Joe Biden encerrou esta quinta-feira à noite a 75ª Cimeira da Organização do Tratado do Atlântico da Norte. Mas se os três dias do encontro em Washington foram dominados pela guerra na Ucrânia, a conferência de imprensa revelou-se antes um teste às suas capacidades na corrida à Casa Branca.

Nos Estados Unidos, houve grande antecipação para este encontro com os jornalistas. Afinal, tratava-se da primeira vez que o Presidente dos Estados Unidos falava aos jornalistas a solo desde novembro. Além disso, aconteceu na mesma semana em que Senadores democratas e outros apoiantes, incluindo George Clooney, pediram a Joe Biden que abdicasse do seu lugar de candidato às presidenciais, para um candidato mais jovem.

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Mesmo antes de começar, o norte-americano já tinha sofrido o primeiro percalço, depois de ter trocado o nome a Volodymyr Zelensky e lhe ter chamado Presidente Putin, num erro que rapidamente corrigiu. Já no auditório, Biden foi direto ao assunto: declarou o apoio incondicional da NATO à Ucrânia e seguiu rapidamente para a política nacional.

“A América tem de liderar o mundo. A nossa liderança importa, as nossas parcerias importam. Temos de estar à altura”, declarou. E como Presidente dos Estados Unidos da América, a sua liderança individual é igualmente importante. “Durante esta semana [da Cimeira], vários líderes fizeram questão de agradecer aos Estados Unidos e de me agradecer a mim pessoalmente”, partilhou, dizendo que não está a tentar ser vaidoso, ao partilhar os elogios.

Depois da sua breve intervenção, durante a qual também enumerou as conquistas alcançadas nos quatro anos de governação democrata, seguiu-se uma longa sequência de perguntas. Imediatamente, Biden foi confrontado pelos jornalistas com os pedidos dos apoiantes democratas.“Sou a pessoa mais qualificada para a corrida a Presidente”, respondeu com firmeza. “Ainda há um longo caminho nesta campanha, portanto vamos continuar, temos muito trabalho para acabar”, acrescenta.

Pelo meio, acabou por cometer um segundo lapso, em que se referiu a Kamala Harris como “vice-presidente Trump”, enquanto justificava que confiava plenamente no trabalho da vice-presidente, mas que não lhe ia entregar o lugar na corrida.

Este erro passou em claro no momento, mas Biden foi questionado sobre se falhas como a troca do nome de Zelensky representavam alguma incapacidade da sua parte para liderar, retorquiu com uma nova questão: “Já viu uma conferência de imprensa mais bem sucedida?”. “Eu acho que foi a conferência mais bem-sucedida em que estive há muito tempo e não vi nenhum líder que não pensasse o mesmo”, acrescentou, recusando questões e acusações à sua aptidão.

Logo a seguir foi confrontado com a promessa que fez em 2020 de cumprir o primeiro mandato na Presidência antes de passar o testemunho a um representante mais jovem. Justificou a mudança de decisão, afirmando que está “demasiado em risco”. “Não estou a fazer isto pelo meu legado, mas para acabar o trabalho que comecei”, argumentou.

Mais à frente, voltou a sublinhar que tem de terminar o trabalho que fez durante os últimos quatro anos e não pode abdicar quando a própria democracia está em risco. “Disseram-me que a democracia não era problema. Mas eu pergunto-lhe: não acha que as democracias estão debaixo de fogo? Com o Projeto 2025?”.

Já sobre a notícia de que tinha reduzido os horários de campanha, Biden admitiu que a forma como a informação foi transmitida se tratou de “um erro estúpido” e que este continua igualmente preenchido. As alterações são apenas uma forma de controlar melhor o seu ritmo, lidar com as diferenças horárias nas longas viagens e até de continuar a ter tempo para a família, explicou.

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Falando sobre os detalhes de campanha eleitoral para os próximos tempos, Biden argumenta que os democratas têm a campanha mais bem organizada que os Estados Unidos já viram. Campanha esta que se desenrolou em cima do palco da NATO.

O Presidente recandidato alargou-se em explicações sobre como diminuiu a inflação, apostou nas indústrias nacionais e nos trabalhadores, melhorou as condições da classe média, estabeleceu novas políticas migratórias e, em termos gerais, catapultou a economia dos Estados Unidos da América durante o primeiro mandato. “Digam-me um líder mundial que não queira estar no lugar da nossa economia!”, desafiou.

Já depois de encerradas as questões aos jornalistas, um repórter ainda se faz ouvir, confrontando Biden com o segundo lapso da noite e os que podem suscitar da parte de Trump. Antes de se afastar dos microfones, Joe Biden respondeu simplesmente “Oiçam-no a ele”, deixando implícito a opinião de que Donald Trump comete erros piores nas suas declarações.

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Na conferência de imprensa de encerramento da cimeira da NATO ainda houve espaço para falar da Ucrânia. O Presidente lançou o tema, dizendo ser o líder que a Aliança precisava. Segundo Biden, foi ele o responsável por antecipar a agressão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, coordenar os esforços internacionais para a proteção de Kiev e ainda liderar o alargamento da NATO, através da adesão da Suécia e da Finlândia.

Por oposição, deixou críticas à política externa de Trump, que considerou “nunca ter sido o seu ponto forte”. “O meu antecessor deixou claro que não tem compromissos com a NATO, que não sente qualquer obrigação de honrar o Artigo 5º. Ele já disse a Putin, e passo a citar: ‘Faz o que quiseres’. No dia depois de invadir a Ucrânia, ele disse que era genial e maravilhoso”, acusou.

Da sua parte, Biden disse estar pronto para dialogar com todos os líderes internacionais, incluindo Putin, se assim se proporcionar. “Estou pronto para falar com Putin, quando Putin estiver pronto para mudar a sua atitude“, prometeu.

Quanto aos pedidos de Zelensky para levantar as restrições à utilização de armas norte-americanas contra alvos russo, Biden argumentou que é dada a melhor utilização possível às armas que são entregues. Uma vez que estas são principalmente armas de defesa, as restrições atuais são as que fazem mais sentido. Mas assume que as autorizações são avaliadas numa base diária e podem mudar.

Joe Biden ainda reconheceu a preocupação das lideranças europeias no caso de uma reeleição de Donald Trump. “Oiço os meus parceiros europeus a dizer: ‘Joe, tens de ganhar, este tipo é um desastre’”, partilhou, negando novamente ser vaidoso.

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Também admitiu a preocupação ocidental face ao consolidar das relações entre Moscovo e Pequim e apresentou como solução o desenvolvimento de uma indústria de armamento ocidental que seja forte o suficiente para não precisar China. Em ambos, os casos apontou ainda a defesa comunitária da Aliança Transatlântica como a chave da segurança europeia.

Ainda houve espaço para falar sobre o cessar-fogo em Gaza. Joe Biden reafirmou o seu apoio à auto-defesa israelita, mas garantiu que a solução está na existência de dois Estados. O Presidente, que tem mediado as negociações de uma trégua, revelou que, logo em outubro, pediu a Netanyahu que não insistisse numa ocupação. “Não cometam o mesmo erro que a América depois de Bin Laden”, terá dito Biden aos israelitas.

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*Editado por Cátia Andrea Costa