A polícia catalã revelou esta sexta-feira mais pormenores relacionados com a fuga de Carles Puigdemont que regressou esta quinta-feira a Barcelona, mesmo com um mandado de prisão em seu nome. Na linha do que se sabe até ao momento, a fuga do ex-presidente do governo da Catalunha foi auxiliada pelos apoiantes que assistiam ao discurso que fez junto ao Arco do Triunfo, que terão formado um muro humano para impedir o acesso ao independentista.

O comissário-chefe dos Mossos d’Esquadra, Eduard Sallent , revelou numa conferência de imprensa que Puigdemont e Jordi Turull, líder do partido Junts Per Cataluyna, conseguiram enganar os agentes policiais que aguardavam à saída do palco no momento em que o independentista acabou de discursar, colocando chapéus de palha que muitos dos presentes também usavam naquele momento. As fotografias do mini comício em Barcelona mostram isso mesmo.

Perante os jornalistas, Sallent, citado pela ABC Catalunha, admitiu que não conseguiram prender Puigdemont “por mais que tentassem” e denunciou uma “verdadeira campanha de desinformação” por parte da comitiva do ex-presidente do Governo da Catalunha sobre o seu regresso a Espanha.

Ainda que condene a disseminação de informação falsa, confirmou que o carro branco que esta quinta-feira circulava por todas as redes sociais era, de facto, o veículo em que o ex-presidente viajava escondido, mas que “uma mudança de semáforo” impediu a operação policial de o alcançar.

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O pormenor estratégico da cadeira de rodas dentro do Honda branco

Nas imagens captadas do Honda branco, que percorrem as redes sociais, foi identificado o que, à primeira vista, parecia ser um pneu sobresselente. Afinal, segundo vários meios de comunicação espanhóis, tratava-se de uma cadeira de rodas e, ao contrário do que alguns sugeriram, não serviu para o ex-presidente catalão utilizar enquanto disfarce para percorrer as ruas de Barcelona.

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A presença da cadeira no banco do passageiro estará relacionada com a legislação rodoviária que determina que os carros com autorização especial de transporte de pessoas com deficiência podem aceder a áreas normalmente vedadas ao tráfego rodoviário.

No caso, como esclarece a ABC, para que o veículo em que o ex-presidente fugiu pudesse avançar por uma zona pedonal e parte de um passeio e esperar por Puigdemont quase ao pé do local onde ia discursar no centro de Barcelona, era necessário que estivesse identificado enquanto veículo de uma pessoa com mobilidade reduzida e, logo, com a cadeira de rodas dobrada no lugar do pendura.

Como foi revelado na quinta-feira,um dos agentes dos Mosso D’esquadra detidos era o proprietário do carro branco que, pelo menos na fase inicial do plano de fuga, serviu para tirar o ex-presidente da Catalunha de Espanha.

A perseguição policial que terminou a 600 metros do Parlamento

Um sinal vermelho bloqueou a passagem do carro policial e deu ao ex-presidente da Catalunha alguns minutos de vantagem que foram fundamentais para garantir o sucesso da sua fuga. Na conferência de imprensa desta tarde, o comissário-chefe catalão admitiu também que os drones estrategicamente posicionados não foram eficazes na localização do veículo.

Segundo o relatório dos Mossos, citado pelo jornal espanhol Newtral, Puigdemont e Turull dirigiram-se “a uma tenda onde entraram num veículo e abandonaram o local”. Em seguida, todos os policiais foram informados do ocorrido e “iniciou-se a perseguição ao veículo, que tinha uma cadeira de rodas no banco da frente”.

Os agentes perderam o carro onde Puigdemont seguia no Paseo de la Circunvalación, a cerca de 600 metros do Parlamento catalão, muito perto da Ciutadella. Nessa altura a polícia ativou a operação “Jaula” em Barcelona e estendeu-a progressivamente a toda a Catalunha, mas não conseguiu encontrar o fugitivo.

Eduard Sallent, o chefe dos Mosso D’esquadra mostrou-se cético relativamente às informações divulgadas pela comitiva do ex-presidente, que indicam que este já está fora de território espanhol e se está a dirigir para Waterloo, na Bélgica, onde tem a sua residência. À hora da conferência de imprensa, o comissário-chefe disse mesmo que não descartavam que ele permanecesse em Barcelona e que não tinham nenhuma “informação objetiva de que ele esteja na Bélgica”. Ao final do dia, Puigdemont garantiu já estar em Waterloo.