A preparação de todos os encontros envolve não só o trabalho de melhoria da equipa mas também a análise de tudo o que o adversário é capaz de fazer. No feminino, Sporting e Benfica preocupam-se sobretudo com a primeira. Jogaram seis vezes em 2022/23, encontraram-se mais seis vezes em 2023/24, já se defrontaram na presente época. Existe sempre algo de diferente preparado para determinado encontro mas neste caso existe um conhecimento profundo de ambas as partes. O que mudava neste dérbi? O contexto. O contexto de duas equipas que saíram com sensações diferentes da eliminação da fase de grupos da Champions, o contexto de ser uma partida na ressaca europeia, o contexto de valer liderança, o contexto de ser em Alvalade.

A versão Gyökeres de Telma foi o gatilho da reviravolta: Sporting vence Benfica e conquista Supertaça feminina

Do lado do Sporting, apesar da segunda derrota com o Real Madrid que impediu a primeira participação de sempre nos grupos da Champions, sobraram sinais positivos. As merengues estão longe do nível de um rival como o Barcelona mas contam com campeãs mundiais e internacionais que conseguem resolver aquilo que o coletivo tinha dificuldades – e a forma competitiva como as leoas disputaram a eliminatória foi mais um sinal do crescimento da equipa de Mariana Cabral. “Temos um jogo especial, que é um dérbi, mas é importante termos noção que na época passada ganhámos os dois jogos ao Benfica na Liga e depois não fomos campeãs. As duas equipas estão um bocadinho chateadas porque foram eliminadas da Champions. Vamos tentar que sejamos nós as mais chateadas para termos essa vantagem em campo e ganharmos o jogo”, frisou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O mundo voltou ao sítio e o sonho só durou cinco minutos: Sporting perde com o Real Madrid e deixa Portugal sem representantes na Champions

Já do lado do Benfica, a eliminação teve outro “impacto”. Com três participações consecutivas na Liga dos Campeões, as encarnadas traziam uma vantagem importante da Suécia, chegavam ainda mais como favoritas à segunda mão diante do Hammarby mas acabaram por ser eliminadas pelas escandinavas no Seixal após uma derrota por 2-0 num encontro para esquecer. “Temos muitos objetivos por concretizar e queremos dar uma boa resposta. Não é um jogo decisivo mas é importante e vamos abordá-lo como tal, queremos ganhá-lo. Nenhuma equipa ganha sempre mas queremos dar uma resposta, se não quiséssemos era porque não tínhamos a personalidade certa para estar aqui”, apontou na antevisão do jogo a técnica Filipa Patão.

O cruel destino sentenciado no final dos descontos: Benfica perde com Hammarby e falha quarta presença seguida na Champions feminina

Num dia marcado também pelo lançamento da iniciativa “Prevenir é a melhor jogada”, uma campanha de solidariedade e responsabilidade social à sensibilização para a prevenção do cancro da mama, com um novo equipamento rosa em que 25% das vendas da coleção irão reverter para a Liga Portuguesa contra o Cancro, o Sporting assinalou esse momento em Alvalade, que recebeu mais de 6.500 adeptos, mas acabou por imperar no final do jogo o preto do equipamento alternativo do Benfica e a sua grande referência ofensiva, Cristina Martín-Prieto, avançada espanhola ex-Sevilha de 31 anos que leva 11 golos apenas em dez jogos e tem ajudado as encarnadas a manterem-se na liderança do Campeonato feminino (agora de forma isolada).

O Sporting entrou melhor no jogo, a fazer recuar Andreia Bravo na primeira fase de construção para tentar depois levar a bola para as três unidades da frente em posse ou arriscando o passe longo, mas foi o Benfica que teve a primeira boa oportunidade para marcar, com Andreia Norton a receber na desmarcação de rutura numa saída rápida para rematar cruzado para defesa de Hannah Seabert (9′). As características do encontro foram-se mantendo mas com as encarnadas a terem ligeira supremacia pela forma como exploravam melhor a largura do campo enquanto as leoas iam falhando no último passe para finalização. Seabert voltou a ser importante a fazer a “mancha” após assistência de Nycole para Martín-Prieto (28′) mas o aviso da espanhola estava dado, com a avançada a ter pouco depois uma grande jogada onde tirou Fátima Pinto da jogada, ficou isolada e rematou rasteiro e colocado para reforçar o estatuto de melhor marcadora (34′).

De seguida, na primeira em que que conseguiu ganhar a profundidade nas costas das centrais contrárias, Telma Encarnação ainda marcou mas o lance foi logo anulado por posição irregular na altura do passe (37′). Apesar da desvantagem, o Sporting teve uma reação imediata e foi por pouco que não empatou de seguida, com Andreia Bravo a marcar um livre lateral na direita para o desvio de cabeça de Maiara que foi ao poste antes de Lais Araújo cortar na pequena área quando Georgia Eaton-Collins ia fazer a recarga (42′). Estava tudo em aberto para uma segunda parte que se esperava ainda mais disputada do que a primeira.

Era uma ideia, confirmou-se em poucos minutos: na sequência de um livre lateral do Sporting, o Benfica conseguiu sair rápido numa transição, Nycole apareceu embalada e não falhou em frente a Hannah Seabert, seguindo pela rampa para festejar com os adeptos encarnados no topo norte de Alvalade o 2-0 (48′). O jogo teria de mudar, com as leoas a terem de arriscar mais e as encarnadas a fazerem uso da sua experiência para gerirem os momentos entre a posse e as saídas rápidas. Sobretudo, ficou mais aberto: Ana Capeta desviou um cruzamento de Ana Borges da direita para uma defesa fantástica de Lena Pauels com o pé (56′), Martín-Prieto quase “acabou” com o jogo depois de um erro de Seabert a jogar com os pés (65′), Capeta voltou a ver Pauels travar o 2-1 com mais uma grande defesa (83′), Maísa desviou da guarda-redes alemã mas ao lado sem que Capeta conseguisse chegar (90+1′) e o encontro acabaria mesmo sem mais golos.