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O primeiro-ministro húngaro criticou este sábado a forma como a liderança da União Europeia tem gerido a guerra na Ucrânia, destacando que é o único político ocidental que mantém a capacidade de negociação com os dois lados da guerra. Por isso, é o líder que a Europa precisa para construir a paz, defendeu Viktor Orbán numa entrevista ao jornal suíço Die Weltwoche.
Depois de se ter reunido com Vladimir Putin em Moscovo esta sexta-feira, encontro que lhe valeu críticas de vários líderes europeus, Orbán considerou que não é “amigo de Putin”, mas “amigo da paz” e que só negoceia com a Rússia porque esse é o caminho necessário para a alcançar.
Na entrevista, o primeiro-ministro húngaro considerou que a negociação para a paz não é uma questão política, mas uma “obrigação moral e espiritual”, que assume por ser “o único líder ocidental com a oportunidade de dialogar tanto com Kiev como com Moscovo”. Sobre as críticas dos líderes europeus, afirmou que estas não o afetam, pois são ataques pessoais e alcançar a paz é um propósito maior: “na luta entre a guerra e a paz, não interessa o preço que eu pagar em Bruxelas”.
A Hungria assumiu esta semana a presidência rotativa do Conselho da União Europeia e o primeiro-ministro tenciona aproveitar a oportunidade para fazer a diferença. Dirigindo-se a Charles Michel ou Ursula von der Leyen – que lideram os restantes organismos da UE e criticaram a reunião – Orbán afirmou: “sei que não estão habituados a este tipo de comportamento de um presidente da UE”.
Acusou Bruxelas de procurar respostas burocráticas em vez de respostas políticas para a guerra e considerou que a sua liderança se ia destacar pelo trabalho político, algo que diz que não se vê desde Nicolas Sarkozy. “A paz não nasce, tem de se trabalhar para isso” e Orbán promete trabalhar nesse sentido, explicou.
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Sobre a reunião com o Presidente russo, o húngaro relatou que durou quase três horas e que “Putin falou mais”. Viktor Orbán diz ter feito três questões: o que Putin acha sobre as propostas de paz que já foram apresentadas, o que acha de um cessar-fogo temporário e qual o seu plano para o futuro? Em resposta, Putin ter-se-á mostrado pouco otimista sobre a disponibilidade ucraniana para colaborar num cessar-fogo ou num plano do pós-guerra. No início da semana, num encontro com Orbán, Volodymyr Zelensky revelou as mesmas preocupações sobre Moscovo, o que levou o mediador húngaro a reconhecer que as suas posições eram demasiado distantes.
Ainda assim, Orbán destacou o bom humor de Vladimir Putin, apesar de ser sempre racional e de sangue-frio, um traço que classificou como “caracteristicamente russo”. Elogiou ainda o “império real” que Putin construiu, que diz ser “muito especial” de testemunhar.
O primeiro-ministro húngaro relatou também como o encontro foi planeado com “o maior controlo e secretismo” e adiantou que essa tática está a ser utilizada para marcar mais reuniões nos seus esforços para a paz.“Vou ter reuniões na próxima semana que são igualmente surpreendentes. (…) A próxima surpresa vai ser na segunda-feira de manhã, estejam atentos à imprensa!”, concluiu Viktor Orbán.
Borrell esclarece que Orbán não representou UE na reunião dos Estados Turcos
Depois de Moscovo e Kiev, Orbán deslocou-se este sábado a Shusha, no Azerbaijão, onde se realizou uma reunião Organização dos Estados Turcos (OTS). Na sequência da visita, o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros esclareceu que o primeiro-ministro húngaro não tinha mandato para representar a UE no encontro, demarcando-se das ações de Orbán, como os restantes líderes europeus já tinham feito.
Num comunicado emitido a noite passada, Borrell explicou que a presidência rotativa do Conselho UE “não implica qualquer representação da União” em questões de política externa, cuja função cabe ao Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros — o próprio Borrell – e ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
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“A Hungria não recebeu qualquer mandato do Conselho da UE para avançar nas relações com a Organização dos Estados Turcos”, acrescentou o dirigente espanhol. Segundo Borrell, a visita de Orbán à reunião informal dos dirigentes da OTS insere-se nas “relações bilaterais” entre a Hungria e esta entidade.
A Organização dos Estados Turcos, criada em 2009, inclui o Azerbaijão, o Cazaquistão, o Quirguistão, a Turquia e o Uzbequistão, participando também nos seus trabalhos o Turquemenistão e a Hungria, na qualidade de observadores.
No comunicado, Borrell aproveitou para denunciar as tentativas da OTS de “legitimar como observador” da sua organização a autoproclamada República Turca do Norte de Chipre, uma “entidade secessionista” que ocupa o terço norte da ilha desde 1974 e cuja existência só é reconhecida internacionalmente pela Turquia.