A posição sobre a nova comissária europeia indicada pelo Govenro português tem trazido dessintonia dentro do PS onde, na última semana, se ouviu Marta Temido a atirar às “incapacidades” de Maria Luís Albuquerque, mas também Francisco Assis que disse não ter “a mais pequena dúvida” sobre a “solidez intelectual” e as “competências” da ex-ministra.

Esta quinta-feira, na Rádio Observador, a eurodeputada socialista que foi cabeça de lista do PS nas últimas Europeias falou de Maria Luís na pasta dos Serviços Financeiros e União da Poupança e Investimento, da Comissão Europeia, e disse que a escolha levanta “preocupações” e “apreensões”. E isto porque Maria Luís Albuquerque, quando esteve no Governo, “teve nas mãos importantes dossiês financeiros e foi incapaz de resolver o saneamento do Banif, incapaz de reavaliar a venda do BPN e de perceber o que passava dentro do BES. Resolveu contratos financeiros de swaps que ainda hoje queremos compreender e que nos parecem ruinosos”, descreveu Marta Temido.

Faz sentido atribuir a pasta dos serviços financeiros a Maria Luís Albuquerque?

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Maria Luís vai enfrentar, no Parlamento Europeu, não só escrutínio do seu registo de interesses e eventuais incompatibilidades, como também terá uma audição na comissão competente para a área que vai tutelar na Comissão Europeia. No final, o colégio de comissários será votado e os socialistas têm criticado uma linha mais austeritária no novo elenco, apontando dois nomes de um passado que registam como sendo de má memória: o letão e vice da Comissão Valdis Dombrovskis e a portuguesa Maria Luís Albuquerque.

As criticas concentram-se na antiga ministra das Finanças e no seu histórico sobretudo junto da banca, já que, segundo aponta a socialista, a carta de missão de Ursula Von der Leyen coloca nas suas tarefas a “supervisão bancária da União Europeia e o reforço da vigilância e da sustentabilidade dos sistemas bancários”. Mas Marta Temido não questiona só as “competências” de Maria Luís, também diz que tem “uma incapacidade aparente em lidar com conflitos de interesses” — e aqui aponta que Maria Luís “depois de uma gestão política duvidosa no sector financeiro” tenha ido” trabalhar para uma empresa que comprou crédito malparado à entidade envolvida no negócio financeiro que foi mal gerido”.

A posição crítica contrasta com o que se tem ouvido do número dois do PS nas Europeias, Francisco Assis que, num comentário no Porto Canal, considerou que a mesma figura que Marta Temido ataca “tem as condições para desempenhar a função” de comissária. O Assis falava ainda antes de conhecer a pasta que calharia à ex-ministra do PSD mas já desalinhava da reação que o seu partido tinha tido ao nome indicado pelo Gopverno para a Comissão.

Quando questionado em concreto com as críticas do PS sobre o regresso ao passado da troika, respondeu: “Compreendo que na disputa politico-partidaria haja essa preocupação de salientar isso ou aquilo, mas nós já não estamos francamente nesse domínio da disputa”. “Vai ser avaliada como todos o que é importante e desejo é que tudo corra bem e possa desempenhar eficazmente as funções na Comissão Europeia”, disse ainda sobre este assunto.

Já para Marta Temido, a questão da nacionalidade é secundária neste caso. “A posição protuguesa é a posição europeia”, responde quando questionada sobre a defesa de uma candidata portuguesa. “O que estamos a sinalizar é que a escolha feita tem um conjunto de riscos e esses riscos são graves para o interesse de Portugal e para o interesse dos europeus”, disse a socialista que acautelou: “Portugal não deixará de ter o seu comissário. Não estará em causa a indicação de um comissário pelo Governo português”.

Ainda não antecipa o que os socialistas devem fazer na votação da Comissão Europeia, mas pede “seriedade e objetividade” na fase de avaliação e diz que “seria prematuro dar carta branca a qualquer nome indicado”. E diz mesmo que “talvez a presidente da Comissão não tenha sido bem informada sobre o que estava em causa”, admitindo, no entanto, que os socialistas estão “absolutamente disponíveis a ser convencidos”.

Na semana passada, também antes de conhecer a pasta e Maria Luís Albuquerque, outra eurodeputada socialista antecipava uma linha mais critica no PS. No podcast que tem com a eurodeputada do PS Lídia pereira, Ana Catarina Mendes também apontou “incapacidade técnica” a Maria Luís Albuquerque, evidenciada pelo “dossiê dos swaps“. Também lembrou o passado da troika de que a ex-ministra fez parte, mas ainda assim, esperava que Maria Luís pudesse ter “uma visão diferente nos próximos cinco anos”.

Pelo meio também registou que a comissária indigitada “apresentou o livro [do antigo deputado do Chega] Mithá Ribeiro que é uma homenagem a Trump. Não deixa de ser extraordinário que nos tempos em que temos de ter uma Europa com mais democracia e mais humanista esta seja a escolha do Governo português”.

A esquerda já tinha dado indicações de estar apostada em fazer oposição ao nome indicado pelo Governo para Comissão Europeia, mas o PS tem deixado, por agora, de lado um dos casos que à sua esquerda também se tem apontado a Maria Luís: a privatização da TAP em 2015.

Regresso da TAP atrapalha planos de Maria Luís. Comissão Europeia em silêncio, esquerda pronta para atacar