Os dois atletas olímpicos de ténis de mesa norte-coreanos estão sob “escrutínio ideológico” desde que voltaram a Pyongyang, no dia 15 de agosto, após os Jogos Olímpicos de Paris. A informação é dada pelo jornal DailyNK, que cita uma fonte bem colocada e não identificada da Coreia do Norte, que admite a punição dos dois mesa-tenistas.

Ri Jong Sik e Kim Kum Yong participaram na competição mista de ténis de mesa nos últimos Jogos Olímpicos, tendo terminado a prova no segundo lugar. No pódio, durante as celebrações, uma selfie com os seis atletas medalhados ficou viral nas redes sociais pelos sorrisos e aparente amizade entre norte e sul-coreanos. A fotografia foi publicada no Instagram pela página oficial dos Jogos, e foi considerada, por muitos, um dos melhores momentos da edição em Paris.

Selfie entre norte e sul-coreanos nos jogos olímpicos de Paris 2024

Apesar de esta fotografia ter simbolizado, para uns, um momento raro de união transfronteiriça coreana, para outros, o momento não passou de um erro. Enquanto que os atletas olímpicos são, tradicionalmente, recebidos de forma celebratória depois dos seus triunfos no maior palco desportivo do mundo, na Coreia do Norte são sujeitos a um mês de “avaliação ideológica”.

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Para um atleta norte-coreano, a jornada olímpica começa com uma análise à sua perspetiva política, com o intuito de desmascarar algum tipo de comportamento contraditório aos impostos pelas diretivas partidárias do regime, estando sujeitos a “punições” caso sejam detetados indícios problemáticos. Para além disto, os membros da comitiva são estritamente proibidos de estar em contacto com os atletas de outros países, especialmente dos “maiores inimigos do estado”, a Coreia do Sul.

No regresso imediato, os atletas são sujeitos a uma “lavagem” ideológica, que reflete a realidade norte-coreana de que o tempo no estrangeiro poderá “contaminar” as pessoas pela exposição a culturas não-socialistas, segundo o jornal sul-coreano DailyRK. Adicionalmente, avaliam o rendimento dos atletas na competição. No caso de não corresponderem às expectativas definidas pelo estado, os atletas serão sujeitos a críticas públicas e, em alguns casos, sentenças. Antigamente, eram colocados em regimes de trabalho sem remuneração durante vários meses.

Depois destas duas investigações, os próximos passos são “crítica mútua e autocrítica”. Nesta etapa, os atletas confessam os seus eventuais “comportamentos inapropriados” e criticam “atitudes erróneas” de outros membros da comitiva. Atletas norte-coreanos que interajam com estrangeiros, têm de reconhecer publicamente os seus erros nestas sessões, se quiserem evitar consequências legais e políticas no futuro.

No caso de Ri Jong Sik e Kim Kum Yong, medalhistas da edição deste ano no ténis de mesa misto, os seus relatórios continham uma “avaliação ideológica negativa”. No relatório é evidenciado o momento da selfie, onde os dois atletas são vistos a sorrir em conjunto com sul-coreanos e chineses.

As autoridades da Coreia do Norte ainda estão a ponderar as consequências para os dois mesa-tenistas, considerando que as apreciações têm a duração de um mês.