataque de Israel.

No discurso proferido, o responsável máximo das Nações Unidas expressou o seu apoio ao plano – apresentado pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, e que obteve na segunda-feira o apoio do Conselho de Segurança por meio de uma resolução – para um cessar-fogo e para a libertação de reféns israelitas nas mãos do movimento islamita palestiniano Hamas, exortando todas as partes a aproveitarem “a oportunidade e chegarem a um acordo”.

O horror tem de acabar. Chegou a altura de um cessar-fogo, em paralelo com a libertação incondicional dos reféns (…). Apelo a todas as partes para que respeitem as suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário, o que inclui a entrada de ajuda em Gaza e a respetiva distribuição dentro de Gaza”, defendeu Guterres.

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Nesse sentido, sublinhou que “todas as rotas para Gaza” devem estar operacionais e que a utilização de “rotas terrestres é fundamental”.

Desde o início do conflito, a 7 de outubro do ano passado, Israel bloqueou o acesso à Faixa de Gaza, e a ajuda só tem entrado através da passagem fronteiriça de Rafah com o Egito, atualmente encerrada, ou pela passagem de Kerem Shalom.

Guterres vincou também que a segurança do pessoal da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) é “vital” para a distribuição da ajuda e que as partes no conflito devem “garantir a sua segurança”, além de exigir uma utilização de “equipamento de segurança e de comunicações” proporcional aos riscos de trabalhar numa zona de conflito.

“Tal exige esforços imediatos para abrir vias dentro de Gaza que estão cobertas de minas e munições por explodir”, acrescentou.

Recordou igualmente que todos os civis “devem ser autorizados a procurar a sua segurança, e que os civis e as infraestruturas de que dependem nunca devem ser militarizados nem transformados em alvos”.

Por essa razão, Guterres exigiu “total responsabilização” por “todas e cada uma” das 193 mortes de trabalhadores da UNRWA causadas pelos bombardeamentos israelitas à Faixa de Gaza.

Os funcionários da UNRWA trabalham no território palestiniano em “condições de pesadelo” e “vão trabalhar quando as suas casas são destruídas e os seus entes queridos são mortos”, frisou.

“Sem estas pessoas corajosas, as operações de ajuda em Gaza acabariam. A UNRWA é a coluna vertebral desta resposta humanitária e tem sofrido de forma intolerável juntamente com o povo que está a ajudar (…). Deve haver uma total responsabilização por todas e cada uma destas mortes. Os ataques ao pessoal da ONU e às suas instalações são inaceitáveis”, insistiu.

A terminar a sua intervenção, Guterres declarou que, em última análise, a solução para a crise humanitária em Gaza “é política”, defendendo que a única hipótese é abrir caminho para uma “paz sustentável, assente em dois Estados, Palestina e Israel, coexistindo lado a lado em paz e segurança”.

“Trabalhemos em conjunto para que tal se torne realidade e para responder ao atual apelo para a ação em prol dos palestinianos de Gaza, que se encontram num estado de necessidade tão profundo e urgente”, concluiu.

Na conferência, o diplomata egípcio Ahmed Abulgheit, secretário-geral da Liga Árabe – organização que reúne 22 países do Médio Oriente e do norte de África – destacou esta terça-feira “o papel fundamental” da UNRWA para impedir o colapso humanitário em Gaza, apelando para a sua proteção dos “planos israelitas” para a destruir e para que “se faça tudo o que for possível para impedir” que o “plano satânico” de Israel de um “genocídio palestiniano” tenha êxito.

“O crime de matar deliberadamente à fome a população de Gaza é um crime de guerra documentado, e o genocídio é uma espada que pende sobre a garganta de centenas de milhares de pessoas em Gaza. O objetivo da agressão, como fica claro dia após dia, é levar a cabo este genocídio, tornando o território inabitável, o que retira qualquer vestígio de dignidade a Israel”, sublinhou o responsável.

Dirigindo-se aos representantes de 75 países participantes na conferência, Abdulgheit defendeu que todas as medidas relativas à ajuda à Palestina devem contribuir para impulsionar a solução de dois Estados, a única alternativa “para trazer estabilidade à região e ao mundo”.

Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.

O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) – desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel – fez também 251 reféns, 120 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.

A guerra, que entrou esta terça-feira no 249.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 37.164 mortos e 84.832 feridos, além de cerca de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após oito meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.