As Nações Unidas (ONU) alertaram esta terça-feira que a fome está “iminente” no Sudão, país devastado pela guerra onde 7.000 novas mães poderão morrer nos próximos meses se não tiverem acesso a alimentos e cuidados de saúde.

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação no Sudão, a diretora de Operações e Advocacia do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA), Edem Wosornu, descreveu o cenário como “uma corrida contra o tempo” para evitar a perda massiva de vidas nesta crise sem precedentes de proteção e segurança alimentar.

Quase cinco milhões de pessoas enfrentam níveis de emergência de insegurança alimentar, sendo que nove em cada dez pessoas estão em áreas afetadas por conflitos nos estados de Darfur, Kordofan, Aj Jazirah e Cartum.

Mais de dois milhões de pessoas em 41 focos de fome correm alto risco de cair numa fome catastrófica nas próximas semanas, assinalou Edem Wosornu, alertando para relatos de mulheres que estão a ver os filhos morrerem de fome.

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Os serviços básicos estão em colapso nas zonas afetadas por conflitos, incluindo cuidados de saúde e sistemas de água e saneamento.

“As mulheres grávidas correm um risco aumentado de desnutrição aguda. De acordo com a ONU Mulheres, 7.000 novas mães poderão morrer nos próximos meses se não tiverem acesso a alimentos e cuidados de saúde“, disse Wosornu.

Segundo a ONU, se os agricultores não receberem imediatamente as sementes certificadas de que necessitam para a época de plantação, a situação de segurança alimentar piorará ainda mais.

O Sudão continua a enfrentar devastadoras consequências políticas, de segurança e humanitárias dos combates que eclodiram em abril de 2023 entre as Forças Armadas Sudanesas, chefiadas pelo general Abdel Fattah al-Burhan, líder militar do Sudão e presidente do Conselho Soberano de Transição, e as Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar sudanês liderado pelo general Mohamed Hamdan Dagalo.

Num alerta sobre a “deterioração implacável” das condições da população na maior parte do país, a representante do OCHA garantiu esta terça-feira ao corpo diplomático que o Sudão “continua mergulhado no caos”, apesar de o Conselho de Segurança ter aprovado na semana passada uma resolução que exige que as RSF suspendam o cerco a El Fasher, capital do estado do Darfur do Norte.

Catorze meses de conflito criaram um pesadelo para os civis no Sudão, com o povo de El Fasher atualmente “no epicentro”, afirmou Edem Wosornu, indicando que as vidas de 800 mil pessoas estão em jogo.

Após constantes ataques, mais de 80% dos hospitais e clínicas do Sudão não funcionam em algumas das áreas mais afetadas.

“Infelizmente, a violência em El Fasher é apenas a ponta do iceberg. (…) No ataque das RSF à aldeia de Wad Al-Noura, no estado de Aj Jazirah, em 5 de junho, mais de 100 pessoas foram mortas – entre elas dezenas de crianças”, disse.

Os bombardeamentos indiscriminados continuam a prejudicar a vida quotidiana de milhões de pessoas nos estados de Darfur, Kordofan, Cartum e Aj Jazirah, matando, ferindo e mutilando civis, e danificando grande parte das infraestruturas restantes, acrescentou.

Juntamente com o conflito, aumentam também os casos de violência sexual. Segundo Edem Wosornu, as taxas de suicídio entre sobreviventes estão a aumentar e o acesso aos serviços de violência baseada no género está a diminuir.

Na reunião desta terça-feira, esteve também presente a secretária-geral adjunta da ONU para África, Martha Pobee: “Não podemos dar-nos ao luxo de ser espetadores passivos. Uma solução negociada continua a ser a única saída para este conflito”, defendeu.

Face à situação no país, os 11 Estados-membros do Conselho de Segurança signatários dos Compromissos Partilhados sobre Mulheres, Paz e Segurança emitiram um comunicado para expressar preocupação sobre a terrível situação das mulheres e raparigas no Sudão e reiteraram os apelos a um cessar-fogo imediato em todo o país e ao pleno cumprimento do embargo de armas.