Passou exatamente uma semana desde que uma aula de dança temática, dedicada à cantora Taylor Swift, na região britânica de Southport acabou em tragédia. Três crianças, incluindo a portuguesa Alice da Silva Aguiar, morreram e o ataque desencadeou uma série de protestos anti-imigração por todo o país. Já foram detidas 378 pessoas desde o início dos protestos e esta segunda-feira o gabinete interministerial de crise COBRA reuniu-se de emergência. À noite os protestos intensificaram-se, nomeadamente em Plymouth, Birmingham e Belfast.

Ao cair da noite na cidade do sudoeste de Inglaterra os protestos deram lugar à desordem. A polícia da Cornualha e de Devon avisou cedo nas redes sociais que tinha “recursos adequados” no local para “lidar com quaisquer surtos de desordem” nos protestos que deveriam ter sido pacíficos. Contudo o nível de violência contra os agentes de segurança foi aumentando. Pelo menos três agentes, dos 150 destacados, ficaram feridos e um carrinha da polícia foi danificada, segundo a BBC. Em Birmingham um ajuntamento com centenas de pessoas sob o falso anúncio de uma marcha. Um pub e vários veículos foram atacados por um grupo de jovens mascarados e armados, relatou o repórter no local. Em Belfast, capital da Irlanda no Norte, os agentes da polícia foram atacados com pedras.

De manhã, no final da reunião do COBRA, Keir Starmer disse que a sua prioridade “absoluta” é colocar um fim à desordem e sublinhou que as “sanções penais devem ser rápidas” para os envolvidos nos violentos confrontos. O primeiro-ministro britânico considerou “intolerável” o facto de as mesquitas terem sido alvo de ataques: “Não se tratou de um protesto, tratou-se de violência”.

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Starmer sublinhou também que haverá espaço suficiente nas prisões para prender os responsáveis pelo arremesso de todo o tipo de objetos, como pedras e garrafas, contra os agentes da autoridade e pelo ataque a mesquitas e a um hotel que acolhe requerentes de asilo. “Vamos fazer com que isto funcione e vamos certificar-nos de que temos os lugares necessários [nas prisões] para levar rapidamente os responsáveis à justiça”, acrescentou.

Antes da reunião do COBRA (Cabinet Office Briefing Room), Yvette Cooper, ministra da Administração Interna do Reino Unido, também já tinha avisado que as prisões estão “prontas” para o que classificou como uma “minoria criminosa” e “delinquente” que protesta em todo o país. No fim de semana mais de 140 pessoas foram detidas e a governante disse que os tribunais estão em “prontidão” para garantir uma “justiça rápida”.

Em declarações à BBC, Yvette Cooper afirmou que aqueles que estiveram envolvidos nas manifestações violentas “não falam em nome da Grã-Bretanha” e revelou que, apesar dos vários pedidos que têm surgido, o parlamento não será convocado “neste momento” para debater o tumulto. Ainda assim, garantiu que o governo está em permanente contacto com os deputados.

Vários deputados têm pedido que a Câmara dos Comuns (a câmara baixa do parlamento britânico) encurte as férias face aos protestos. Nigel Farage, líder do partido Reform UK, mostrou-se “totalmente chocado com os níveis de violência vistos nos últimos dias” e disse que não pode ser descartada a utilização do exército, caso os protestos continuem a aumentar de tom. “Temos de ter um debate mais honesto sobre estas questões vitais e dar às pessoas a confiança de que existem soluções políticas que são relevantes para elas”, escreveu na rede social X, defendendo que a “convocação do parlamento seria um bom começo para isso”.

Por seu lado, a Assembleia da Irlanda do Norte foi convocada durante a pausa de verão para discutir a violência e desordem que se fizeram sentir nas ruas de Belfast no sábado passado. Segundo a BBC, na próxima quinta-feira vai ser debatida uma moção para condenar os estragos que afetaram negócios e para rejeitar “todas as formas de islamofobia, xenofobia e racismo”. O primeiro-ministro da Escócia diz não haver no território protestos e violência semelhantes ao do resto do país.

Na região britânica de Southport está marcada para esta segunda-feira à tarde uma homenagem às vítimas do ataque da semana passada. A comunidade vai enviar “bolhas de sabão para o céu” em memória das três crianças que morreram.

Ao longo dos últimos dias, a violência dos confrontos, associados à extrema-direita, tem escalado no Reino Unido e o primeiro-ministro britânico, Keir Stramer, já avisou que os manifestantes “vão arrepender-se”. Há mais de uma década que o país não registava uma onda de violência desta dimensão, desde que, em 2011, milhares saíram às ruas contra a atuação da polícia britânica, que tinha matado a tiro um homem negro.

Protestos anti-imigração no Reino Unido sem fim à vista. Desordeiros “vão arrepender-se”, avisa Starmer

Protestos deverão continuar, apesar de a polícia estar a realizar detenções

A chefia do Conselho Nacional de Polícia confirmou esta segunda-feira à tarde que já foram feitas 378 detenções desde o início dos protestos, segundo escreve a BBC. Espera-se que o número cresça de dia para dia já que “as forças de segurança continuam a identificar os envolvidos e continuam a deter os responsáveis”, disse Gavin Stephens, presidente do referido conselho em comunicado.

A ordem profissional dos médicos de família (Royal College of General Practitioners) considera “horrífico” e “inaceitável” que “profissionais de saúde, especialmente aqueles que são de minorias étnicas” estejam a ser alvos de “abuso e violência”. Aconselham “médicos e membros das suas equipas a manterem-se vigilantes, particularmente quando viajarem para e do trabalho” e ainda a “viajarem em grupos”, entre outras indicações.

A Malásia e a Nigéria emitiram avisos para cidadãos que tenham planos para viajar para o Reino Unido. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Malásia publicou este domingo um alerta para que os seus co-cidadãos que já estão no Reino Unido ou vão para lá “se mantenham afastados” das áreas de protesto e estejam vigilantes. O ministro do Interior da Nigéria fez um aviso semelhante já esta segunda-feira. Seguiu-se a Austrália. O governo aconselhou os seus cidadãos a “exercerem elevado grua de cuidado”, a “evitarem áreas onde estejam a ocorrer protestos” e a manterem-se informados.