Foram centenas de dias e milhares de treinos por dezenas de medalhas mas faltava ainda aquele pódio. “O” pódio. Aos 51 anos, Luís Costa, o atleta mais velho da Missão nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, nunca desistiu e chegou ao seu momento de glória, ganhando a medalha de bronze no contrarrelógio do ciclismo de estrada. O neerlandês Mitch Valize voltou a não dar hipóteses, o francês Loïc Vergnaud ficou de novo com a prata, o português foi mais forte do que a restante concorrência para completar o pódio com um bronze para a história. Agora, menos de 24 horas depois, chegava novo teste e com a chuva a atrasar o arranque e toda a prova de estrada ao longo de mais de duas horas. E a resposta do português não podia ser melhor.

O mais velho da comitiva trouxe a quarta medalha: Luís Costa conquista bronze no contrarrelógio nos Jogos Paralímpicos

Logo no início da primeira de quatro voltas a um circuito com 14,2 quilómetros, Luís Costa correu o sério risco de ficar de fora da luta pelas medalhas. Porquê? Tim de Vries deu um toque no chinês Qiangli Liu após deslizar em curva, teve um acidente e acabou por “bloquear” não só o português mas também o tailandês Atachai Sriwichai. Os sete atletas que cometem nesta prova de H5 ficavam apenas reduzidos a quatro, com Mitch Valize a fazer sinal aos restantes para abrandarem à espera do compatriota mas os corredores a continuarem a manter o seu ritmo, sobretudo com Qiangli Liu a puxar na frente seguido por Loïc Vergnaud.

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Perante essa realidade, Luís Costa poderia ficar de fora da discussão mas, cinco minutos depois, o português voltou a aparecer nas imagens e num andamento que o colocou no meio do grupo da frente. O atleta de Castro Verde dava uma mostra de resiliência perante a adversidade e estava de novo na luta, com a possível má “notícia” de um esforço extra gasto para colar de novo nos primeiros classificados (mais tarde também o tailandês ascenderia a esse lote, ao contrário de Tim de Vries que pareceu ter ficado com a bicicleta afetada depois da queda). Mais: até ao final da volta inicial, Luís Costa chegou a tentar atacar sem sucesso numa zona de subida mas os seis primeiros passaram a 24.20 o primeiro marco, com o neerlandês a 25.13.

Depois, e num ápice (com contribuição também da chuva, que voltou a deixar a estrada mais molhada), todo o desenho da prova mudou: Qiangli Liu não conseguiu travar a tempo em curva e foi bater contra as barreiras perdendo muito tempo, Loïc Vergnaud atacou a um ritmo que deixou Atachai Sriwichai fora do grupo, Luís Costa foi tentando colar os perseguidores ao gaulês até Mitch Valize chegar à frente e passar para a liderança a um ritmo que permitiu colocar a dupla na frente com alguma distância em relação ao português e ao ucraniano Pavlo Bal, que andou a testar o tempo exato para saltar para a frente na perseguição aos dois líderes. Depois de um início que o obrigou a esforço extra, as condicionantes da corrida colocavam mais um duro teste sabendo que ainda não tínhamos sequer chegado a meio da prova num asfalto sempre molhado.

Mitch Valize passou no final da segunda volta com 47.13, menos quatro segundos do que o francês. Mais atrás, Pavlo Bal rodava a 18 segundos do líder tendo Luís Costa a seis segundos da sua posição, sendo que Atachai Sriwichai já seguia a 1.33 (e Qiangli Liu desisitu). O português não iria demorar a “colar” de novo no ucraniano, com a prova a ficar definida para a segunda metade entre a luta pelo primeiro lugar e pelo terceiro posto, com Valize a conseguir descolar de vez com uma hora de corrida e a ter já 43 segundos de avanço sobre Vergnaud, “defendido” da dupla Luís Costa-Pavlo Bal que seguiam a 2.33 minutos da liderança. O português podia apontar à medalha de bronze, numa luta que seria definida nos 14,2 quilómetros finais e que ficou adiada para a última subida, altura em que Pavlo Bal foi mais forte e ganhou 13 segundos a Luís Costa já depois de Mitch Valize e Loïc Vergnaud terem repetido as medalhas de ouro e prata da véspera.