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Soldados russos estão a denunciar as táticas de guerra de Moscovo, acusando os próprios oficiais de utilizar as baixas patentes como “carne para canhão”. A mais recente ofensiva russa é composta por soldados rasos, prisioneiros libertados e pessoas mutiladas, relata o The Telegraph, numa reportagem publicada este domingo.
Soldados ucranianos, ouvidos pelo jornal britânico, confirmam esta realidade, partilhando que não é raro encontrarem russos já feridos e que não receberam cuidados médicos, assim como prisioneiros de guerra ucranianos a serem utilizados como escudos humanos por estas unidades.
“Oiçam-nos, por favor, oiçam-nos, oiçam-nos. Esta é a nossa última oportunidade. Não temos mais opções”, partilham vários soldados, alguns deles apoiados em muletas, num vídeo partilhado nas redes sociais. Os apelos são deixados aos oficiais, aos procuradores de guerra e ao próprio Vladimir Putin.
“Por que enviariam pessoas feridas e exaustas para batalha? É o mesmo que enviar pessoas para a morte. O comandante diz que amanhã temos de atacar novamente este edifício. Mas como podemos fazê-lo se estamos com dores, feridos e simplesmente sem força?”, questionam outros dois soldados, visivelmente ensanguentados, no vídeo traduzido pelo Telegraph.
O Kremlin nunca partilhou números oficiais sobre o número de soldados mortos, mas o Ministério da Defesa britânico estima que nos últimos dois meses tenham morrido 70 mil soldados russos na Ucrânia. Isto representa, em média, mais de 1000 soldados mortos por dia, números que devem continuar elevados durante o verão.
O aumento no número de mortes explica-se com o intensificar do conflito na região de Kharkiv durante o mesmo período. Já o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tinha argumentado que a ofensiva na região se estava a revelar mais pesada para Moscovo do que para Kiev. O Presidente ucraniano declarou que por cada soldado ucraniano morto tinham morrido seis russos, numa entrevista no dia 30 de junho.
O envio de soldados feridos para a frente de batalha assume-se, então, como uma forma de manter a linha de batalha à custa de vidas russas. “Apesar de esta nova abordagem ter aumentado a pressão na frente de batalha, uma defesa ucraniana eficaz e uma falta de treino russo reduz a capacidade da Rússia de explorar sucessos táticos, apesar de tentar esticar a frente de batalha”, pode ler-se no comunicado do Ministério da Defesa britânico.
“Esta é uma situação comum quando os soldados russos são capturados. Dizem que foram deixados à sua sorte, sem comida nem água, pelos seus próprios camaradas”, partilha um soldado ucraniano, que se identifica pelo nome Hunter.
É Hunter que relata a utilização de prisioneiros ucranianos como escudos humanos, confirmado por um outro soldado, Yuriy: “Claro, já vi prisioneiros de guerra, é escandaloso e está a destruir-nos por dentro. Esta atitude em relação aos prisioneiros de guerra é inaceitável e proibida pelas convenções“.
Apesar de alguns soldados se renderem e aceitarem os cuidados médicos — Vlad, um outro ucraniano, conta a história de um soldado russo que teve de ser amputado pelos médicos ucranianos, depois de uma ferida na perna que não foi tratada e infetou — são muitos os que continuam a disparar das suas posições e tentam até detonar granadas quando as forças ucranianas se aproximam.
Isto faz com os ucranianos se mostrem reticentes em ajudar sempre estes soldados que foram deixados para trás, explicam.
“Soldados Storm são carne para canhão”
Mas se a Rússia tem sofrido tantas perdas, como tem números para continuar a sacrificar soldados? A resposta está nas brigadas Storm. As Storm-Z foram estabelecidas em abril de 2023, como unidades militares para correção penal de prisioneiros, sem restrições aos crimes que tenham cometido. Tratam-se de brigadas com pouco treino e pouco equipamento, ou seja, pouco investimento ou consideração por parte do governo. Pouco tempo depois foram rebatizadas de Storm-V.
A utilização de táticas suicidas pelas Storm têm duas explicações. Por um lado, estes soldados são “olhados de lado” dentro do exército e tratados de forma diferente, à semelhança dos mobilizados com doenças infeciosas como “tuberculose ou VIH”, explicam os oficiais ucranianos.
Por outro lado, como linha de frente, têm ordens para não recuar ou abandonar os seus postos. “Se estas unidades retirarem, podem ser destruídas pelas unidades da retaguarda“, remata Hunter. “São apenas carne para canhão”.