De um lado, a seleção que é a eterna candidata. Do outro, a seleção que está em franco crescimento. Bélgica e Eslováquia encontravam-se em Frankfurt na primeira jornada do Grupo E, já depois de a Roménia ter derrotado a Ucrânia, e sabiam desde logo que eram as duas favoritas às duas vagas de apuramento direto para os oitavos de final do Euro 2024.

A Bélgica aparecia no Campeonato da Europa em plena mudança de geração, depois da saída de Roberto Martínez e da chegada de Domenico Tedesco, sem Courtois e Hazard, ainda com De Bruyne e Lukaku e já com Jérémy Doku ou Onana. Já a Eslováquia surgia no Europeu depois de uma qualificação em que só perdeu com Portugal e na terceira fase final consecutiva, algo que só espelha a evolução recente.

Assim, e com muitas baixas por lesão no setor defensivo, Tedesco apostava numa defesa inédita com Carrasco e Castagne nas alas e Wout Faes e Debast (futuro jogador do Sporting) no eixo central. Mais à frente, Doku e Trossard apareciam no apoio ao inevitável Lukaku. Do outro lado, Francesco Calzona tinha Bozenik, avançado do Boavista, como referência ofensiva, sendo que o capitão Skriniar era a óbvia figura da equipa.

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O jogo começou com uma enorme oportunidade da Bélgica, com Lukaku a permitir a defesa de Dúbravka na cara do guarda-redes (2′) — algo que seria uma tendência de toda a primeira parte. Os belgas voltaram a desperdiçar logo depois, com o mesmo Lukaku a falhar novamente perante Dúbravka (5′), e a Eslováquia não perdoou. Na primeira aproximação à baliza contrária e na sequência de um erro de Doku, Bozenik rematou para defesa de Casteels e Ivan Schranz, na recarga, atirou para abrir o marcador (7′). 

A lógica manteve-se até ao intervalo, com a Bélgica a ter mais bola e maior presença no meio-campo adversário, mas longe de ter o jogo controlado e a permitir muito à Eslováquia em termos ofensivos. Haraslín ficou muito perto de aumentar a vantagem, com um remate que Casteels defendeu (40′), e Lukaku ainda teve tempo para voltar a falhar uma ocasião escandalosa ao conceder nova defesa de Dúbravka na cara do guarda-redes (41′). No fim da primeira parte, havia surpresa em Frankfurt e os eslovacos estavam a vencer os belgas.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e Domenico Tedesco limitou-se a trocar Doku e Trossard, colocando o primeiro na esquerda e o segundo na direita. A Bélgica colocou a bola no fundo da baliza ainda antes da hora de jogo, através de Lukaku, mas o lance acabou por ser anulado por fora de jogo do avançado (56′) e o selecionador lançou Bakayoko para tirar Mangala.

A Eslováquia recuou e procurou segurar a vantagem, a Bélgica continuou a carregar e a desperdiçar oportunidades, entre Lukaku e Bakayoko. Até ao fim, Lukaku voltou a marcar e voltou a ter um golo anulado (86′), desta feita por mão na bola de Openda num ponto anterior da jogada. E já nada mudou até ao fim: num jogo onde muito desperdiçaram e ainda tiveram dois golos invalidados, os belgas protagonizaram a primeira surpresa do Euro 2024 e perderam com a Eslováquia, que agora divide a liderança do Grupo E com a Roménia.

A pérola

Naturalmente, Ivan Schranz. O jogador do Slavia Praga foi o responsável pelo golo que deu a importante vitória da Eslováquia contra a Bélgica — e não só rematou para marcar como assinou o desvio anterior que deixou Bozenik bem enquadrado para atirar à baliza, num pontapé que originou a sua própria recarga. Aos 30 anos, Schranz estreou-se a marcar em fases finais de grandes competições e desde logo na primeira partida de um Campeonato da Europa.

O joker

Martin Dúbravka. Numa seleção com pouca experiência ao mais alto nível, o guarda-redes acaba por ser a exceção à regra com as passagens pela Premier League à boleia do Newcastle e do Manchester United: um comprovativo de qualidade que deixou bem claro esta segunda-feira, com as defesas consecutivas que impediram golos de Lukaku e a ideia de que é a última fortaleza da Eslováquia.

A sentença

Com este resultado e com a vitória da Roménia contra a Ucrânia, a Bélgica está em maus lençóis no Grupo E. Os belgas estão atualmente em igualdade pontual com os ucranianos e terão de derrotar os romenos, que já provaram ser um osso duro de roer, para manter viva a esperança de passar diretamente aos oitavos de final do Euro 2024. Tudo num grupo onde eram dados como absolutos favoritos.

A mentira

A Eslováquia não é um wilcard. A participar no terceiro Europeu consecutivo, a seleção de Francesco Calzona conta com jogadores experientes como Dúbravka e Skriniar e associa esse fator à qualidade de Bozenik, Lobotka ou Haraslín, assumindo esta segunda-feira a vontade absoluta de não ficar pela fase de grupos.