Já eram muitas as informações que iam circulando sobre o que estava a passar na Academia após a chegada do autocarro que transportava jogadores convocados e equipa técnica do Sporting para Alcochete, tudo se adensou quando a SAD leonina fez uma comunicação de dois parágrafos à CMVM deixando a decisão nas mãos do treinador. A possível mudança de Rúben Amorim para o Manchester United marcou por completo esta terça-feira, dia de jogo em Alvalade frente ao Nacional para a Taça da Liga. Seria este o último encontro pela equipa verde e branca? Dito pelo técnico, talvez não. E mesmo sem haver comentários sobre isso, existe uma novela a formar-se nos bastidores de uma saída que irá sempre acontecer. Até lá, o “elefante na sala”, aquele que quis abordar com os jogadores no treino desta manhã, chegou também a Alvalade.

O primeiro sinal de que esta não era uma noite habitual foi sentido logo na chegada do autocarro a Alvalade. Na passagem pelo hall VIP a caminho dos balneários, onde estão agora na antecâmara de qualquer partida várias crianças para verem os seus heróis mais de perto, ouviu-se um “Fica Rúben” que não passou ao lado do treinador. Depois, como é habitual, ficou a preparar a partida no balneário, sabendo já aquilo que iria dizer no final do encontro além daquilo que acontecesse frente aos insulares. Tudo estava a ser seguido como um qualquer jogo mas existia um natural nervosismo na hora de subir ao relvado antes dos jogadores.

Um enorme batalhão de fotógrafos esperava a chegada de Rúben Amorim, que entrou em direção ao banco de suplentes e à geleira que tem as garrafas de águas cumprindo o ritual antes da partidas. Aí, sentiu apoio. Muito apoio. Mal pisou o relvado, toda a central se levantou num aplauso que abafou os raros assobios e que se estendeu a todo o estádio. O técnico fez um sinal de agradecimento e foi ficando na sua área técnica, a cumprimentar todos os suplentes e elementos da equipa técnica que iam passando enquanto andava de um lado para o outro sem rumo. Já com “O Mundo sabe que” a ser preparado, foi ainda ao banco contrário cumprimentar o homólogo Tiago Margarido e regressou para o cumprimento ao adjunto Carlos Fernandes.

Rúben Amorim falou de um ambiente “estranho” em Alvalade mas, verdade seja dita, nada “ajudava” a que fosse diferente. Porquê? Quando começou o encontro, as claques leoninas, em especial a Juventude Leonina, criaram um enorme vazio nos setores que habitualmente ocupam mas numa atitude que não tem nada a ver com o técnico leonino mas sim com um boicote de 14 claques de clubes da Liga contra o atual formato da Taça da Liga e a intenção de haver uma passagem da Final Four da competição para o estrangeiro.

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“Só não acontecerá já esta temporada porque ninguém mostrou interesse ou acenou com o dinheiro suficiente para receber estes jogos no seu território. Foi perante este cenário dantesco que um conjunto de grupos ultras, afetos a equipas que vão disputar a competição, se uniu, colocando divergências e rivalidades de parte, para lutar por uma causa comum, um futebol que respeite aqueles que fazem dele o desporto mais popular e vibrante do mundo. É hora de unir esforços e cerrar fileiras contra o modelo da Taça da Liga e contra todos os ataques à liberdade e à dignidade”, defenderam todos os signatários.

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Apesar de não ter nada a ver com a situação de Amorim, o silêncio das claques mudou por completo todo o ambiente que se viveu em Alvalade, que aqueceu um pouco no minuto 11 quando se ouviu uma salva de palmas em homenagem a Nuno Santos, jogador do Sporting que faz parte do grupo de capitães e que foi operado a uma lesão grave no joelho direito, falhando o resto da temporada. Não sendo uma primeira parte sequer próxima daquilo que os leões podem fazer (e já mostraram), nem por isso o treinador verde e branco deixou de ter o habitual comportamento na zona técnica, sentando-se no banco em todas as bolas paradas que eram “dirigidas” pelo adjunto Carlos Fernandes antes de levantar-se mais uma vez. Ao intervalo, Rúben Amorim foi o primeiro a dirigir-se para os balneários, tendo em vista uma tripla alteração.

As entradas de Viktor Gyökeres, Francisco Trincão e Zeno Debast mudaram por completo o rumo da partida. Houve mais velocidade, mais mobilidade, mais oportunidades, mais Amorim. O facto de haver um nulo ao intervalo e de a equipa estar a atacar para a baliza “grande” adicionou uma dose de adrenalina ao treinador, que se foi mostrando bem mais ativo ao longo dos segundos 45 minutos. Sentou-se no banco para ver no pequeno ecrã o golo de Hjulmand, voltou a sentar-se antes da grande penalidade de Gyökeres, ficou a sorrir quando o sueco marcou de livre direto o 3-1 final, quis ir ver o que falhou numa bola parada defensiva em que o Nacional teve uma chance flagrante ao segundo poste. No entanto, estava tudo decidido.

Já no período de descontos, ainda se começou a ouvir em alguns setores da zona norte do estádio a música “Rúben Amorim, Rúben Amorim” mas nem isso tirou a mínima reação que fosse ao técnico, que depois do apito final foi cumprimentar Tiago Margarido, falou ao técnico de equipamentos Paulinho que estava com um penso no sobrolho direito, seguiu de imediato para o túnel de acesso aos balneários levantando de uma forma discreta a mão direita em sinal de agradecimento. Muitos ficaram até a estranhar a atitude do treinador, que não deixou em nenhum momento a ideia de que teria sido o seu último jogo. Pode ter sido, é provável que não seja. Ainda assim, as coisas já não aparentam ser aquilo que foram durante vários anos.