O exército israelita lançou na manhã deste sábado um ataque aéreo no sul da Faixa da Gaza que tinha como alvo o comandante do braço militar do Hamas, Muhammad Deif. O Ministério da Saúde de Gaza denunciou que a ofensiva atingiu civis, provocando a morte de 90 pessoas e ferindo mais de 300.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) indicaram que Deif, que é considerado o responsável por orquestrar os ataques de 7 de outubro, estava num edifício entre a povoação de al-Mawasi e a cidade de Khan Younis, num ambiente civil. Estaria acompanhado pelo comandante da brigada de Khan Younis, Rafa’a Salameh, outro dos alvos do ataque. No local estavam também outros membros do Hamas, segundo revelaram ao Times of Israel fontes militares israelitas.
As áreas de al-Mawasi e oeste de Khan Younis são consideradas parte da zona humanitária designada por Israel. As IDF garantem, no entanto, que o ataque foi preciso e apenas atingiu o local onde se encontravam os elementos do Hamas. Ainda aguardam confirmação sobre se Deif e Salameh foram mortos.
As informações divulgadas por Israel são contrariadas pelo grupo palestiniano, que diz que o ataque atingiu um campo de refugiados. “As alegações são ridículas e servem para justificar um massacre horrível. Todos os mártires são civis e o que aconteceu foi uma grave escalada no conflito genocida, apoiado pela América e perante o silêncio do mundo”, disse à agência Reuters Abu Zuhri, do Hamas.
Quem é Muhammad Deif, o comandante das brigadas Al-Qassam que Israel quis abater?
Muhammad Deif foi o homem que esteve por trás dos ataques do Hamas a Israel a 7 de outubro, que provocaram a morte de 1.200 pessoas e deram início ao conflito de mais de dez meses. Foi precisamente o líder das brigadas Al-Qassam (o braço militar do Hamas) a anunciar a invasão “à luz dos crimes contínuos” contra o povo palestiniano e apelava: “matem os [inimigos da Palestina] onde quer que os encontrem.”
Desde 2002, após o assassinato do antigo líder, Saleh Shehada, que Deif está à frente das brigadas Al-Qassam. Desde então, e apesar de já ter sido alvo de vários ataques israelitas — tendo um resultado na morte da mulher e de um filho — tem conseguido escapar.
Mohammed Deif nasceu em 1965, no campo de refugiados Khan Yunis, em Gaza. Ainda antes de ajudar a fundar o grupo Hamas, em 1987, juntou-se à Irmandade Muçulmana, sendo particularmente ativo junto o seu braço armado, algo que o levou a ser detido e condenado a 16 meses de prisão.
O líder do Hamas não é visto em público há anos e são poucas as fotografias públicas dele. Em janeiro, o exército israelita publicaram uma imagem de um homem que diziam ser Mohammed Deif. Mostrava-o a descasar debaixo de uma árvore, a segurar um maço de dinheiro. Muito se especula sobre esta figura. Há quem diga que só tem um olho e que lhe faltam vários membros devido às tentativas de assassinato de que já foi alvo.
Os líderes do Hamas na mira de Israel
Ao longo dos mais de dez meses de conflito na Faixa de Gaza as forças israelitas têm lançado uma série de ataques para atingir os principais líderes do Hamas. Várias figuras do grupo palestiniano, como Ismail Haniyeh, considerado o principal líder, vivem no estrangeiro. No entanto acredita-se que muitas outros elementos da liderança militar permanecem em Gaza.
As IDF, que publicam individualmente o nome dos responsáveis do Hamas que já foram mortos, indicaram que já tiveram sucesso em 113 casos entre outubro e abril, como dava conta a BBC. No entanto, as ofensivas contra os líderes de topo não têm corrido como Israel esperava.
Exército reivindica morte do número três do braço armado do Hamas
Desde o início do conflito em Gaza, Marwan Issa, adjunto de Mohammed Deif e considerado o ‘número três’ do braço armado do grupo, foi o oficial de mais alto escalão do movimento palestiniano morto pelo exército israelita. Foi “eliminado num ataque complexo e preciso da Força Aérea, com base em inteligência do Exército e do Shin Beth”, segundo revelou em março o porta-voz das IDF, Daniel Hagari.
Antes disso Israel já tinha reivindicado a morte de Saleh al-Arouri, considerado o pai das Brigadas al-Qassam e vice-presidente do braço político do Hamas. Radicado no Líbano, tinha com cabeça a prémio por cinco milhões. Foi morto em janeiro num ataque com um drone em Beirute.
Na lista israelita continuam a constar muitos outros alvos do Hamas. Entre eles Ismail Haniyeh, o líder político do grupo palestiniano, que vive no Qatar. Várias tentativas para o assassinar resultaram na morte dos seus familiares. Outro elemento também na mira de Israel é Yahya Sinwar, o líder político do Hamas em Gaza que passou 22 anos em prisões israelitas por crimes terroristas.
Nota: texto atualizado às 21h10 com o novo número de vítimas mortais e de feridos