Rishi Sunak deixa para mais tarde o seu futuro. Será em Londres, para onde viajou depois de assumir a derrota, que falará mais “sobre os resultados” das eleições que provocaram uma hecatombe no Partido Conservador. Segundo as projeções, será o pior resultado da história do partido.

O ainda primeiro-ministro britânico, que decidiu antecipar as eleições para este 4 de julho, surpreendendo o país, ganhou, no entanto, o seu círculo eleitoral. Mas todos os comentadores vão dando como certa a sua demissão como líder do partido e já há quem se posicione para ocupar o seu lugar.

Para já, concedeu, mesmo antes dos resultados oficiais terem confirmado a maioria absoluta para o labour, a derrota. E pediu desculpa, assumindo a responsabilidade. “O partido trabalhista ganhou estas eleições gerais. Telefonei a Sir Keir Starmer para o felicitar pela sua vitória”. “Hoje, o poder vai mudar de mãos de uma forma pacífica e ordeira”, o que “nos deve dar confiança na estabilidade e no futuro do nosso país”. Jeremy Hunt, atual ministro das Finanças que também conseguiu a reeleição (por menos de mil votos de diferença), ao contrário do que as projeções antecipavam, também fez referência ao ato e deu graças à democracia e à forma como a mudança é feita em países democratas.

O Partido Conservador fala, agora, em aprender as lições desta eleição. A mais audível foi Suella Braverman, ex-ministra da Administração Interna, e eventual candidata à liderança do partido. Foi reeleita e com isso manteve essa possibilidade em aberto. Mas realçou a necessidade de “precisarmos de aprender a nossa lição porque, se não o fizermos, teremos muitos mais noites más no futuro”. E realçou: “Temos de fazer melhor e farei tudo o que estiver ao meu alcance para restabelecer a confiança”. Mas o puxão de orelhas chegou na sua declaração: “Só há uma coisa que posso dizer — desculpem. Peço desculpa que o meu partido não vos tenha ouvido. O Partido Conservador desiludiu-vos, a vocês o grande povo britânico, que votou em nós durante 14 anos e nós não cumprimos as nossas promessas. Atuámos como se tivéssemos direito ao vosso voto”.

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Não foi a única a elevar a voz. Kemi Badenoch, ministra da Igualdade, que também tem sido referida como potencial candidata ao partido conservador, fala também de vigor revigorado e energia. “É uma noite difícil para os conservadores”, salientou, acrescentando: “O povo falou e disseram alto e em bom som que os conservadores perderam a sua confiança. E perderam a confiança nos políticos o que é um grande risco”. Kemi Badenoch conseguiu ser eleita, também, ao contrário de outra eventual candidata que agora perde posição nessa corrida. Penny Mourdaunt, líder da Câmara dos Comuns, perdeu o lugar na eleição no seu círculo. No discurso que fez depois do anúncio da derrota, emocionada, declarou: “A qualquer pessoa que esteja desapontada, a democracia nunca erra”. Fala das razões para a derrota dos conservadores. “Se quisermos ser outra vez o poder os valores têm de ser as pessoas”. “O nosso país precisa de todos nós”, declarou, agradecendo aos seus apoiantes e desejando sorte a todos.

Sunak deixa também o recado de que “há muito para aprender e sobre o que refletir”, assumindo “a responsabilidade pela derrota” e pedindo desculpa pela derrota. Mas deixou a ideia de que irá assumir o seu lugar no parlamento. Falando diretamente aos seus eleitores garantiu que “estou ansioso para continuar a servir-vos como membro do Parlamento”, pretendendo passar mais tempo em North Yorkshire (o seu círculo eleitoral) nas “semanas, meses e anos que vêm aí”. Antecipava-se que quando deixasse de ser primeiro-ministro pudesse também deixar o parlamento. Mas o discurso, proferido ao lado da mulher Akshata Murty, mostrou o contrário.

Rishi Sunak fica, assim, para já na história como o líder conservador com o pior resultado de sempre, se as projeções forem confirmadas. O Partido Conservador deverá ficar com 131 lugares, pior mesmo que os 156 mandatos conseguidos em 1906 sob a liderança de Arthur Balfour. Na história recente, o pior resultado foi sob a liderança de John Major, em 1997, quando ficou com 165 deputados. Um resultado que foi apelidado de catastrófico ou massacre. “Um comprimido amargo para angolir”, declarou Hunt.

Pelo menos nove governantes perderam os seus lugares, como aconteceu com Penny Mourdaunt ou o ministro da Defesa, Grant Shapps. Poderão perder 241 lugares, quando os resultados foram fechados. A esta hora ainda há muitos por preencher. “Um veredicto preocupante”, assumiu Sunak.