Entre os diversos espaços museológicos existentes em Fátima, há um que se destaca pela simplicidade e pela discrição: trata-se da Casa das Candeias, dedicada aos santos Francisco e Jacinta Marto.

Pertença da Fundação Francisco e Jacinta Marto, a Casa das Candeias, a poucas centenas de metros a norte do Santuário, “é um espaço para, a partir de objetos que a Causa [da beatificação] possuía, levar os peregrinos a fazer um itinerário espiritual que permita, por um lado, conhecer a vida e a santidade de Francisco e da Jacinta, mas, por outro, que os toque na sua própria vida”, explicou a diretora, Ângela Coelho.

A Superiora-Geral da Aliança de Santa Maria adiantou que a designação de “casa” advém do facto de quererem que “fosse algo com dimensão intimista e, também, com a dimensão do quotidiano, porque a santidade passa-se num tempo e num espaço e numa história muito concreta”.

“Por outro lado, ‘das Candeias’, porque Candeias foi a palavra que João Paulo II, no dia da beatificação, utilizou durante a homilia para os definir. Chamou ao Francisco e Jacinta duas Candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas horas sombrias e inquietas”, adiantou a religiosa, que também é médica.

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O espaço, que abre com uma foto do esboço de um quadro de Dina Belotti, que deveria ser usado na fachada da catedral de S. Pedro, se a beatificação dos pastorinhos tivesse ocorrido em Roma, e com duas esculturas de Carvalheira da Silva, uma do Anjo [com asas, contrariamente à descrição feita por Lúcia] e da Nossa Senhora dos Valinhos.

Depois, é possível ver objetos da vida de Francisco e Jacinta, “precisamente para indicar que a santidade e a vida deles e a nossa é no quotidiano, não é nada que nos é pedido extra“, enfatizou a irmã Ângela.

Dois retratos de Francisco e Jacinta, que estiveram na origem das primeiras pagelas feitas [nos anos 60 do século XX], idealizadas pelo padre Luís Kondor [sacerdote húngaro, radicado em Fátima desde 1954, e que foi vice-postulador da Causa da Beatificação de Jacinta e Francisco Marto, falecido em 2009], compõem um núcleo mais dedicado às crianças, que são convidadas a entrar num jogo, respondendo a questões sobre os pastorinhos e a sua experiência nas aparições.

Quadros pintados por uma religiosa carmelita, retratando as aparições de acordo com as indicações de Lúcia, a veste batismal dos pequenos videntes e as fotos dos certificados de nascimento, batismo e morte estão também patentes neste espaço visitado, desde 2014, por mais de 58 mil pessoas de 18 nacionalidades.

Quando as crianças aqui entram, imediatamente se identificam com eles [pastorinhos], porque são das suas idades e só isto é para muitos uma grande surpresa”, afirmou.

Ângela Coelho manifestou também grande satisfação por estar a crescer o culto a Francisco e Jacinta, “por um sinal que é muito significativo, que é paróquias, instituições, grupos religiosos, pedirem relíquias para colocar nas suas capelas ou nas paróquias. Há imensos pedidos por esse mundo fora”.

Por outro lado, há as “capelas ou altares nas paróquias que estão a ser dedicados aos pastorinhos”.

Para o futuro, poderá estar a integração da Casa das Candeias no roteiro que os peregrinos já cumprem com a ida a Aljustrel, aos Valinhos ou à Loca do Cabeço, “espaços concretos da vivência” das aparições.

“Aqui é uma oportunidade para se conhecer a espiritualidade por detrás dos objetos ou por detrás dos espaços. Incluir o espaço da casa das Candeias neste itinerário das casas dos videntes é muito enriquecedor para os peregrinos“, admitiu a diretora.

Casa da Irmã Lúcia reabre após oito meses de obras de restauro

Já a Casa da Irmã Lúcia, em Aljustrel, Fátima, que recebe 300 mil visitantes por ano, vai ser reaberta ao público na sexta-feira, após oito meses de obras de restauro e de museologia, que custaram mais de 338 mil euros.

Marco Daniel Duarte, diretor do Departamento de Estudos e do Museu do Santuário de Fátima, explicou que, “do ponto de vista da museologia”, a Casa-Museu foi preparada olhando para o imóvel “na perspetiva do que os peregrinos procuram encontrar”.

“Não a Lúcia [religiosa] doroteia ou carmelita, mas a Lúcia da infância”.

A intervenção foi feita a partir dos relatos de Lúcia de Jesus nas suas Memórias e “outros escritos, onde refere o que havia em cada divisão”.

Em cada divisão, são projetadas frases escritas pela Irmã Lúcia, a mais velha dos três pastorinhos que, em 1917, foram protagonistas dos acontecimentos de Fátima.

“Lúcia é uma figura incontornável de uma história globalizada desde a primeira hora”, pelo que “não é de estranhar que à sua volta se tenham criado narrativas que não correspondem à verdade”, disse o diretor do Museu do santuário, durante uma visita à casa dirigida aos órgãos de comunicação social, a anteceder a inauguração oficial das obras, agendada para o final da tarde de quinta-feira.

Para evitar incorreções, toda a intervenção foi sustentada em documentos escritos.

Marco Daniel Duarte sublinhou que o trabalho foi pluridisciplinar, acrescentando que também a casa dos santos Francisco e Jacinta Marto — primos de Lúcia –, a 200 metros de distância, vai ser objeto de restauro e de intervenção museológica.

A casa onde Lúcia de Jesus nasceu e viveu nos seus primeiros anos de vida com os seus pais e irmãos foi palco dos primeiros interrogatórios aos videntes.

A reabertura da Casa-Museu da Irmã Lúcia ocorre em plena semana do curso de verão deste ano do Santuário de Fátima, que tem como tema “Lúcia de Jesus: de criança anónima a figura maior do catolicismo contemporâneo”.

Nesta edição, pretende-se aprofundar a biografia e o contexto histórico em que viveu a vidente de Fátima, com especial foco para as instituições religiosas a que pertenceu.

No dia 13, assinala-se o primeiro aniversário da leitura do decreto que proclama as “virtudes heroicas” da Irmã Lúcia, cuja promulgação foi autorizada pelo Papa Francisco em 22 de junho de 2023.

A promulgação deste decreto, lido em Fátima pelo bispo de Coimbra, Virgílio Antunes, “abre caminho à beatificação da irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (…), figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições na Cova da Iria, em 1917, faltando agora um milagre”.

A Irmã Lúcia, a mais velha dos três videntes de Fátima, é considerada pelos responsáveis do santuário da Cova da Iria como “figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições”, em 1917.