Representantes do BE, Livre e PCP estiveram este sábado presentes na manifestação em Lisboa contra a violência policial, onde defenderam um combate às desigualdades e a todas as formas de discriminação. Os três partidos, que se fizeram representar na manifestação convocada pelo movimento Vida Justa, para exigir justiça para Odair Moniz, homem baleado por um agente da PSP, na segunda-feira, defenderam medidas para combater os problemas estruturais que estão na base do descontentamento de quem vive na periferia de Lisboa.
Os representantes dos partidos defenderam um apuramento rápido dos factos que estiveram na base da morte de Odair Moniz e que sejam atribuídas responsabilidades.
“Portugal não pode continuar a tratar os bairros da periferia de Lisboa como tem acontecido, onde falta tudo. Falta a presença do Estado social, falta a escola, falta o hospital”, disse o deputado do BE Fabian Figueiredo, em declarações aos jornalistas.
Para o deputado, Portugal é um “país onde a igualdade perante a lei não existe em todos os seus territórios” e onde ser negro “significa ter mais dificuldades de acesso ao ensino superior, significa ganhar menos, significa fazer trabalhos que envolvem mais esforço físico”, referindo que há “uma história sobre a violência policial em Portugal”.
“Não é culpa dos agentes de polícia individualmente, é do modelo de policiamento que está errado”, notou, acusando ainda a contramanifestação convocada pelo Chega, que começou à mesma hora, noutro ponto de Lisboa, de ser “contra a polícia”, ao querer instrumentalizar aquela força de segurança.
Também o vereador da Câmara de Lisboa e ex-eurodeputado comunista João Ferreira salientou que a manifestação convocada pelo Chega não defende os polícias.
“Os direitos dos polícias defendem-se assegurando-lhes meios, fazendo-lhes valer os seus direitos e defendendo também os direitos democráticos da população. Não é fazendo apologia à violência ou o incitamento à violência”, apontou.
Para haver “justiça e paz”, defendeu João Ferreira, é necessário “um combate muito firme e consequente às desigualdades e às injustiças sociais, às exclusões e a todas as discriminações”, considerando também ser importante avançar-se com um outro modelo de policiamento, assente na prevenção e com o envolvimento das comunidades.
A líder do grupo parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, também apontou para os problemas estruturais, constatando que se está perante uma desigualdade “sistémica e que dura há muitas dezenas de anos”.
“Sistematicamente as pessoas dos vários bairros de que estamos aqui a falar não são ouvidas, não são incluídas nos processos de decisão e temos bairros que são votados à periferia pelas condições que existem, porque não têm espaço público de qualidade, não têm parques infantis, não têm sistemas de transportes e, portanto, na verdade, são pessoas que são votadas também elas à periferia”, notou.
Para Isabel Mendes Lopes, é crucial ouvir as pessoas que vivem nesses bairros e, “sobretudo, não dando eco a quem quer dividir e a quem incentivar o discurso de ódio, nomeadamente responsáveis eleitos e que estão na Assembleia da República”.
A manifestação do Vida Justa, que terminou na Praça dos Restauradores, foi anunciada na quinta-feira pelo movimento, para reclamar justiça pela morte de Odair Moniz, o homem de 43 anos baleado por um agente da PSP após uma perseguição policial na Amadora.
Nos últimos dias, a PSP registou na Área Metropolitana de Lisboa mais de 100 ocorrências de distúrbios na via pública e deteve mais de 20 pessoas, registando-se sete feridos, um dos quais com gravidade.
Os tumultos registados desde segunda-feira surgem após a morte do cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, que foi baleado na madrugada de segunda-feira, no Bairro Cova da Moura, no mesmo concelho do distrito de Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.