Os espaços moldam as pessoas e a arquitetura molda comportamentos. Esta é a simbiose de um trabalho ímpar que a consultora JLL tem vindo a desenvolver nos últimos quatro anos e que culminou recentemente com o evento “The Inclusive Workplace”, que contou com os exemplos pioneiros a nível de sustentabilidade e inclusão da Natixis Portugal e da Cofidis Portugal, a par da participação de Ana Gorriti, Director of DEI for the Built Environment Lead da JLL, e com organização de Caetano de Bragança, Head of Consulting da JLL Portugal.
Transformar os espaços de trabalho
As empresas estão a mudar, as marcas estão a mudar e a JLL segue a tendência ligada à sustentabilidade e à inclusão. Os clientes exigem e a JLL responde dentro de um novo conceito que procura o melhor espaço de trabalho possível para as empresas, e o espaço onde os colaboradores vão passar grande parte da sua vida.
Os novos desenhos, conceitos e obrigações respeitam os princípios da inclusão e da diversidade das pessoas no local de trabalho e nas acessibilidades. A rentabilidade é o desejo do empregador e do promotor, mas nada disso é possível sem os novos modelos de trabalho e de posicionamento da empresa e da marca. Passou a ser um requisito, para quem trabalha, que se sinta bem na empresa e com a empresa e, por isso, as iniciativas de âmbito social, voluntariado e inclusão são críticas no momento de decisão de escolha da empresa onde se quer trabalhar.
A JLL como consultora de projetos imobiliários, e através da sua participada Tétris, tem vindo a desenvolver conceitos novos onde planifica de acordo com o caderno de encargos do promotor e dono de obra, mas onde acrescenta o seu “toque de Midas” e que mais não é do que criar experiências de bem-estar para os colaboradores e visitantes e absorver a cultura e os conceitos de vivência da cidade, da rua ou do bairro onde está fisicamente. Os projetos da JLL para empresas de grande preocupação social a nível de inclusão, têm impacto no desenvolvimento económico das zonas e criam novos ambientes e novas centralidades. O desenvolvimento de conceitos pode começar numa folha em branco dentro de um ecrã assistido pelo software AutoCAD ou começar numa análise daquilo que o promotor já fez, mas onde quer fazer mais e melhor – e o design da JLL analisa e recomenda com base em princípios de integração social, responsabilidade social e sustentabilidade, quer a nível de consumos e matérias-primas, quer a nível da descarbonização do ambiente nas múltiplas formas possíveis.
Diversidade e inclusão: mais do que uma tendência
E se durante os dois últimos séculos aquilo que mais importava para o ser humano era a casa, hoje é o ambiente e a rua, diz Ana Gorriti. As ações sobre o espaço no âmbito da promoção da diversidade, equidade e inclusão são corporizadas através da conceção e implementação de uma estratégia DEI (diversidade, equidade e inclusão) nos edifícios, alinhadas com as políticas corporativas de cada empresa, e que poderá incidir em áreas como a acessibilidade física dos espaços, a inclusão etária e de corpo, a neuro diversidade e saúde mental, equidade de género, etnicidade e cultura, orientação sexual e identidade de género e, ainda a responsabilidade social e o sentimento de pertença.
Refere Caetano de Bragança que os estudos dos edifícios e das envolventes são executados de forma metódica e rigorosa e com esse objetivo a JLL tem vindo a implementar a Framework DEI. As boas práticas de espaços inclusivos, apresentado por Ana Gorriti, já foram implementadas em cerca de 35 países e aplicadas em mais de uma centena de edifícios ao longo dos últimos quatro anos. Com o Framework DEI, Gorriti concluiu que 93% das companhias têm uma estratégia social de valor, incidindo particularmente sobre as instalações próprias. A diversificação é importante junto das pessoas e dos espaços. A análise conclui ainda que 76% dos funcionários prefere trabalhar numa companhia de inclusão, sendo que um terço das empresas têm equipas étnicas diversificadas, e 41% tem o mesmo número de trabalhadores entre homens e mulheres. Ana Gorriti diz que quando se fala de espaços inclusivos, cerca de 45% dos casos estão ligados a acessibilidades físicas, à inclusão independente da idade, e casos inclusivos relativamente à orientação sexual, já que 8% a 10% da população está ligada ao movimento LGBT.
A inclusão reflete-se ainda nos temas de saúde mental, com 20% da população a sofrer do problema, a par da responsabilidade social e do belonging (sentir-se feliz integrado em grupo), da etnicidade e da cultura, e da equidade de género. O exemplo de acessibilidade física respeita ao acesso urbano para o escritório, aos itinerários verticais ou horizontais, aos corredores de evacuação, às casas de banho de género, à economia circular e à iniciativa de reciclar, à segurança de proximidade ou ao simples equipamento de escritório ajustável. Em termos de metodologia, o Framework DEI escolhe as prioridades e avança com a implementação. Em termos de boas práticas e nos casos estudados foram dadas prioridades a situações como os corredores de circulação, o equipamento nos WC e os espaços para amamentação. Refere a diretora da JLL que quando se olha para estes Frameworks numa escala global, percebe-se como é que as grandes empresas estão a tentar mudar os espaços. E, frisa Ana Gorriti que implementar mudanças na Europa nada tem a ver com outras geografias, caso do Médio Oriente.
