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“Biden disse-me que se entrássemos em Gaza, estaríamos sozinhos”. Quase duas semanas depois das eleições nos Estados Unidos da América (EUA), Benjamin Netanyahu criticou a administração do ainda Presidente norte-americano relativamente às diferentes medidas defendidas pela Casa Branca em mais de um ano de conflito entre Israel e o Hamas.
No Knesset (parlamento de Israel), o primeiro-ministro israelita, citado pelo The Times of Israel, revelou as reticências da administração Biden sobre as incursões das Forças de Defesa de Israel (IDF) na Cidade de Gaza, em Khan Yunis e em Rafah: “Disseram-me que iriam parar a importação de armas importantes para nós. E pararam”. O jornal israelita relembra que, ainda assim, foi retida apenas uma entrega de armamento, composta por “bombas de 900kg”, ao longo do período de conflito com o Hamas.
Netanyahu falou também sobre as posições norte-americanas perante os ataques do Irão contra Israel, revelando ter sido aconselhado pela administração de Biden a “não responder”. “Disse-lhe que ficar sentado e não reagir era inaceitável e, por isso, respondemos”. Os EUA também impuseram um “ultimato” a Netanyahu, impedindo o ataque a “certos alvos” do programa nuclear iraniano. O chefe do Executivo de Israel adianta que as futuras ações contra estes alvos nucleares de Teerão serão “reavaliadas” em conjunto com a Casa Branca, mas apenas após a tomada de posse do Presidente eleito, Donald Trump, a 20 de janeiro de 2025. No entanto, confirmou que o ataque retaliatório de 26 de outubro “infligiu danos significativos contra a capacidade de produção de mísseis balísticos do Irão” e que atingiu componentes nucleares, apesar de não terem sido suficientes para “bloquear” o caminho iraniano até à produção de armamento nuclear.
Durante uma reunião com o comité parlamentar dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, o primeiro-ministro acrescentou ainda que Telavive está a negociar um acordo com o Hamas para a libertação dos reféns, reforçando estar à procura de trocar um número reduzido de reféns por uma quantia em dinheiro e uma saída segura de Gaza para os captores que tiverem a guardar os raptados. O Times of Israel escreve ainda que Netanyahu, juntamente com os seus conselheiros e membros dos serviços de segurança, estiveram “reunidos até às três da manhã a discutir novos métodos de recuperar os reféns”.
Sobre o futuro do conflito, Benjamin Netanyahu afirma que as forças israelitas fizeram um “progresso significativo” na destruição da capacidade militar do Hamas, mas apenas um “progresso parcial” relativamente às suas capacidades governativas. “Pedi às IDF que apresentassem um plano para erradicar a capacidade governamental do Hamas“, acrescenta, sublinhando querer garantir que este apoio não é pilhado pelo grupo palestiniano. Aos deputados israelitas, Netanyahu reitera que o Hamas insiste numa retirada integral das IDF em Gaza e que o grupo apoiado pelo Irão continue a governar o enclave. O primeiro-ministro reforça a sua posição e repete que não irá aceitar estes termos.
Porém, esta não é a única negociação em que Telavive está concentrada de momento. “O importante não é uma folha de papel“, indica Netanyahu relativamente a um possível acordo de cessar-fogo com o grupo xiita no Líbano. “De modo a poder garantir a segurança no norte, temos de tomar ações sistemáticas contra os ataques iminentes do Hezbollah”, diz o primeiro-ministro, apontando o seu objetivo de “prevenir a possibilidade de o Hezbollah reforçar o seu poder”. “Não vamos permitir que regressem ao estado em que estavam a 6 de outubro de 2023“, assegurou.
Benjamin Netanyahu recordou ainda a explosão de milhares de pagers no Líbano no fim do mês de setembro e admite que o plano original foi alterado “à última hora”. Inicialmente, as forças israelitas apontavam para outubro a operação que provocou a morte de doze pessoas e mais de três mil feridos em solo libanês. No entanto, “imediatamente após ter descoberto que este iria ser revelado”, o governante israelita decidiu colocá-lo em prática mais cedo. Revelou ainda que se opôs à partilha dos planos do ataque com os EUA, uma vez que “poderia gerar uma fuga de informação” — o que, na verdade, acabou por acontecer à mesma.
Como milhares de pagers explodiram em simultâneo nas mãos de militantes do Hezbollah?
O mesmo princípio foi aplicado na operação que resultou na morte do então líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah. Segundo Netanyahu, existiam duas dúvidas relacionadas com o plano: a possibilidade de escalada do conflito e a coordenação do ataque com os EUA. Sobre a primeira hipótese, o primeiro-ministro defendeu ser “completamente legítima” e que era normal que fosse uma questão importante. Porém, “com todo o respeito pelos amigos nos EUA”, Netanyahu revela que rejeitou o segundo ponto de discussão imediatamente. O debate sobre o tema continuou mesmo até à última Assembleia Geral das Nações Unidas, revela, citado pelo Times of Israel. “Duas horas depois [de ter aterrado em Nova Iorque] liguei ao ministro da Defesa e ao líder das IDF e disse-lhes que tínhamos de eliminar o homem”, afirmou o primeiro-ministro israelita, indicando que apenas um membro do Conselho de Segurança de Israel estava contra a operação, que decorreu não obstante a oposição. “E o resto é conhecido”.
Como Nasrallah tornou o Hezbollah um dos maiores inimigos de Israel e semeou o caos no Líbano