Depois de um dia intenso com debate quinzenal e reunião com Pedro Nuno Santos, sempre com o Orçamento do Estado em discussão e depois de apresentada ao PS e ao país a proposta que descreveu como “irrecusável”, Luís Montenegro quer mostrar que há varias linhas em que o Governo tem de fazer caminho e assume que “há mais vida”. E, como há comboios que só passam uma vez, o primeiro-ministro não deixou de tirar o dia para a mobilidade e apanhou um comboio em Santa Apolónia com destino ao Ribatejo.

Na agenda desta sexta-feira está um Conselho de Ministros no Entroncamento focado na mobilidade e transição energética. Para chegar à cidade do município de Santarém o governo viajou praticamente todo num intercidades da CP, com o transbordo a ser feito até à praça do município por um autocarro elétrico.

Na estação de Santa Apolónia em Lisboa, Luís Montenegro entrou na primeira carruagem, mas saiu ainda por breves minutos para cumprimentar o maquinista. Foi transmitido que o primeiro-ministro não iria prestar declarações, que a viagem serviria para tratar de trabalho, mas ao chegar a Santarém houve margem para uma frase de Montenegro: “Esta nossa viagem de comboio é uma boa oportunidade para dizer ao país que há mais vida para além do Orçamento. E essa vida está a ser tratada todos os dias pelo Governo. Estamos a tratar hoje de matérias ambientais e de mobilidade. Como disse, há mais vida para além do orçamento. O Orçamento é importante, mas é também importante que o Governo funcione todos os dias e funcione todos os dias nas várias áreas de ação, que dão qualidade de vida às pessoas e dão futuro ao país.”

Trata-se de uma frase feita na política. Luís Montenegro cita Jorge Sampaio que em 2003 disse exatamente o mesmo no discurso das comemorações do 25 de abril na Assembleia da República: “Há mais vida além do Orçamento”. Nesse ano não se discutiam entendimentos parlamentares, mas sim a fragilidade das contas públicas. Receava-se uma recessão, que acabaria por se confirmar anos mais tarde. Ainda assim, Montenegro quis aproveitar o léxico político para mostrar que o Governo continua de mangas arregaçadas. Apesar da insistência dos jornalistas com várias perguntas sobre a contraproposta que o PS já prometeu apresentar, apenas uma resposta constante: “Há mais vida além do Orçamento”.

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Luís Montenegro sentou-se junto à janela num espaço de quatro lugares. À frente a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, e o ministro da Presidência, António Leitão Amaro. Ao lado o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz. Na mesa várias pastas e folhas espalhadas. Apesar dos atrasos reconhecidos nos serviços da CP, o comboio que transportou quase todo o governo saiu a horas, 13h15 quando se fecharam as portas. Na viagem apenas se fizeram sentir as ausências de Nuno Melo, ministro da Defesa que está na Roménia, de Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças que está em reuniões durante o dia de hoje e ainda Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares que se juntou à comitiva já no Entroncamento.

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Na carruagem governativa embarcaram inicialmente apenas os ministros, assessores, segurança, a imprensa e alguns agentes da PSP, mas nas estações de Oriente, Vila Franca de Xira e Santarém entraram alguns passageiros que estranharam o aparato. Uma passageira atreveu-se a perguntar qual a razão para não se poder sentar no lugar que tinha comprado, na resposta uma segurança ironizou: “É a Madonna que ali vai, mas sente-se onde quiser nos lugares livres, há espaço e ninguém vai reclamar por estar sentada fora de sítio”.

Mas ir no comboio governamental, não significa viajar de borla na CP. Quase a chegar a Santarém, o “pica” chegou à carruagem da frente — onde seguia a comitiva — e verificou o bilhete de todos, tendo, inclusive, picado o bilhete de Luís Montenegro. Ainda durante a viagem, houve tempo para celebrar o aniversário do passageiro Marcelo, de apelido. Trata-se do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Paulo Lopes Marcelo, que celebra aniversário esta sexta-feira e teve direito a que Luís Montenegro e os ministros a bordo lhe cantassem os parabéns.

Ao chegar ao Entroncamento, Luís Montenegro cumprimentou à distância alguns passageiros e trabalhadores da estação que olhavam surpreendidos pela chegada de tanta gente de fato e gravata, tanto ministro de uma só vez. Muitos registam o momento com as câmaras dos telemóveis, mas nada que espante a “terra dos fenómenos”, assim conhecida pelos relatos de casos insólitos e bizarros ocorridos nesta localidade de Santarém.

A comitiva do Governo embarcou num autocarro elétrico e seguiu até à praça do município onde acabou por se registar talvez o maior fenómeno desta tarde. Jorge Faria, socialista e autarca do Entroncamento sobe a escadaria ao lado de Luís Montenegro e participa na reunião que promete ditar novas medidas para a mobilidade e transição energética, como o passe ferroviário nacional com um custo mensal de 20 euros, já anunciado em Agosto.