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A guerra na Ucrânia, o fantasma do regresso de Trump e os líderes mais próximos de Putin. Que desafios enfrenta Mark Rutte na NATO?

Este artigo tem mais de 6 meses

O pragmatismo de Mark Rutte vai ser posto à prova em outubro, quando assumir a liderança da NATO. O "senhor Teflon" enfrentará vários desafios, dentro e fora da aliança militar.

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Mark Rutte, de 57 anos, vai assumir o leme da NATO a 1 de outubro

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Mark Rutte, de 57 anos, vai assumir o leme da NATO a 1 de outubro

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Mark Rutte foi nomeado esta quarta-feira para o cargo de secretário-geral da NATO, assumindo funções a 1 de outubro. O primeiro-ministro dos Países Baixos, de 57 anos, considera a nomeação uma “enorme honra” e garante que não assume o cargo “levianamente”.

Nas reações que se seguiram ao anúncio – uma formalidade após a desistência do concorrente Klaus Iohannis, Presidente da Roménia, ter deixado o caminho em aberto –, vários líderes europeus destacaram a experiência do político dos Países Baixos. Com quatro mandatos, Rutte é primeiro-ministro há mais de 13 anos, um exemplo de longevidade na política do país.

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A experiência e o pragmatismo de Rutte, que é destacado em vários dos perfis sobre o neerlandês, vai ser posto à prova na liderança da Aliança. O “senhor Teflon”, o apelido dado pela imprensa pela elasticidade política e capacidade de adaptação que demonstrou na última década, vai receber uma mão cheia de desafios do antecessor Jens Stoltenberg.

A continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia

Sem um fim à vista no conflito, Rutte vai assumir funções a quatro meses de se assinalar o terceiro ano de guerra na Ucrânia. Também será o início do inverno na Ucrânia – nos últimos anos, tem sido um período marcado por apelos do Presidente Zelensky ao auxílio para resistir às baixas temperaturas enfrentadas sobretudo na linha da frente de batalha.

A Rússia tem usado o inverno para ataques direcionados às infraestruturas energéticas ucranianas. Por isso, será expectável que o Presidente ucraniano recorra à aliança para pedir mais sistemas de defesa aérea.

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Rutte com Vladimir Putin, numa fotografia de 2014

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A atenção à Rússia e à constante ameaça do nuclear

Ao mesmo tempo em que terá de gerir as expectativas da Ucrânia sobre o apoio dos aliados, e a sua adesão à Aliança, argumento usado pelo Kremlin para invadir o país vizinho em fevereiro de 2022, Rutte terá de lidar com uma Rússia que considera a NATO como um “inimigo”.

Moscovo reagiu esta quarta-feira à nomeação de Rutte com uma declaração curta, mas direta:.”É pouco provável que esta escolha mude alguma coisa na linha geral da NATO”, disse Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin. “Neste momento, esta é uma Aliança que é um inimigo para nós.” 

As relações entre os dois blocos ficaram ainda mais tensas depois de a União Europeia (UE) e os Estados Unidos terem autorizado o uso de armamento ocidental pelas forças ucranianas em território russo, em zonas de onde partam ataques russos. E as recentes sanções bem como a aprovação da utilização de juros dos ativos russos congelados para ajudar militarmente Kiev, bem como o ataque ucraniano a uma praia da Crimeia com mísseis dos EUA, só vieram agravar o cenário, onde a ameaça nuclear tem sido uma constante.

A invasão da Ucrânia serviu de aviso a vários países da região, como a Finlândia ou a Suécia, que repensaram a estratégia de segurança ao ponto de avançarem com a adesão à NATO. Ao sinal das primeiras conversações sobre a adesão, surgiram logo as ameaças de Putin. O tom foi escalando à medida que o processo de adesão avançava. “A NATO não é uma garantia de segurança para a Suécia, é uma garantia de risco”, disse Konstantin Kosachev, vice-líder do Conselho da Federação Russa.

“É um passo absolutamente insignificante do ponto de vista de garantia dos seus interesses nacionais”, declarou Putin à agência estatal russa RIA, em fevereiro deste ano, já após as adesões à NATO. “Antes não tinham soldados [na fronteira com a Finlândia], agora vão ter. Antes não havia sistemas de destruição lá, agora vão aparecer.”

Em simultâneo, paira a recorrente ameaça nuclear. Esta semana, o Kremlin anunciou que está a trabalhar na atualização da doutrina nuclear, de forma a ficar “em linha com as realidades atuais”. De acordo com a Sky News, a doutrina nuclear poderá ser atualizada para especificar que a Rússia pode usar armamento nuclear em resposta a um ataque do mesmo tipo ou na eventualidade de um “ataque convencional que represente uma ameaça existencial” ao Estado russo.

O reforço de laços entre a Rússia e a Coreia do Norte, que também tem armas nucleares, não ajudou a amenizar a tensão. Os dois países assinaram recentemente um pacto de defesa mútua em caso de agressão.

