A situação é instável. Parte do país está destruído e muitos são os ucranianos que travam batalhas com as forças russas desde fevereiro de 2022. No entanto, em pleno Campeonato da Europa, há espaço para a distração possível e o futebol atua como uma espécie de escape, levando milhares de militares ucranianos a fazer uma “pausa” no conflito para assistir à seleção ucraniana, a grande fonte de alegria do país em tempos conturbados.

Ucrânia (Grupo E). O sonho de uma geração é a vitamina de toda uma nação

“O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida”, disse, um dia, o italiano Arrigo Sacchi. A frase podia perfeitamente aplicar-se ao que se viveu durante a tarde de segunda-feira na Ucrânia. O país parou para assistir à estreia no Europeu, ainda que, no terreno, a tarefa não tenha sido fácil devido às constantes perdas de conexão com a rede móvel.

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Perante a goleada sofrida diante da Roménia (3-0), poucos foram aqueles que ficaram agradados com a exibição ucraniana. Um desses casos foi o de Volodímir, soldado da 108.ª Brigada das Forças de Defesa Territorial que, ao El País, afirmou ser “melhor que a conexão caia”, confidenciando ainda que o seu jogador favorito é o avançado Artem Dovbyk, do Girona. Já o soldado Kipish, que foi jogador do extinto Metalurg Mariupol, frisou que aquele “é apenas um jogo” e “nada acontece”. 

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O jogo foi apenas uma desculpa para ambos se juntarem a cerca de 20 quilómetros da linha da frente, em Zaporíjia, e tirarem o seu foco da guerra. O local peca por simples dadas as condições, mas foi escolhido ao pormenor: trata-se de uma fazenda que alberga o centro de comunicações da brigada, o que, na teoria, iria facilitar a transmissão do jogo. Acabou por não acontecer.

Quem também esteve presente foi Dima, assessor de imprensa daquela Brigada, que confessou não ser adepto de futebol e que só soube há poucos dias da presença da Ucrânia na prova que decorre na Alemanha. “Um jornalista norueguês contou-me e perguntou-me se havia adeptos de futebol na nossa unidade de atiradores. Nem eu nem os rapazes entendemos o porquê de ele nos ter convidado”, partilhou ao El País, antes de o grupo recolher. A próxima partida será na sexta-feira, mas ninguém sabe se conseguirá assistir. Afinal, a luta continua e o apito final continua longe.