O turismo português está a caminho de um novo ano recorde com 27 mil milhões de receitas, depois dos 25 mil milhões de euros alcançados em 2023 e de Portugal ter sido o primeiro país europeu a recuperar o nível de proveitos de 2019 após a pandemia. Mas os operadores do setor enfrentam uma crescente resistência e críticas aos efeitos colaterais deste crescimento. “Não temos turismo a mais, temos é economia a menos”, afirmou o presidente da Confederação de Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, no discurso de abertura do congresso da associação das agências de viagens (APAVT) esta quinta-feira em Huelva.

Para Francisco Calheiros, os outros setores podiam aprender com o turismo para conseguirem a mesma performance. Num ano em que as receitas continuam a crescer acima do número de visitantes, 10% versus 4% até agosto, o presidente da CTP desmentiu a ideia de que os portugueses estão a fugir do Algarve. “São o nosso mercado”. Destacando que a Península Ibérica é o maior mercado turístico do mundo (juntando Espanha e Portugal), e aproveitando estar em Huelva, Francisco Calheiros sublinhou que Portugal e Espanha só são concorrentes na Europa. Quando estão em causa os mercados dos Estados Unidos e da China “temos de ser aliados. Todos temos a lucrar”.

Mais contundente, o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira defendeu que a contestação ao turismo nasce “do ódio às democracias liberais e ao estilo de vida ocidental, baseado na liberdade e na tolerância por todas as diferenças”. E considerou que a narrativa do turismo a mais se tem multiplicado, nesta era da notícia fácil, de algum jornalismo preguiçoso e de muitos comentadores apenas portadores de ignorância.

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Para o presidente da APAVT, o turismo “está a ser muito atacado pelas más razões”. E preciso impedir “que se transformem em narrativas normalizadas e comummente aceites como verdade”. E contrapõe:

  • “O Turismo não destruiu o centro das cidades, afastando de lá as pessoas. Antes do turismo não havia pessoas a viver no centro das cidades”.
  • “O Turismo não apagou a genuinidade nem as tradições dos bairros históricos das cidades. A memória dos contestatários é curta, os bairros históricos não eram típicos, nem genuínos, eram pobres”.
  • “O Turismo não acabou com as lojas históricas. O que aconteceu foi que os padrões e o comportamento do consumidor se alteraram e apareceram as grandes superfícies comerciais.”
  • “Eu sei que há quem se enerve por existirem filas à porta da Brasileira, da Benard, ou do Majestic, e defenda com isso que a cidade ficou descaracterizada. Não é verdade. A Brasileira, a Benard e o Majestic são exatamente os mesmos, o que agora é deferente é que não cabem lá apenas alguns privilegiados, agora entram lá todos.”

A gestão das tensões geradas pelo crescimento da atividade turística nas grandes cidades — Lisboa e Porto em Portugal— foi um dos temas que marcou o arranque deste congresso das agências de viagens, com o presidente da Confederação do Turismo de Portugal a pedir uma “gestão mais inteligente”. Os operadores estão a sentir dificuldades acrescidas na mobilidade de autocarros, grupos de turistas e o presidente da APAVT apela à necessidade de corrigir eventuais erros e decisões precipitadas e de “construir uma mobilidade que não exclua ninguém, sobretudo que não exclua os operadores turísticos, os grupos de turistas de mais alto rendimento ou os modernos autocarros que menos poluem”.