O Presidente da República e o primeiro-ministro estão a visitar juntos, esta segunda-feira, algumas das zonas afetadas pelos incêndios do norte e centro do país. Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro chegaram a Baião de helicóptero e pararam em Vila Pouca de Aguiar e Sever do Vouga, para vários momentos de contacto com as populações afetadas e com os autarcas destes concelhos. “Temos estado juntos em tudo o que é fogos”, justificou rapidamente o Presidente da República, interpelado pelos jornalistas.
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Já Luís Montenegro quis adiantar que já foi “informado” por Marcelo Rebelo de Sousa de que os diplomas aprovados em Conselho de Ministros na semana passada, e que preveem uma série de apoios para famílias e empresas afetadas pelos fogos — incluindo com o apoio total para a reconstrução de casas até 150 mil euros –, já foram promulgados.
Assim, “todos os mecanismos de ajuda vão ser acionados com rapidez e celeridade” para “minimizar o impacto” dos fogos na vida das pessoas, da comunidade e das empresas, frisou o primeiro-ministro.
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Mas por entre muitas garantias de que o Governo está a fazer todos os possíveis — mesmo não sendo “infalível” — para agir em relação à recuperação ainda “dentro da quinzena” em que a “tragédia” dos últimos fogos aconteceu, Montenegro acabou por se irritar com algumas críticas. Isto porque depois de a presidente da câmara de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, se ter queixado sobre os meios terem demorado a chegar a este concelho, o primeiro-ministro foi questionado sobre essas reclamações e disparou: “Não queiram fazer da discussão apenas o aproveitamento do sofrimento de quem muitas vezes está longe do apoio mais imediato”.
Depois, justificou: “Não temos um avião para cada freguesia do país”. E recordou as conversas com a autarca logo no momento dos fogos. “O que podia dizer? Vou tirar meios de Albergaria, Sever do Vouga, Águeda, e deixo arder aquilo tudo? É preciso que as pessoas falem disto com realismo, não atirem essas atoadas para o ar. Vamos tentar perceber tudo”. As promessas do primeiro-ministro foram no sentido de fazer uma “avaliação rigorosa e profunda” sobre a forma como o combate aos fogos aconteceu, sem tirar “conclusões precipitadas”.
Montenegro respondeu ainda às críticas que surgiram depois de ter sugerido que haveria “interesses” por trás dos casos de fogo posto, frisando que falou apenas numa hipótese. “Eu disse que é muito estranho haver 125 ignições numa noite. Disse que o Governo e o país têm a obrigação moral de saber tudo o que pode estar por trás disso. Se dizer isto ofende assim tanta gente, a mim tranquiliza-me o espírito e a alma. Chego a casa à noite e durmo mais descansado se o meu Governo estiver a combater o crime, seja ele qual for”, atirou.
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Já durante uma conversa com os autarcas, parte da qual foi transmitida pelas televisões, o primeiro-ministro voltou a insistir que não se “furta” a nenhuma avaliação, mas defendendo que estas devem ser feitas “com verdade” e “algum afastamento de reações mais emocionais”.
“Precisamos de estar juntos, mais do que nunca”, transmitiu Montenegro aos autarcas, fazendo questão de lembrar todas as medidas para apoiar a recuperação que o Governo está a tomar, assim como a “rapidez” com que o Executivo foi para o terreno, envolvendo “seis ministros logo na primeira hora”.
E, a propósito dos 500 milhões de euros vindos dos fundos de coesão cuja mobilização o Governo negociou com a Comissão Europeia, Montenegro também prometeu: “Nesta área não vamos olhar a contas de deve e haver. (…) Já adiantámos 100 para não estarmos à espera nem estarmos a desculpar-nos”. Ainda assim, se não houver “agilidade” na disponibilização das verbas, o Governo promete usar o Orçamento do Estado para “suportar e antecipar essa verba” adiantou: “Não vamos ficar dependentes”.
Marcelo sobre ministro: “Não o larguem um minuto, chaguem-lhe a vida”
Já Marcelo Rebelo de Sousa, num momento em que também se dirigia aos autarcas, pareceu otimista sobre o trabalho do Governo. Por um lado, falando do trabalho feito “em tempo recorde” sobre o levantamento dos danos e dos avanços no cadastro florestal, embora ainda haja “imensos territórios em que não há cobertura”. “Para o ano há autárquicas, e nada pior para inferno da vida dos autarcas do que um processo contínuo e indefinido que entra no período pré-eleitoral”, avisou.
Depois, falou do lado humano e dos “traumas” que tem encontrado nas vítimas dos incêndios de 2017, lamentando que esta seja uma vertente “pouco estudada” no país. E frisou que é “fundamental” que as ajudas que o Governo anunciou sejam mesmo atribuídas. Conselho para os autarcas: “Não o larguem um minuto, chaguem-lhe a vida”, frisou, referindo-se ao ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida. “Isto ou é resolvido num tempo razoavelmente curto ou passa o tempo mediático e politicamente relevante” para a questão e “é uma ocasião perdida, e não pode ser, e não vai ser”.
Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro estão a ser acompanhados pelo ministro Adjunto e da Coesão Territorial, da Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e do secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Ribeiro.