“Eles declararam-se culpados. Eles feriram gravemente uma pessoa, mataram uma pessoa”. Esta frase proferida pelo candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump no debate de setembro contra Kamala Harris, valeu-lhe agora um processo por difamação, apresentado esta segunda-feira num tribunal de Filadélfia. Trump referia-se ao grupo de cinco adolescentes que foram condenados em 1989 — e posteriormente ilibados — pela morte de uma mulher em Central Park, Nova Iorque.
Os cinco homens, que, à data do crime eram adolescentes, iniciaram o processo contra as “declarações falsas e difamatórias” do ex-Presidente e o seu “desrespeito imprudente” pela verdade. “Os queixosos nunca se declararam culpados das agressões em Central Park. Todos os queixosos declaram-se inocentes e mantiveram a sua inocência durante todo o julgamento e prisão, bem como depois de terem sido libertados da prisão”, pode ler-se na queixa, citada pela CNN. Afirmam ainda que as declarações causaram “stress emocional intenso” e exigem a Donald Trump uma indemnização, mas também a aplicação de uma pena pelas declarações falsas.
Em 1990, Yusef Salaam, Raymond Santana, Kevin Richardson, Antron Brown e Korey Wise, todos eles homens racializados, foram condenados a penas de prisão por terem violado e matado Trisha Meili, uma mulher branca, e terem ferido outros dois homens numa noite de 1989 em Central Park. O caso fico conhecido como “Os Cinco de Central Park”.
[Já saiu o terceiro episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio e aqui o segundo.]
Tal como se pode ler na queixa, ao longo de todo o processo, os cinco homens mantiveram a declaração de inocência, mas só em 2002 é que foram ilibados, depois de um outro homem ter confessado os crimes. Essa declaração de culpa foi confirmada através de testes de ADN e os “Cinco de Central Park” passaram a ser “Os Cinco Exonerados”.
O caso surgiu no debate do dia 10 de setembro devido a uma declaração de Kamala Harris que criticava o facto de Donald Trump ter reagido ao caso durante os anos 90 com um pedido para voltar a instituir a pena de morte no Estado de Nova Iorque. O empresário norte-americano comprou um anúncio de uma página inteira na revista New Yorker, em que se lia: “Quero odiar estes assaltantes e assassinos. Eles deviam ser obrigados a sofrer e, quando matam, deviam ser executados pelos seus crimes”.
Quase 30 anos depois, a postura de Donald Trump, a favor da pena de morte, foi alvo de críticas pela sua adversária democrata, que tem o apoio público de quatro dos cinco homens. Salaam e Wise já apareceram mesmo em eventos do partido democrata, incluindo na Convenção, para falar a favor da vice-Presidente, relata a CBS.
Por outro lado, a campanha republicana reagiu, afirmando que este processo procura interferir no resultado das eleições presidenciais. “Os esforços frenéticos dos aliados da ‘Kamala Mentirosa’ para interferir nas eleições não estão a chegar a lado nenhum e o Presidente Trump está a dominar enquanto marcha para uma vitória histórica do povo americano a 5 de novembro”, afirmou o porta-voz, Stephen Cheung, numa nota enviada ao mesmo canal.
Nos últimos dois anos, Trump já perdeu dois outros processos de difamação, apresentados por uma mulher que acusou o ex-Presidente de abuso sexual e o processou por difamação depois de ter sido chamada de “mentirosa”. O tribunal deu-lhe razão e exigiu a Trump uma indemnização de 90 milhões de dólares (cerca de 83 mil euros), nota o Washington Post.
Donald Trump em julgamento por difamar mulher que o acusou de violação