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O fantasma de umas eleições que façam regressar o imprevisível Trump

A aliança militar de 32 nações enfrenta ainda o fantasma do possível regresso de Donald Trump à Casa Branca. Os quatro anos em que a estrela de reality shows esteve na Presidência dos EUA, entre 2016 e 2020, foram atribulados devido ao ceticismo do empresário em relação à aliança e à questão da contribuição financeira. Em várias ocasiões, Trump ameaçou reduzir o contributo norte-americano para o orçamento da NATO.

Rutte vai assumir funções apenas quatro semanas antes de os norte-americanos irem às urnas. Na eventualidade de as eleições presidenciais de 5 de novembro ditarem a vitória republicana, Rutte terá de averiguar se as várias ameaças do empresário se confirmam.

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Rutte com Donald Trump, numa visita aos EUA em 2019

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Em fevereiro, num comício na Carolina do Sul, Trump disse que se for reeleito “encorajaria” Vladimir Putin a invadir os países da NATO que não paguem as contribuições devidas para a aliança. O ex-Presidente recordou uma conversa que teve com líderes dos Estados-membros da NATO, mencionando um responsável de “um grande país” que lhe perguntou o que faria se a Rússia invadisse o seu país numa altura em que não estivesse a cumprir as suas obrigações financeiras para com a Aliança. “Eu disse: ‘Não pagaste, seu delinquente? Não, não vos protegeria. Na verdade, até os encorajaria a fazer o que quisessem. Vocês têm de pagar”, declarou.

Trump diz que “encorajaria” Putin a invadir países da NATO que não paguem o suficiente

Como seria de esperar, as declarações não caíram bem junto de vários membros da aliança. Joe Biden, o Presidente dos EUA, classificou os comentários como “angustiantes e perigosos”. O embaixador da Suécia para a NATO, país que se juntou à aliança militar este ano, antecipou políticas “problemáticas” caso Trump seja reeleito.

O jornal Politico refere ainda que, caso Trump regresse, também fica em xeque a possibilidade de uma possível adesão da Ucrânia à NATO. Noutro evento de campanha, em Detroit este mês, Trump atirou achas para a fogueira do apoio financeiro dos EUA à Ucrânia. Descreveu Zelensky como “talvez o maior vendedor entre qualquer político que já viveu”. “Sempre que vem ao nosso país sai daqui com mais 60 mil milhões.”

A complexa questão das contribuições

O problema do financiamento da aliança militar e a contribuição dos países membros é precisamente um dos desafios de Rutte. Há dez anos foi feita a promessa de que cada membro deveria gastar 2% do PIB em defesa militar. Embora esta semana tenha sido celebrado o recorde de 23 membros a chegar ao objetivo, ainda há um terço dos países que não atingiu o patamar de referência.

Vários países do sul da Europa, incluindo Portugal, compõem esse terço de incumprimento da meta. Paulo Rangel, o ministro dos Negócios Estrangeiros, anunciou na semana passada que Portugal está a preparar um plano para tentar alcançar os 2% do PIB em defesa até 2030. Este ano, estima-se que 1,55% do PIB seja investido em defesa.

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Rutte terá de apelar aos membros em incumprimento para aumentar o investimento em defesa. Até porque, conforme disse um diplomata da região dos Balcãs ao jornal Politico, “o pobre registo dos amigos mediterrâneos” arrisca tornar-se a “arma perfeita para Trump”.

As relações difíceis com alguns membros (e aliados de Putin)

Depois, há ainda a complexidade dos diferentes Estados membros. Rutte não é uma figura simpática para todos os aliados da NATO, mas vai ter de gerir algumas relações delicadas entre Estados. Um desafio, já que qualquer decisão da aliança implica um consenso total entre os 32 membros. 

A Hungria é um dos principais exemplos de um membro mais afastado da visão geral da NATO, até pela proximidade entre o primeiro-ministro Viktor Orbán e o regime de Vladimir Putin.

A postura do país já foi um motivo de instabilidade na Aliança em algumas ocasiões. Por exemplo, a Hungria foi o último membro a ratificar o processo de adesão da Suécia à NATO, com acusações de que a Suécia tinha demonstrado “hostilidade”.

Já este ano, a questão foi o apoio à Ucrânia, obrigando a negociações “difíceis” entre Orbán e Stoltenberg. Este mês, Jens Stoltenberg, o ainda secretário-geral da NATO aceitou a decisão húngara de não participar no esforço de defesa da Ucrânia, mas exigiu garantias de que a Hungria não se vai opor, através do seu poder de veto, aos esforços de outros países para apoiar a Ucrânia.

A Turquia é outro exemplo de uma relação desafiante. Ao longo de 2023, o país ameaçou usar o seu poder de veto para impedir a adesão da Suécia à aliança militar. Erdogan exigiu que a Suécia reforçasse as suas leis anti-terrorismo e extraditasse as pessoas acusadas de atividades terroristas. Em janeiro, após vários meses de impasse, o Presidente turco deu luz verde à entrada da Suécia para a Aliança.

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