“Estaremos à beira de algo muito mais sombrio do que a devastação que já se abateu sobre o povo da Ucrânia?”. Foi esta a questão levantada pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, numa peça de opinião publicada no POLITICO, onde abordou as parcerias entre a Rússia e os seus vários aliados asiáticos, e ainda a necessidade de aumentar os apoios militares cruciais para Kiev.

“Histórico, mas por todas as razões erradas”. O ex-primeiro-ministro neerlandês escreve que é a primeira vez que a Rússia convida forças militares estrangeiras com o objetivo de prestar serviços para o seu país. Para Rutte, a integração de soldados norte-coreanos nas brigadas russas é um evidente “sinal de desespero”. Considera ainda que os vários “fracassos” de Vladimir Putin ao longo dos dois anos de conflito só o tornaram mais dependente dos seus “amigos autoritários na Ásia” — China, Irão e Coreia do Norte.

“Depende da China para propulsionar a economia russa e ter acesso a tecnologias que sustentem o seu esforço de guerra. Depende do Irão para os drones e mísseis mortais que assassinaram e mutilaram tantos ucranianos. E depende da Coreia do Norte para milhões de munições, mísseis balísticos e agora tropas”, afirmou o secretário-geral, concluindo que Putin não está a conseguir atingir os seus objetivos estratégicos através da sua abordagem “ilegal e mal avaliada”.

“Esta expansão perigosa do conflito escala a guerra e demonstra que a nossa segurança não é regional, mas sim global”, referiu, focando as preocupações no aprofundamento das relações entre a Coreia do Norte e a Rússia. Com isto, Rutte lança um apelo à China, convicto que Pequim “tem a responsabilidade” de utilizar a sua influência em Pyongyang e Moscovo para assegurar o fim das operações militares. “Não podem continuar a fingir que promovem a paz enquanto viram a cara ao aumento da agressão”.

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Apoio económico e tecnologia militar, segundo Rutte, é a moeda de troca entre Vladimir Putin e Kim Jong-Un, para garantir que os 11 mil soldados norte-coreanos têm um papel no alívio das forças russas — e avança a perda de 1.200 militares da Rússia diariamente.

Zelensky: “Vemos um aumento de militares norte-coreanos, mas nenhum aumento na reação dos nossos parceiros ocidentais”

Relativamente ao papel do Ocidente na resposta contra as mais recentes atualizações do conflito, Mark Rutte revela que “desde o início da invasão da Rússia, os membros da NATO forneceram mais de 99% de todo o apoio militar à Ucrânia”. Adiantou, também, que o pacote de 40 mil milhões de euros, prometido em julho, deverá chegar a Kiev ainda este ano.

Apoio militar ocidental a Kiev deve manter-se em 40 mil milhões de euros por ano

Segundo o secretário-geral da NATO, ainda é preciso prestar mais apoio a Zelensky, de modo a poder alterar a trajetória do conflito. Adicionalmente, menciona a importância do “compromisso político” de todos os membros da Aliança, para “manter o rumo a longo prazo”. Rutte pede um reforço no investimento das relações com os “parceiros da região Indo-Pacífica”, que têm contribuído significativamente na sua causa comum.

Ajudar a Ucrânia custa apenas uma fração dos nossos orçamentos militares. É um pequeno preço a pagar pela paz”, refere.