A primeira meia-final do Euro 2024 começou a jogar-se nas capas dos jornais. Em Espanha, o jornal Marca aproveitou a máscara de Mbappé para colocar os jogadores espanhóis com um adereço semelhante e atribuir-lhes o estatuto de super-heróis. Em França, o jornal L’Équipe aproveitou o momento político do país para usar uma frase feita contra a extrema-direita e lançar a manchete “no pasarán”, assim mesmo, em espanhol.

Nas conferências de imprensa, na verdade, a lógica não foi muito distinta. De um lado, depois de afastar a Alemanha, Luis de la Fuente sublinhava a “fé cega” que tinha nos próprios jogadores. “Vamos tentar minimizar as possibilidades deles. Estamos perfeitamente preparados, temos jogadores e ferramentas para ganhar. Confio no nosso potencial e na ideia de que somos superiores para vencer França. Tenho uma fé cega na minha equipa e estamos preparados para ganhar um jogo muito complicado que podia ser uma final”, explicou.

Do outro lado, depois de afastar Portugal, Didier Deschamps não escondia o favoritismo do adversário. “Espanha está a ser a melhor equipa do Europeu até agora e teve as melhores exibições em cada jogo. Todas as seleções espanholas têm um bom meio-campo, com capacidade para controlar o jogo. O Rodri, em particular, é essencial. Mas todos os jogadores deles são importantes”, atirou.

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Ora, era neste contexto que Espanha e França se defrontavam esta terça-feira, em Munique, na primeira meia-final do Euro 2024. Luis de la Fuente não contava com Dani Carvajal, que estava castigado, e ainda Pedri, que saiu lesionado dos quartos de final, enquanto que Didier Deschamps tinha Rabiot de volta depois de o médio ter falhado o jogo anterior por castigo. Assim, os espanhóis apresentavam-se com Jesús Navas na direita da defesa, enquanto que Dani Olmo surgia no meio-campo, e os franceses recuperavam a titularidade do mesmo Rabiot, com Dembélé a aparecer no lugar de Griezmann no ataque.

O jogo começou animado, com Fabián Ruiz a ter desde logo uma oportunidade para marcar com um cabeceamento que passou por cima após cruzamento de Lamine Yamal na direita (5′). Antes dos dez minutos iniciais, na verdade, o marcador já estava inaugurado: Mbappé aproveitou o espaço na direita, cruzou para o poste mais distante e Kolo Muani, praticamente sem oposição, atirou de cabeça para bater Unai Simón (9′).

Espanha demonstrava algumas dificuldades para parar Mbappé, que se apresentava sem máscara pela primeira vez desde que se lesionou contra a Áustria, e Jesús Navas não conseguia contrariar a velocidade do avançado francês. Ainda assim, pouco depois do quarto de hora inicial, um golpe de génio foi suficiente para empatar: Yamal recebeu na direita, puxou para dentro e atirou um remate em jeito perfeito, batendo Mike Maignan e tornando-se o mais novo de sempre a marcar num Campeonato da Europa (21′).

França não conseguiu reagir ao golo sofrido e Espanha aproveitou para carimbar a reviravolta logo depois. Dani Olmo recebeu na área, passou por dois adversários e atirou cruzado, com Koundé a ser o último a tocar na bola, mas a UEFA a atribuir o golo ao avançado do RB Leipzig (25′). Já nada mudou até ao intervalo e os espanhóis, com direito a reviravolta, desceram aos balneários da Allianz Arena a vencer os franceses.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e França revelou-se a equipa mais perigosa do início da segunda parte, com Tchouaméni a cabecear para Unai Simón defender (54′), Mbappé a atirar para o guarda-redes encaixar (57′) e Dembélé a rematar para nova defesa do guardião espanhol (60′). Luis de la Fuente mexeu pelo meio, trocando Jesús Navas por Dani Vivian, e Didier Deschamps respondeu com Camavinga, Griezmann e Barcola.

Os franceses continuavam a criar as principais situações de perigo, mas os espanhóis agarraram o controlo das ocorrências depois da hora de jogo e demonstraram uma solidez assinalável. Mantinham a posse de bola, não entregavam a iniciativa ao adversário e dominavam a profundidade, impondo o próprio ritmo e deixando a equipa de Didier Deschamps sem grandes recursos para ir atrás do empate.

Deschamps lançou Giroud a dez minutos do fim, já depois de De la Fuente ter colocado Merino e Oyarzabal, mas já nada mudou. Espanha venceu França em Munique e tornou-se a primeira finalista do Campeonato da Europa, ficando agora à espera do vencedor da outra meia-final para saber se encontra Inglaterra ou Países Baixos na final do próximo domingo, em Berlim.

O joker

  • Dani Olmo. O médio do RB Leipzig saltou para o onze inicial face à lesão de Pedri e tornou-se um dos elementos mais importantes da exibição de Espanha na meia-final — com direito a um golo, tornando-se o primeiro espanhol de sempre a marcar em três jogos consecutivos de um Campeonato da Europa. Aos 26 anos, começa a superar o estatuto de suplente que é sempre utilizado e a alcançar a posição de titular.

A pérola

  • Obviamente, Lamine Yamal. Depois de se tornar o jogador mais novo de sempre a participar num Campeonato da Europa, o avançado do Barcelona tornou-se o jogador mais novo de sempre a marcar num Campeonato da Europa — e desde logo com um golaço. A par de Nico Williams, é o principal desequilibrador da equipa de Luis de la Fuente, apoiando-se numa qualidade técnica e tática superior para se tornar o verdadeiro motor de um grupo onde alguns elementos têm o dobro da sua idade.

A sentença

  • Com esta vitória, Espanha regressa a uma final de um Campeonato da Europa 12 anos depois, mais de uma década após a final de 2012 que culminou com a conquista do Europeu da Polónia e da Ucrânia. Os espanhóis vão defrontar a quinta final da própria história, sendo que só perderam uma, em 1984, precisamente contra a França que derrotaram na meia-final desta terça-feira.

A mentira

  • França não era favorita à conquista do Euro 2024. O golo de Kolo Muani, nesta meia-final, foi o único que os franceses marcaram numa jogada de bola corrida, entre penáltis e autogolos, o que só demonstra a incapacidade ofensiva da equipa de Didier Deschamps. Naquela que poderá ter sido a verdadeira oportunidade de uma geração de conquistar o Campeonato da Europa, 24 anos depois da glória de 2000 e oito depois da desilusão de 2016, França teve a prestação mais pobre da era Deschamps em fases finais.