O bastonário da Ordem dos Médicos disse este sábado que “não há nenhum plano para o verão (…) que seja capaz de sustentar aquilo que está a acontecer no SNS [Serviço Nacional de Saúde]”, frisando que são necessárias “intervenções”.

Essas intervenções devem fazer do SNS “mais atrativo”, para “que tenha os médicos de que necessita, o que neste momento não tem”, constatou Carlos Cortes, em declarações aos jornalistas, no final da cerimónia de tomada de posse dos novos órgãos sociais da Ordem dos Médicos Dentistas, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Isto porque, assinalou, o problema do SNS é “uma grande dificuldade” na captação de recursos humanos.

“Há dificuldades no verão, nós já sabemos que elas existem. Existem, curiosamente, como toda a gente sabe, todos os anos e não há resolução em nenhum ano. Parece que os Governos são sempre apanhados de surpresa com o verão, com o inverno…”, lamentou.

“Os planos estratégicos que têm que ser elaborados pelo Ministério da Saúde têm que ser publicados muito antes de acontecer a época sazonal a que se referem. (…) O plano estratégico [para o verão] do Ministério da Saúde já devia estar pronto desde janeiro deste ano e não esteve”, apontou o bastonário.

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Carlos Cortes acrescentou que existem ainda o plano de contingência da Direção-Geral de Saúde, “que foi apresentado atempadamente”, e dos hospitais, muitos dos quais, “lamentavelmente”, os apresentaram “muito tarde”.

Sobre a situação registada este fim de semana no Algarve, onde se têm verificado constrangimentos nas urgências, o bastonário admitiu que o plano de contingência que centraliza os recursos no hospital de Faro não é “a solução adequada”, mas “a solução possível”.

Carlos Cortes insistiu que a solução passa por captar médicos para o Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente para as especialidades mais carenciadas, como Pediatria e Ginecologia-Obstetrícia. “Não há nenhum plano que aguente esta situação e não há nenhum país no mundo que consiga dar uma resposta adequada (…) no meio desta escassez (…) de recursos humanos, nomeadamente recursos humanos médicos”, assinalou.

Sobre a meta de alargar a cobertura dos médicos de família no prazo de um ano, o bastonário considerou que “é uma previsão que pode ser difícil de cumprir”, mas possível “se o Governo se empenhar” em resolver o “número assustador de um milhão e 600 mil portugueses” que não contam com este serviço.

Acerca da greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam) na sexta-feira, o bastonário sublinhou que “são negociações sindicais, sobre temas laborais”, reconhecendo que há “um conjunto (…) de graves problemas em termos de condições de trabalho dos médicos, em termos de questões remuneratórias, que obviamente têm que ser rapidamente resolvidas. Elas já existiam no anterior Governo, transitaram para este Governo e merecem, obviamente, uma atenção do Ministério da Saúde”.

Compreendendo a atuação dos sindicatos, Carlos Cortes lembrou que “já há constrangimentos” na prestação de serviços de saúde mesmo greves de médicos e voltou a focar na “falta de condições de trabalho” no SNS. E apontou: “A reformulação da carreira médica, condições de trabalho adequadas, condições de formação para os médicos, a questão da dignificação remuneratória são todos aspetos muito importantes que obviamente têm que ser revistos por este Ministério da Saúde.”

Comentando o relacionamento com o atual Governo, em função há três meses, Carlos Cortes disse que “não há nenhum problema de comunicação” com o Ministério da Saúde e que os dossiês estão em cima da mesa. “Estamos a começar a trabalhar neles e espero que rapidamente — porque em saúde tudo é urgente — eles possam avançar e que se possam tomar medidas”, disse.