O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lembrou esta terça-feira o primeiro-ministro húngaro que a presidência rotativa da União Europeia (UE) “não tem qualquer papel na representação na cena internacional”, após a polémica viagem de Viktor Orbán à Rússia.

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“A presidência rotativa do Conselho não tem qualquer papel na representação da União na cena internacional e não recebeu qualquer mandato do Conselho Europeu para atuar em nome da União. Deixei isto claro mesmo antes da sua visita a Moscovo, o que foi de seguida reiterado pelo alto representante [para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep] Borrell na sua declaração de 5 de julho”, afirmou Michel numa missiva esta terça-feira enviada a Orbán e à qual a agência Lusa teve acesso.

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Uma semana depois de o primeiro-ministro húngaro ter garantido ao presidente do Conselho Europeu que não foi à Rússia em nome da UE, mas para conhecer “em primeira mão” a visão russa sobre paz na Ucrânia, após a guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022, Michel escreveu a Orbán para fazer “observações e esclarecer as coisas”.

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“Em primeiro lugar, a posição da UE sobre a Ucrânia é acordada por consenso pelo Conselho Europeu e foi confirmada mais recentemente em junho. Nós, a UE, reiterámos o nosso compromisso inabalável de apoiar a Ucrânia e o seu povo durante o tempo que for necessário e com a intensidade que for necessária e prestámos apoio à Ucrânia para se defender da guerra de agressão da Rússia e para proteger a segurança europeia”, vincou.

Acresce que “não posso aceitar a sua afirmação de que conduzimos uma política pró-guerra”, acrescentou o responsável, vincando que “se passa é exatamente o contrário”, isto é, “a Rússia é o agressor e a Ucrânia é a vítima que exerce o seu legítimo direito à autodefesa”.

Além disso, “nenhuma discussão sobre a Ucrânia pode ter lugar sem a Ucrânia” e “o caminho mais direto para a paz é a Rússia retirar todas as suas forças da Ucrânia e respeitar a integridade territorial da Ucrânia e a Carta das Nações Unidas”, adiantou Charles Michel na carta acedida pela Lusa.

A anterior missiva surgiu após as críticas de Michel pela visita de surpresa de Orbán a Moscovo, por esta não ser uma representação da UE quando a Hungria detém este semestre a presidência rotativa do Conselho, mas sim uma iniciativa bilateral.

Indiferente às críticas, Viktor Orbán assegurou nessa primeira carta, a que a Lusa também teve acesso, que irá prosseguir as suas “conversações com o objetivo de clarificar as possibilidades de paz“.

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A posição de Michel surge dias depois de os embaixadores dos países junto da UE terem discutido o papel da presidência húngara rotativa do Conselho, perante uma preocupação crescente nas capitais sobre as polémicas deslocações de Orbán.

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A 1 de julho, a Hungria assumiu a presidência rotativa do Conselho da UE, que vai liderar até final do ano, e desde então o primeiro-ministro húngaro já realizou deslocações oficiais à Ucrânia, à Rússia, ao Azerbaijão e países vizinhos e à China, tendo ainda mantido contactos com a Turquia.

As visitas, e sobretudo o encontro em Moscovo com o Presidente russo, Vladimir Putin, geraram várias críticas em Bruxelas e as garantias de que as iniciativas têm ocorrido no quadro das relações bilaterais e não em representação europeia.

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Perante as recentes polémicas, algumas bancadas parlamentares (como os liberais) sugeriram encurtar estes seis meses de presidência e passar já a rotatividade da presidência do Conselho da UE à Polónia, que seria a seguir, enquanto alguns Estados-membros (nomeadamente os bálticos) estão a decidir ser representados por funcionários e não por governantes nas reuniões informais em Budapeste, como forma de protesto.

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