Depois de se escusar a comentar o caso, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio agora pronunciar-se sobre o caso do navio suspeito de transportar material militar norte-americano para Israel e que o Governo autorizou que atracasse no Porto de Lisboa. “Com mais informação, logo verei se há ou não razão para me pronunciar”, afirmara o chefe de Estado este sábado à noite. “Poderei estar ou não preocupado, conforme a matéria que apurar”.

Já este domingo, em declarações em Vila Viçosa, no Alentejo, Marcelo Rebelo de Sousa acabou por falar sobre o assunto, ilibando Portugal de responsabilidades caso o navio tenha um histórico de transporte de armas para Israel. “Se há um ano, dois anos, três anos [o navio] fez outro tipo de transporte isso neste momento foge ao controlo português”, começou por dizer.

Confrontado com a permissão para o navio atracar no Porto de Lisboa e uma possível questão ética, o Presidente da República reduziu a questão à carga da embarcação. “A questão ética é obviamente o saber que o navio se pode apurar que não tinha nada naquilo que transportava, nem no que descarregou nem no que podia ter carregado, relacionado com armamento para um determinado país, nomeadamente Israel”, afirmou.

Questionado ainda sobre o facto de o navio seguir para outro país — onde deverá então carregar armamento para o estado israelita —, colocando Portugal no papel de facilitador da rota, Marcelo Rebelo de Sousa alegou a falta de provas da suspeição. “Isso não se sabe. Sabe-se que ele para cá carregou o que não era armamento e foi isso que o Governo explicou”, contestou.

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“Agora o que vai fazer daqui a três dias, dez dias, um ano, dois anos, no âmbito da atividade da empresa, Portugal na altura devida se encontrar razões para estar preocupado e considerar que é censurável pode então tomar medidas”, sublinhou. “Neste momento, o que me foi dito é que não havia justificação para tomar [medidas]. Informaram-me isto”, rematou.

Várias organizações apelaram este sábado ao Governo português para que revogasse a autorização da atracagem do navio Nysted MAERSK e proibisse o trânsito em mar português de navios que transportem armas para Israel. A denúncia partiu do Comité Nacional Palestiniano BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), que afirma que o navio esteve envolvido, durante meses, em mais de 400 transportes ilegais de armas para Israel, através do uso do porto espanhol de Algeciras. O Governo espanhol proibiu a utilização daquele porto e, por isso, a solução alternativa passou a ser Portugal.

Já depois de o Bloco de Esquerda ter questionando o Governo sobre a autorização dada para atracar, o Ministério das Infraestruturas e Habitação respondeu informando que não iria proibir a entrada do navio no porto de Lisboa, tendo em conta as informações que tinha obtido através do manifesto de carga e das declarações prestadas pelo armador e outras autoridades.

Segundo o ministério, o navio pediu autorização para atracar em Lisboa para descarregar 144 contentores, que incluem automóveis, roupa, alimentos, sementes, mobiliário, cerâmica, copos de vidro, champôs e sabões, quadros e pinturas, aparelhos elétricos, cabos de fibra ótica e diversos metais. O ministério garantiu ainda que não há “nenhum contentor com destino a Israel” e que, entre a carga que transporta e que não será descarregada em Portugal, estão “três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA”.