Na última semana em que Lisboa foi a capital europeia da inovação e em plena Web Summit (que juntou na cidade portuguesa mais de setenta mil participantes oriundos de 153 países), a Rádio Observador fez uma emissão especial sobre a forma como a tecnologia e a inovação influenciam a vida dos cidadãos.
Foi no dia 14 de novembro, a partir de um dos palcos que Lisboa tem dedicado à inovação: a Fábrica de Unicórnios, no antigo bairro industrial do Beato. Um lugar a que o primeiro convidado do dia, Carlos Moedas, se referiu como “um exemplo de sucesso porque soube atrair grandes empresas internacionais e criou uma dinâmica nova na cidade.”
Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, não faltam casos, como este, que comprovam a capacidade de atração que a capital portuguesa hoje exerce: “Temos a BMW, que aposta na tecnologia portuguesa, o que era impossível há dez anos. Isto traz um capital de autoconfiança que muitas vezes nos falta”. Mas apontou ainda o caso da Microsoft, que acaba de abrir um espaço em Alvalade, dedicado à investigação na área da Inteligência Artificial. “Eu diria que há uma Lisboa que está à frente do nosso tempo e que tem um papel a desempenhar na área da inovação.”
O tema continuou em discussão no Contra-Corrente, em que José Manuel Fernandes e Helena Matos tiveram como convidados Pedro Santa Clara, Gil Azevedo e Paulo Dimas. Partindo da ideia de que a Europa, relativamente aos seus principais concorrentes (EUA e China, antes de mais), está a ficar para trás em tudo o que se relaciona com a Intelçigência Artificial, José Manuel Fernandes falou com Pedro Santa Clara, catedrático de Finanças da Nova SBE. Para o fundador da escola de programação 42 Lisboa, agora sediada na Fábrica de Unicórnios, na origem deste atraso, que também identifica, está “a falta de capital especializado e a fragmentação do mercado fragmentado. Estas são falhas europeias.” Gil Azevedo, diretor executivo da Fábrica de Unicórnios, acredita que este problema só se resolverá se “a Europa encarar de frente o desafio de desburocratizar para conseguir competir com os EUA, China e Médio Oriente”, questão que, acrescentou, foi identificada também no Relatório Draghi sobre a competitividade europeia, apresentado em Setembro passado.
Ainda neste Contra-Corrente dedicado à inovação e ao empreendedorismo, Helena Matos lembrou que “a inovação não é uma questão de haver muitos meios, mas do que se faz com eles”. E deu o exemplo das caravelas portuguesas dos séculos XV e XVI, muito mais bem sucedidas do que as concorrentes chinesas, apesar de o império chinês ser então muito mais poderoso e rico do que Portugal. Paulo Dimas recordou a importância da Inteligência Artificial no quotidiano do cidadão comum (“Os professores do Ensino Secundário gastam mais 12 horas por semanas em atividades que podiam ser automatizadas”, exemplificou), mas não deixou de salientar que esta “área precisa de muito mais investimento do que qualquer outro setor de investigação”.
O período da tarde começou com a apresentação de alguns projetos concretos, todos exemplos de inovação e empreendedorismo. Inês Carmo mostrou como a “sua” Class of Wonders, se propõe “reduzir a pobreza educacional de muitos alunos do primeiro e segundo ciclos do Ensino Básico, identificado pela UNESCO como um problema pedagógico em vários países, nomeadamente nas áreas da Leitura e da Matemática. Filipe Reina Fernandes, antigo oficial da GNR, contou como se tornou o fundador e CEO da Windcredible, startup especializada na produção de turbinas eólicas de várias dimensões para servir vários tipos de utentes, desde uma autocaravana a um edifício industrial ou um prédio de habitação na cidade.
Este painel encerrou com a discussão das questões de financiamento, com as participações de Ricardo Jacinto, manager da Shilling (o braço de capital de risco da Draycott) e Vasco Pereira Coutinho, CEO da Lince Capital. E, finalmente, porque não há inovação sem soluções eficazes de comunicação, Marisa Gomes, da Vodafone, falou dos laboratórios de investigação desenvolvidos pela empresa: o Powerlab, já com 15 anos de vida, e o Boost Lab, criado em contexto de pandemia: “Já apoiamos mais de cem startups portuguesas”, referiu.
A importância da tecnologia de ponta nas vidas de todos nós ficou evidenciada com a intervenção de Bebiana Moura, da Virtuleap. Esta empresa está a desenvolver soluções em realidade virtual para combater o “declínio cognitivo associado ao envelhecimento, mas também funciona com pessoas que estão a recuperar de Covid longo, AVC e certos tipos de cancro, ou tratamentos, que possam implicar perdas a este nível. Por sua vez, a estudante universitária Beanie Reis apresentou a Scraps, de que é CEO e diretora criativa. Este projeto, que integrou o programa de empreendedorismo da Fábrica de Unicórnios, propõe-se desenvolver uma aplicação para upcycling de roupa usada, envolvendo criadores e artesãos portugueses.
A emissão continuou com as habituais rubricas da tarde informativa, mas neste dia a partir do Beato. Judite França falou com o psicólogo Eduardo Sá (no programa Porque Sim não é Resposta) sobre a atração, nem sempre positiva, dos adolescentes pelo sonho do empreendedorismo, seguindo-se o Semáforo Político, com a presença da jornalista e dos habituais co-apresentadores, Miguel Videira e Vanessa Cruz. O diretor-adjunto do Observador, Pedro Jorge Castro, juntou-se à emissão. No Direto ao Assunto, participou a deputada da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, e a encerrar, no Tira-Teimas, Mariana Vieira Silva e Hugo Carneiro debateram o aumento (ou talvez não) de despesa do Estado.