Num 5 de Outubro que ficou naturalmente marcado pelo impasse orçamental que se vive e a um ano das próximas eleições autárquicas, as reações dos representantes partidários que assistiram aos discursos de Carlos Moedas e Marcelo Rebelo de Sousa, acabaram por se centrar ora nas críticas a Carlos Moedas, ora em referências cruzadas ao Orçamento do Estado e à última proposta de Pedro Nuno Santos.

De resto, o tiro de partida foi dado pelo próprio Carlos Moedas, que defendeu que o país não poderia “ficar refém de ansiedades pessoais e partidárias” e “bloqueios” à resolução dos problemas dos portuguesas, numa referência muito pouco indireta a Pedro Nuno Santos e ao PS. Ora, em resposta, Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, cortou a eito: “Não sei a quem se referia. Não tenho nenhum comentário a fazer ao discurso do senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa”.

Quanto ao mais, a socialista não revelou qualquer detalhe sobre o estado das negociações e evitou comentar as várias reações do PSD, que classificaram a proposta de Pedro Nuno Santos de “inaceitável”. “Quanto ao Orçamento vamos aguardar serenamente. Não irei comentar por cordialidade. Que eu saiba não houve nenhum feedback [oficial] do Governo. Até haver uma resposta oficial, não comentarei”, limitou-se a dizer.

O PSD, que se fez representar pela ministra e vice-presidente do PSD, Margarida Balseiro Lopes, recusou comentar de todo a proposta de Pedro Nuno Santos. Mas esse papel acabou por ser executado por Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS. “A proposta do PS continua a demonstrar uma intransigência irrazoável que não é bom sinal. Há uma inflexibilidade e radicalismo do PS relativamente ao IRC que não me parece um bom sinal para que as negociações sejam bem sucedidas”, atirou o democrata-cristão.

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Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, voltou a colocar o partido à margem do entendimento que pode vir a ser encontrado, responsabilizando o ‘bloco central de interesses’, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos pela falta de soluções para o país. “Existe um acordo entre PS e PSD. E eles vão ficar com o ónus disso”, denunciou o deputado.

Em contraciclo, Mariana Leitão, líder parlamentar da Iniciativa Liberal, fez mais um apelo para que Luís Montenegro se desvincule rapidamente de Pedro Nuno Santos. Para a liberal, o PS quer “impor o seu programa eleitoral, a sua visão de país”. “É uma visão errada que não trouxe nada de positivo para o país”, atira. Mariana Leitão disse acreditar que a proposta do Governo já é “má o suficiente” e que a contraproposta do PS é ainda pior. “É preferível eleições a um mau Orçamento”, remata Mariana Leitão.

À esquerda, Bloco e PCP tiveram reações idênticas, mas com nuances. Fabian Figueiredo, líder parlamentar bloquista, deixou um aviso a Pedro Nuno Santos: “Quem se coloca no campo de viabilização de um Orçamento, não se coloca no campo da construção da alternativa”. Ora, esta posição do Bloco pressupõe que o partido liderado por Mariana Mortágua ainda acredita que o socialista possa chumbar o Orçamento e contribuir para a construção da tal frente de esquerda.

João Ferreira, do PCP, não se mostrou tão interessado na decisão de Pedro Nuno Santos. “Se há alguma virtude que esta novela nos tem trazido é evidenciar como estamos longe da discussão que verdadeiramente interessa. PS e PSD não são tão diferentes assim. A política deste Governo está longe de responder aos desafios do país. Esta discussão entre PS e PSD demonstra que dali não virá a resposta aos problemas que o país enfrenta”, atalhou o comunista.

Moedas, “o pequeno Napoleão”

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa acabou por ser um dos alvos das críticas da oposição. Além do remoque de Alexandra Leitão, que não escondeu o desagrado com as referências indiretas às posições negociais de Pedro Nuno Santos, Bloco de Esquerda e Livre foram particularmente duros com Carlos Moedas.

FabianFigueiredo, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, critica Carlos Moedas. “Fez um discurso lamentável. Mostra que a República também é capaz de produzir os seus pequenos napoleões”, diz o bloquista.

Pelo Livre, Rui Tavares lamentou a “tendência nacionalista” do discurso de Carlos Moedas e falou das referências do autarca à vida e obra de Camões com ironia. Para o deputado e vereador, Moedas insiste em citar Moedas, “o que é bonito”, mas não pratica o “humanismo”.

Ao mesmo tempo, o líder do Livre contestou a política de Carlos Moedas para a imigração e questionou a informação avançada pelo autarca de que os serviços da autarquia encontraram soluções para as pessoas em situação de sem abrigo no Largo dos Anjos, muitas delas imigrantes. “Como é que o presidente da Câmara chega aqui e diz que é preciso acolher bem os imigrantes e não o fez?”, desafiou o líder do Livre, dizendo ainda que as pessoas em situação de abrigo continuam a viver na zona dos Anjos.