Natixis e Cofidis: dois exemplos nacionais
Os exemplos da Natixis e da Cofidis a nível de diversidade, equidade e inclusão foram aplicados em soluções diferentes, um dos casos virado para dentro, para os seus funcionários e para a ligação trabalho/casa, e outro caso foi virado para fora, para a comunidade e para a participação na solução social de pessoas sem habitação e sem dignidade de vida. A Natixis Portugal, com sede no Porto, e apresentada por Nádia Leal Cruz, e que começou com o objetivo de empregar 600 pessoas e vai a caminho dos três mil, reformulou parte dos seus escritórios, com um conceito único e disruptivo ao apostar na representação da multiculturalidade para criar espaços para trabalho em equipa, denominado “Villages”.
O conceito de espaço inspira-se, de alguma forma, no espaço multicultural e multilinguístico de um aeroporto internacional e é composto por 13 zonas únicas que representam diferentes cidades ao redor do mundo, utilizando referências, e permitindo aos funcionários experienciar espaços que podem ser o seu país, pois a empresa tem 40 nacionalidades diferentes a trabalhar, sentindo a cultura e até os cheiros dento daquilo a que Nádia Cruz chama de experienciar uma cultura organizacional inclusiva e global.
O projeto das “Villages” feito com a Tétris e executado nas instalações do Campo 24 de Agosto, Porto, está numa zona que esteve ao abandono e que agora tem vindo a crescer. A pandemia foi critica no desenvolvimento do espaço e no modelo para cativar os colaboradores a regressarem ao espaço físico, e que de espaço de conveniência se tornou um espaço de experiência. Frisa Nádia Cruz que “esta experiência colaborativa, faz-se através da celebração das 40 nacionalidades. As “Villages” têm o seu próprio espaço com possibilidade de funcionarem em open space e servirem para pequenos “meeting points”. A viagem pelo “espaço de aeroporto” é um “conceito multissensorial com diversos efeitos de tato, sons e cheiros próprios”. O edifício está dividido em vários pisos para experiências em total imersão para team building. Nesta obra foram incluídos espaços icónicos, arvoredo, paisagens, plantas exuberantes, pedra, rocha, selva e floresta.
A Cofidis Portugal abriu-se à comunidade nas Natura Towers, em Lisboa, disponibilizando um café, um restaurante, duas pequenas lojas para exploração por associações de carácter social, promovendo uma integração entre projetos solidários, os seus colaboradores e a comunidade local. A Cofidis acolheu o Café Joyeux e dois projetos com a Associação Crescer. A ideia da habitação foi importada de França, concretamente do projeto Bureau du Coeur, cedendo duas lojas para a construção de pequenas unidades habitacionais que se destinam a pessoas sem abrigo, oferecendo-lhes um lar por períodos de seis meses, como explicou Laurence Facon, Director of Strategic, Transformation, Sustainability and Quality, e Isabel Paiva, Sustainability Manager, ambas da Cofidis Portugal. Refere Laurence Facon que a sustentabilidade “faz parte da transformação estratégica da empresa”, e essa sustentabilidade é ancorada na parte económica, humana e do ecossistema e absorve 25% a 30% do investimento da companhia. Frisa que possuem um edifício inovador, diversificado e inclusivo. Isabel Paiva salienta que essa inclusão percecionada pela comunidade significa que o ecossistema da empresa está junto da comunidade.
A empresa fez um desafio à JLL em 2019 para desenhar a estratégia de Workplace para as Natura Towers, acompanhando a transformação organizacional e sustentável, de onde resultou o objetivo de abertura do edifício ao exterior, e em 2022 tinham o projeto terminado, depois da pré-existência ter sido totalmente modificada por dentro. As Natura Towers que se localizam no bairro das Telheiras, próximo do Lumiar, em Lisboa, integraram espaços de restauração que permitiu incluir no mercado de trabalho pessoas com problemas cognitivos e em situação de vulnerabilidade. Facon conta a história do projeto Bureau du Coeur em que abriu dois espaços de lojas não ocupadas para criar dois apartamentos T0 que já abrigaram quatro hóspedes no último ano, pessoas que vieram da rua para casas de transição. Laurence Facon desafia cada empresa a ceder 20 m2 de espaço para resolver problemas de pessoas com necessidades. E conclui que “fazer inclusão e diversidade dá valor ao empresário”, nomeadamente ao nível da aproximação à comunidade e à melhoria da reputação.
Este artigo foi publicado no âmbito do projeto Rota Imobiliária, em parceria com a JLL: https://observador.pt/seccao/rota-imobiliaria/