“Estou muito feliz. É o meu sonho”. A emoção era visível depois do fim do combate. Imane Khelif garante o segundo ouro para a Argélia nestes Jogos Olímpicos de Paris, depois da medalha da ginasta Kaylia Nemour nas paralelas assimétricas, na ginástica artística.
Mas para Imane Khelif foi mais do que um ouro. Foi um grito de determinação e para que todo o mundo ouvisse. “Sou mulher”, declarou mais tarde.
O apoio no Estádio de Roland Garros foi registado pelos jornalistas presentes e era audível na transmissão televisiva: “1, 2, 3 Algérie!” e “allez Imane”. Imane diz que ouviu o apoio, mas manteve-se concentrada no boxe, segundo a NBC.
“Estou contente com o meu desempenho”, declarou, citada pela NBC, lembrando a preparação de oito anos nos Estados Unidos, Europa, “em todo o mundo para esta vitória”.
O combate era mais do que um combate para medalha de ouro, depois da polémica que rodeou a sua participação. A sua e a de outra finalista — Lin Yu-Ting de Taiwan (que no sábado também venceu o seu combate e conquistou ouro).
Ambas as pugilistas foram excluídas no Mundial de Boxe em 2023, porque a Associação Internacional de Boxe (IBA), então a entidade internacional para a modalidade, declarou que ambas tinham falhado os testes de elegibilidade, não dizendo que testes é que tinham sido feitos, mas assumindo que as duas atletas testaram positivo para cromossomas XY — ou seja, masculinos. Mas passaram sempre no crivo do Comité Olímpico. E entretanto a IBA deixou de ser a entidade internacional para o boxe.
Mas a polémica estava instalada. E logo no primeiro combate em Paris de Imane o caso agudizou-se. Bateu em 46 segundos a italiana Angela Carini. “Nunca fui atingida com tanta força na minha vida. Cabe ao Comité Olímpico Internacional julgar”, disse Carini depois do combate, para mais tarde pedir desculpa pela suspeição.
O caldo já estava entornado. Combate após combate Imane foi ganhando-os. E esta sexta-feira, 9 de agosto, a categoria -66 quilos teve uma vencedora, a argelina Imane Khelif. A cerimónia de entrega das medalhas teve emoção. E teve hino argelino. E muitas selfies.
Na conferência de imprensa depois do combate voltou a afirmar: “Estou totalmente qualificada para fazer parte desta competição. Sou uma mulher como qualquer outra mulher. Nasci mulher. Vivo como mulher, entrou em competição como mulher, não há qualquer dúvida sobre isso. [os acusadores] são inimigos do sucesso. E dão um gosto especial ao meu sucesso”.
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A lutadora da China, que estava neste combate final, saiu derrotada. Como todas as que combateram com Imane nestes Jogos. Mas anteriormente perdeu combates. Foi com algumas das pugilistas que a venceram que o The Independent cita. A australiana Anja Stridsman, que ganhou em 2018, lembra-se de lhe terem dito que “estás a lutar contra um homem. O que penso que é ignorante e estúpido”, acrescentando: “Lembro-me de não ter ficado muito impressionada com ela, ela não estava a usar o alcance. Não tinha um bom soco”, declarou Stridsman, dizendo que a argelina melhorou depois disso. Também Amy Broadhurst, que derrotou Imane em 2022, disse que “não fez nada para fazer batota. Foi a forma como nasceu e está fora do seu controlo. O facto de ter sido batida por nome mulheres antes diz tudo”.
Imane não disse muito ao longo dos Jogos. Mas o combate final falou por ela. E pode bem ter sido o último combate nos Jogos Olímpicos. “A nossa posição é muito clara: o COI não organizará boxe em Los Angeles2028 sem um parceiro de confiança”, reforçou Thomas Bach, a dois dias do final dos Jogos Olímpicos Paris 2024.
(notícia atualizada com conferência imprensa da atleta e atualizada sábado com combate da pugilista de Taiwan)
Comité Olímpico Internacional decide em 2025 se mantém boxe em Los Angeles2028